Em Berlim, Lula revela conversas reservadas com líderes mundiais
POR BOB FERNANDES
Em encontro com representantes da social democracia nesta
sexta-feira, 07, em Berlim, o ex-presidente Lula revelou detalhes de
algumas das suas conversas reservadas com líderes mundiais no tempo em
que estava na presidência. Abaixo, relato do que foi dito por Lula:
”Vamos pegar o cara do Irã, que eu participei ativamente. O
cara do Irã. Eu saí do Brasil e fui ao Irã. Contra a vontade de todo
mundo… da minha companheira Angela Merkel, do companheiro Obama, do
companheiro Sarkozy, do companheiro Medvedev, do companheiro…… eu estava
convencido que era possível convencer o Irã a assinar o documento que a
Agência (Internacional de Energia Atômica) precisava… e eles me diziam
assim “Lula, você é um ingênuo, você está acreditando no Ahmadinejad e
ele não está falando a verdade…”. Eu falei, “eu sou ingênuo, mas eu
acredito na política".
Uma vez, na reunião de Princeton, perguntei:
- Obama, você já conversou com Ahmadinejad?
- Não.
- Sarkozy, você já conversou com Ahmadinejad?
- Não.
- Angela Merkel, você já conversou com Ahmadinejad?
- Não.
- Gordon Brown, você já conversou com Ahmadinejad?
- Não.
- Berlusconi, você já conversou com Ahmadinejad?
- Não.
- Ora, se ninguém tinha conversado com o cara, que diabo de política é essa?
(Gargalhadas e aplausos).
Prosseguiu Lula:
-Antes do Irã, passei em Moscou para conversar com o presidente Medvedev. Chego em Moscou e o presidente Obama tinha ligado para Medvedev:
- Olha, diga para o Lula não ir ao Irã porque ele não vai fazer acordo. Ahmadinejad não cumpre acordo…
Aí, passo no Qatar e o emir do Qatar recebeu um telefonema da secretária de Estado dizendo:
- Olha, diga para o Lula não ir, ele está sendo ingênuo, ele não pode ir porque o Irã não vai.
Eu fui… chegamos no Irã e eu fui conversar com o grande líder
Kaminey, fui conversar como presidente do parlamento, e fui conversar
com Ahmadinejad e falei com todas as palavras:
- Ahmadinejad, eu estou vindo aqui, os meus amigos estão
brigando comigo, (e aí eu citei o nome de cada presidente), a imprensa
brasileira está me batendo há uma semana e eu não saio daqui sem uma
acordo…
(Risos da plateia)
- Não, mas Lula, você pode sair que eu concordo.
- Olha, tem de escrever. (Risos da plateia) Sabe por
que tem de escrever, Ahmadinejad? Sabe o que eles pensam de você? Eles
pensam que você é mentiroso e não cumpre a palavra… então, eu só saio
daqui com uma documento escrito.
Qual não foi minha surpresa, e quando eu pensei que o conselho
de segurança da ONU iria me dar um prêmio de agradecimento (Risos da
plateia), eles deram a maior demonstração de ciúme do mundo e ainda
assim resolveram punir o Irã. Ainda bem que a imprensa democrática do
mundo publicou uma carta, que o presidente Obama tinha me mandado,
dizendo quais as condições que eles aceitavam e o Ahmadinejad aceitou
exatamente as condições que estava na carta. E ainda assim, eles fizeram
retaliações com o Irã, não aceitaram o documento…
Então, o que eu percebi: eu percebi uma coisa que eu vou dizer
com a maior sinceridade, eu acho que tem gente no mundo que não quer
paz, quem quer paz é o povo. Mas tem quem precisa da discórdia,
necessita da discórdia pra poder ser importante, senão, não teria
nenhuma explicação a gente não ter paz no Oriente Médio. A mesma ONU que
criou o estado de Israel porque não cria o estado Palestino?
(Aplausos da plateia).
Lula iniciou sua fala de 8 minutos dizendo o seguinte:
“Eu queria só lembrar uma coisa. Nós criamos o G-4; Brasil,
Alemanha, Japão e índia. O que aconteceu? A Itália não quer que a
Alemanha entre no Conselho de Segurança (da ONU). A China não quer que o
Japão entre no Conselho de Segurança. Todo mundo defendia que o Brasil
deveria entrar, mas não entrou. Ou seja.. dizem que não tem reforma das
Nações Unidas porque qual é o país da África que vai entrar?
Olha, vamos ser francos…tem três 54 países na África…você tem
três países importantes, grandes, com grande população…. África do Sul,
Nigéria e Egito, por que não entra os três? Porque que não entra Brasil
e México? Qual é o problema? O problema é que quem tá lá não quer
repartir o poder. Essa é a verdade. É muito cômodo do jeito que tá.
Então, o Brasil está disposto a se engajar, o Brasil está no Haiti já há
bastante tempo.
Se dependesse de mim quando estava na Presidência eu teria
retirado o Brasil do Haiti, não tiramos porque o presidente Préval pediu
pra gente ficar, e nós ficamos lá e o Brasil presta um grande serviço. O
dia que tiver no Haiti um sistema de segurança que diga que o Brasil
não precisa ficar mais lá, nós traremos a nossa tropa. Agora, o que não
dá é pra gente trabalhar com base em mentiras. Não dá. Ou seja, cadê as
armas químicas do Iraque? Cadê? Se contou uma mentira pra humanidade, em
toda essa mentira se invadiu um país…o que aconteceu?
*Terramagazine
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