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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 26, 2012

Esses argentinos só me envergonham

Via BBC Brasil
Atletas olímpicos argentinos aparecem em campanha para identificar filhos de desaparecidos
Marcia Carmo

Campanha com participação de atletas olímpicos argentinos
Mensagens de TV e rádio foram gravadas pouco antes de embarque para Londres
Atletas argentinos que disputarão os Jogos Olímpicos de Londres participam de uma campanha da entidade de defesa de direitos humanos Avós da Praça de Maio que busca identificar filhos de desaparecidos políticos durante o regime militar no país (1976-1983).
A entidade estima que mais de 500 bebês tiveram a identidade trocada naquele período, após terem sido sequestrados pelos militares. Segundo dados da ONG, 105 pessoas já tiveram sua verdadeira identidade "restituída".
Cinco atletas argentinos gravaram os spots de televisão e as mensagens de rádio pouco antes de embarcar para Londres, segundo disseram à BBC Brasil assessores da entidade com sede em Buenos Aires.
Na mensagem, os atletas falam, de forma didática, sobre o que ocorreu no país: "Queria te contar que houve uma ditadura na Argentina que roubou centenas de bebês. Hoje já são adultos. Mas cerca de 400 pessoas ainda não conhecem suas verdadeiras identidades. Se você conhece alguém que possa ser filho de desaparecido ou se você tem dúvidas sobre sua própria identidade, procure as Avós da Praça de Maio. Estamos te esperando", dizem.
Campanha
A campanha, chamada de "Los Olimpicos com las Abuelas"(Os atletas olímpicos com as avós), começou a ser veiculada esta semana e continuará no ar até o fim do Jogos, em agosto.
Os atletas que gravaram a campanha são o técnico das "Leonas" (como é conhecido o time feminino de hóquei), Carlos Retegui, o lançador de dardo Braian Toledo, o jogador da seleção de vôlei Facundo Conte, a judoca Paula Pareto e o velejador Julio Alsogaray.
Pareto, Conte e Toledo nasceram nas décadas de 80 e de 90, quando a Argentina já vivia em democracia.
Não é a primeira vez que as Avós da Praça de Maio envolvem esportistas em suas campanhas para localizar os filhos de desparecidos políticos.
Em diferentes ocasiões, em partidas decisivas, jogadores de futebol entraram em campo com uma faixa que dizia: "Vos sabes quién sos?" ("Você sabe quem é? Procure as Avós da Praça de Maio").
A entidade possui um banco de dados que permite a identificação biológica de filhos de desaparecidos políticos.
Para as Avós, que são mães de desaparecidos e que também procuram os netos, os sequestros eram planejados e ocorriam, muitas vezes, logo após o nascimentos dos bebês em pleno cativeiro.
*GilsonSampaio

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