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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 07, 2011

Aprenda com Waack como tornar-se informante de governo estrangeiro



O caso da recente divulgação pelo site de documentos sigilosos Wikileaks de que  o jornalista Wiliam Waack atuava como uma espécie de consultor informal do Departamento de Estado norte-americano coloca  de imediato a seguinte indagação: como um jornalista chega ao ponto de colocar-se em contato com autoridades internacionais ou círculos de poder que estariam muito aquém da possibilidade de um profissional comum?
A princípio, para os mais desavisados, o acesso a grupos socialmente influentes por parte de jornalistas poderia ser interpretado como refletindo a competência profissional ou talento de quem o alcança. Algo como o caso do ex-presidente do Bradesco, Amador Aguiar, que havendo ingressado num banco como office boy chegou à presidência da Instituição.
Mas o profissional de imprensa não mexe com dinheiro nem com saberes de algum modo especializado que lhe permita diferenciar-se dos seus pares a ponto de chegar ao pináculo do mercado de trabalho em que atua apenas por mérito próprio.
 Lidam com informação, algo que nem eu nem você fazemos leitor, no esforço cotidiano de ganharmos o pão.  Porque ocupamo-nos com atividades produtivas, não nos é dado chegar antes que qualquer outro mortal à gênese de acontecimentos que influenciarão o destino de milhares senão milhões de pessoas.
Mas o jornalista tem essa oportunidade. E a cria à partir do contato, num primeiro momento, e a associação, logo em seguida, com um outro tipo de agente que tanto quanto ele tem na informação o recurso fundamental para a ascensão social e o enriquecimento rápido. Esse agente é o político, parceiro e verdadeiro sócio de negócios informais no tráfico da informação.
Eis o primeiro fator que faz um jornalista ascender dentro da emissora em que atua: o bom trânsito com políticos. E todos que chegam à posição que Waack chegou, começaram suas prestigiosas carreiras atuando como assessores de imprensa de algum político ou figurão do meio, para depois projetarem-se escada acima nas posições de maior visibilidade da empresa responsável pela telinha.
Lembre-se à propósito que Waack ele mesmo foi assessor de figuras influenciais do PSDB antes que chegasse, na voragem do governo FHC, à bancada de comentaristas da Rede Globo.
O segundo passo para se dar bem, uma vez articulado com políticos, é vender os frutos dos bons contatos que se tem no mundo da política dentro da emissora. Não apenas para alimentar o noticiário, como poderia pensar algum ingênuo, mas para conduzir dentro dela a ação de lobbies econômicos que cedo permita traduzir em polpudas contas publicitárias as amizades seladas em gabinetes e corredores do legislativo.
Imagine então que você leitor tenha contato com dado figurão da cena política e encontre-se na chamada zona do agrião (beirada do perímetro donde jogadores fazem cestas) de uma emissora de televisão.Naturalmente lá colocado talvez pelas mãos pouco desinteressadas desse mesmo político, pelas quais também passaram muitos temas de interesse do grupo de comunicação que o contratou.

Não devemos nos esquecer de que o objeto de exploração comercial desse tipo de negócio, a comunicação, é uma concessão pública e, portanto, altamente dependente de regulações controladas por políticos.
Pois bem, como o mesmo político negocia de modo contumaz com grandes empresas que estão sempre interessadas em descobrir formas de interferir em decisões de governo que as favoreça ou que no mínimo não as prejudique, fica fácil para ele político encaminhar os dirigentes dessas empresas para o departamento comercial da emissora, com o propósito de acertar uma boa campanha publicitária.

O diretor comercial da emissora, por sua vez, grato pelo faturamento, haverá de recomendar você ao diretor de jornalismo que se esforçará por gratificá-lo por cada anunciante carreado  à área comercial. Sim, uma espiral ascensional de felicidade com a qual, por infelicidade, você apenas poderá sonhar.
Nesse toma lá dá cá, chegamos ao último elo da cadeia de tráfico de influência de que se alimenta o inicialmente humilde jornalista, agora já bem sucedido apresentador, até que veja sua influência na emissora de TV  crescer na exata proporção da remuneração e dos espaços que consegue abrir à fortiori (e por causa disso) em instituições governamentais nacionais e internacionais.

 Afinal, não se deve deixar escapar que quando no estágio mais avançado da carreira é ele apresentador que decide quem irá participar dos programas televisivos, quais temas serão enfocados e como serão abordados.
 É desse modo que não há como deixar de concluir que se valem de práticas excusas aqueles que gritam contra a corrupção todos os dias nas bancadas de telejornais noturnos. Vendem por preço módico aquilo que informam a você ao mesmo tempo em que intermedeiam os interesses do político em busca de ganho fácil, do empresário sequioso por lucro e da direção da emissora pronta a faturar com novos anúncios.
Somos nós os bobalhões desse noticiário de mau gosto. Ou acha que os Waack, Sardemberg, Leitão, Merval e “tutti quanti “vivem de salários como vivemos eu e você? 
*Brasilquevai

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