Filas, bagunça, desinformação, congestionamentos
monstruosos, preços inadmissíveis, ameaças de greve e protestos, superfaturamento
e ilegalidades múltiplas, brutalidade policial, grosseria de funcionários. Nada
mobiliza o senso crítico do jornalismo brasileiro, incapaz de cobrir os Jogos Olímpicos britânicos sob os mesmos rigores que reserva aos eventos brasileiros.
Intempéries que no Rio de Janeiro (ou numa capital
administrada por petistas) seriam chamadas de “apagão”, “caos”, “colapso” e outros
substantivos marcantes de uso oportuno, na ilha viraram percalços menores,
compreensíveis, talvez mesmo causados pelas hordas incivilizadas que
teimam em poluir terras tão soberbas com seu terceiro-mundismo feio.
Agora descobrimos que até a prerrogativa muito
básica e individual de escolher as próprias vestes será violada pela patrulha a
serviço dos conglomerados financeiros que monopolizam a festa. Estão proibidas
mensagens políticas, nacionais e comerciais que desagradem os patrocinadores
dos Jogos. As empresas decidem que roupas os espectadores usarão. Não pode vestir
camiseta com a foto do Che Guevara. Mas e a do palhaço Bozo, pode? A da rainha
chupando sorvete?
Os bravos comentaristas tupiniquins, embasbacados
com toda aquela (falsa) assepsia construída a porrete, acham pouco e bom. Seu
comportamento apenas em parte é fruto do fascínio típico dos turistas festivos –
bastante fiel, aliás, ao provincianismo que caracteriza a análise esportiva das
capitais. A fantasia da superioridade gringa, aliada à do nosso fracasso
inexorável, segue também motivações menos lisonjeiras: trata-se de uma espécie
de vingança despeitada contra a realização dos Jogos e da Copa no Brasil,
vitórias políticas de Lula (e do país) que a imprensa oposicionista jamais engoliu.
Entre o ufanismo tolo e a autodepreciação jeca,
talvez sobre algum espaço para a simples fruição do espetáculo.
*GuilhermeScalzzi
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