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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Desespero: Mídia brasileira vai a Argentina pressionar contra democratização da comunicação


Mídia brasileira vai a Buenos Aires pressionar contra Lei de Meios. Abert e outras entidades estrangeiras da mídia tradicional se reúnem na capital argentina com grupos locais para atacar projeto que democratiza comunicações naquele país

Entidades internacionais de empresários de rádio e televisão da mídia tradicional foram chamadas a Buenos Aires para pressionar contra o chamado 7D, uma data decisiva para a implementação da Lei de Meios Audiovisuais da Argentina. Uma reunião na próxima segunda-feira (10) contará com a presença de representantes da Associação Internacional de Radiodifusão e da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), famosa pela oposição que faz aos projetos que visam à desconcentração dos meios de comunicação. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) também enviará representantes para o encontro, que será realizado no centro da capital.
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Ley de Medios é passo fundamental para a democratização da comunicação e tem respaldo popular na Argentina e em outros países da América do Sul. No Brasil, as poucas famílias que monopolizam a comunicação estão temerárias. (Grifo: Pragmatismo Político. Foto: Divulgação)
A RBA obteve a informação de que o documento de rechaço ao 7D começará a ser produzido no sábado pelas entidades locais, a Associação de Teleradiodifusoras Argentinas (ATA) e a Associação de Radiodifusoras Privadas Argentinas (ARPA). O tom do manifesto, porém, será definido apenas depois da meia-noite de sexta-feira (7), quando se terá uma ideia do que efetivamente irá ocorrer. Os empresários do setor têm incertezas quanto àquilo que pode fazer o governo frente a um quadro de indefinição jurídica.
O problema é que caduca na sexta o prazo que a Suprema Corte deu a uma liminar que desde 2009 proíbe a aplicação dos mecanismos anticoncentração de mercado no caso do Grupo Clarín, o maior conglomerado midiático do país. Na visão dos empresários, o fim da vigência da liminar não autoriza o Executivo a colocar as concessões de rádio e TV do Clarín à disposição, como tem prometido a Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca), responsável por regular a aplicação da lei.
Há poucos dias, a Suprema Corte determinou que o juiz de primeira instância, Horácio Alfonso, julgue rapidamente o mérito da questão, dando fim a uma situação que deveria ser provisória, já que é este o caráter de uma liminar. Ao mesmo tempo, os magistrados esperavam que a Câmara Civil e Comercial se manifestasse sobre a possibilidade de prorrogar em alguns meses a validade da medida cautelar, o que parecia sensato aos olhos dos empresários da comunicação, já que Alfonso deu a entender que se manifestará em no máximo 60 dias sobre o mérito da ação movida em 2009.
Segundo informações obtidas pela RBA, mesmo os empresários que aceitaram se adequar à Lei de Meios têm sentido que o governo está exagerando quanto a esta questão. A fixação da data do 7D e a necessidade de que ocorra algo efetivamente estaria levando a Casa Rosada a agir com muito ímpeto para evitar uma protelação breve, de dois ou três meses, que levasse a uma decisão mais sólida. Estes mesmos empresários veem a falta de vontade do governo em aplicar outros aspectos da Lei de Meios como outra evidência de que o verdadeiro motivo seria o enfrentamento ao Clarín.
O que o processo movido logo após a sanção da legislação conseguiu foi frear a aplicação do artigo 161, que dá prazo de um ano para que todos os grupos de comunicação que tenham concessões de rádio e TV em excesso apresentem um plano de adequação. Ocorre, porém, que a Câmara Civil e Comercial está há meses sem quórum por oposição do governo de Cristina Fernández de Kirchner, que passou a bloquear a indicação de magistrados que considera afins ao grupo midiático.
Nos últimos dois dias, o governo apresentou pedidos de recusa de quatro nomes indicados pelo Judiciário para recompor a Câmara. Na terça-feira, os juízes Francisco de las Carreras e Gabriela Medina tiveram as nomeações protestadas pelo Executivo por supostas ligações pessoais com o Clarín. Ontem de manhã, a Casa Rosada se opôs às indicações de Francisco Recondo e de Francisco de las Carreras. A Recondo acusam de haver favorecido o conglomerado em uma decisão, e De las Carreras teve uma viagem a Miami paga por uma empresa que teria entre os sócios dirigentes do Clarín.
“As resoluções da Câmara Civil e Comercial foram adotadas com grande velocidade e são passíveis de serem contestadas por revogatória e por nulidade”, explicou o ministro da Justiça, Julio Alak, abrindo um novo front de bate-boca midiático com o grupo de comunicação. “Faltam apenas dois dias para o 7 de dezembro. Os argentinos estão, com entusiasmo e expectativa, para que se aplique esta lei”, acrescentou. “A possibilidade de que a sala 1 da Câmara Civil e Comercial pretenda estender a cautelar para além de 7 de dezembro seria uma rebelião contra uma lei da Nação e um pronunciamento da Corte.”
O Clarín também elevou o tom. Durante todo o dia, estampou a história no topo de sua página na internet, acrescentando tratar-se de um fato inédito na democracia a recusa dos juízes indicados para a Câmara Civil e Comercial. Em nota, o grupo reiterou que está sofrendo “denegação de Justiça” ao se aplicar a Lei de Meios sem que uma ação sobre seus negócios tenha sido julgada no mérito. Trata-se de um expediente que prepara o caminho para uma eventual corrida à Corte Interamericana de Direitos Humanos, vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA).
O conglomerado acusou ainda o governo de desrespeitar a separação dos poderes e de trabalhar desde o começo pela máxima protelação de uma decisão judicial definitiva, ameaçando a democracia. “O desafio da divisão de poderes, base do sistema republicano, poucas vezes chegou tão longe”, concluiu a nota.
Fechando uma onda de ataque e contra-ataque, a Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca), responsável pela implementação da Lei de Meios, comunicou que o sócio do Clarín em uma de suas várias empresas apresentou uma consulta para a adequação. A companhia norte-americana Fintech Advisory apresentou a ideia de que o Clarín se desfaça de sua participação acionária, hoje em 60%, sobre a Cablevisión, empresa de televisão por cabo que não pode mais ser mantida pelo gigante midiático, segundo os novos regulamentos.
A Afsca esclareceu, porém, que apenas o controlador de uma corporação, neste caso o Clarín, pode apresentar um plano de adequação. Na última nota do dia, a empresa manifestou que não dá aval à proposta feita pelo minoritário e que vai esperar uma decisão judicial definitiva sobre a Lei de Meios.
João Peres, Rede Brasil Atual
do Blog Pragmatismo Politico
*cutucandodeleve

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