Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, dezembro 08, 2012

Rachel Sheherazade é a Silas Malafaia de saia

Rachel Sheherazade faz comentário sobre estado laico e promove espetáculo de pérolas. As aulas de história passaram longe da apresentadora

A apresentadora evangélica Rachel Sheherazade (foto), do SBT Brasil, acusou na última semana os defensores do Estado laico de “intolerantes” por “voltarem sua ira contra a minúscula citação ['Deus seja louvado'] nas notas do real”.
rachel sheherazade estado laicoAs aulas de história passaram bem longe de Rachel Sheherazade. (Foto: Reprodução / SBT Brasil)
Para ela, os laicistas estão perseguindo o cristianismo, porque querem acabar com o ensino religioso e tirar o crucifixo das repartições públicas.
A apresentadora disse que os defensores do Estado laico são ingratos para com o cristianismo, que, segundo ela, é o responsável por princípios como liberdade, honestidade, respeito e justiça.
Que a apresentadora Rachel Sheherazade metida a Boris Casoy é péssima, isso já é sabido. Os comentários dela são, em sua gigantesca maioria, infelizes, sem nenhum conteúdo ou profundidade.
E agora está se mostrando uma Malafaia de saia!
Primeiro, é mentira que “laicistas” (como se fosse um grupo formado) perseguem o cristianismo. Não há uma única evidência disso. Ela alega isso para se fazer falsamente de vítima. Pura tática fundada na falácia ad terrorem. Se foi o Cristianismo que pariu a noção de igualdade social, então ela vai ter que explicar por que a Revolução Francesa não partiu de iniciativa cristã, muito pelo contrário, sendo inspirada por obras seculares como a Encyclopédie, a primeira enciclopédia do mundo, organizada pelos ateus Diderot e D’Alembert.
Leia também
Segundo, as aulas de história passaram longe dela. Mas bem longe mesmo! O cristianismo não deu base nenhuma de respeito, liberdade, honestidade e justiça.
Durante a idade média, era justamente o contrário que acontecia na maioria das vezes. A separação entre Estado e religião quem deu base para a maioria das liberdades, inclusive de jornalismo e profissão – que ela exerce.
Fosse a “liberdade” cristã, ela teria que pedir permissão ao marido para exercer a profissão dela, pois seria considerada incapaz pela lei civil (como vigorou até depois da metade do século passado).
Na escola ninguém aprende o mínimo sobre laicidade, Rachel Sheherazade é só mais um dos sinais da pobreza da educação nessa área. Fica a pergunta: se é desimportante a frase no dinheiro, por que tanto barulho sobre a tentativa constitucionalmente correta de retirá-la?
Por que o procurador CATÓLICO que propôs a retirada da frase foi ameaçado de morte? Temos uma turba de teocratas que querem empurrar seu cristianismo goela abaixo em todos neste país, e esse autoritarismo começa justamente em coisas pequenas como frases no dinheiro e crucifixos em tribunais.
É a segunda vez que a jornalista, nessa mescla de jornalismo amador brasileiro entre notícia e opinião, perde totalmente a noção do que fala quando se trata de convivência do Cristianismo com outras crenças no Brasil. Outra ocasião em que ela fez isso foi quando os tribunais gaúchos corretamente retiraram crucifixos de suas dependências.
Terceiro, se isso fosse verdade, ela teria aprendido, como cristã, a respeitar a laicidade do Estado, por justamente ser corolário das liberdades religiosas. E ela não respeita!
Quarto que não precisa de emenda para retirar da expressão “deus” do preâmbulo da Constituição. Falou, mais uma vez, algo que não sabe. O preâmbulo não faz parte do corpo constitucional, portanto, não é passível de ser emendado.
Quinto que o Procurador está fazendo coisa bem mais útil que ela! Ele não está aplaudindo atos ilegais e inconstitucionais praticados pelo Sarney como a apresentadora fez!
*Pragmatismopolítico

Nenhum comentário:

Postar um comentário