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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 07, 2013

Via Contexto Livre
A Marijuana é uma droga polêmica. É demonizada por alguns como porta de entrada a outras drogas, e, por outro lado, também é celebrizada por sua promessa em aplicações médicas. Enquanto o júri não se decide por nenhum dos lados da moeda, uma coisa é certa: o uso dessa droga está em ascensão. De acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, o número de pessoas que, nesse país, admitem ter experimentado maconha no último mês subiu de 14,4 milhões em 2007 para mais de 18 milhões em 2011.
Esse aumento pode ser devido, em parte, à falta de evidências fortes que suportem os riscos que se suspeita serem causados pela Cannabis. De fato, de maneira similar ao fumo do tabaco, embora a fumaça da marijuana contenha substâncias cancerígenas e alcatrão, inexistem dados conclusivos que possam ligar a maconha a danos nos pulmões. Um recente estudo de longo prazo, que, aparentemente, parecia ligar conclusivamente o uso crônico da maconha na adolescência com o baixo Q.I. de consumidores neozelandenses, foi rapidamente contestado por uma contra-análise que apontava razões de status socioeconômicos como um fator de confusão. De acordo com o levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o uso da Cannabis entre os adolescentes têm aumentado na proporção em que os baixos riscos da marijuana têm sido percebidos; e os pesquisadores – e sem dúvida os pais também -, estão ansiosos para que se chegue mais ao fundo a questão.
Respire Fundo
Em 2012, um estudo realizado na Universidade da California, San Franciso (UCSF) calculou que fumando apenas um baseado a cada dia por 20 anos a maconha pode ser benigna, embora a maioria dos participantes fumasse dois ou três e baseados por mês. O epidemiologista Mark Pletcher, quem liderou o estudo, alegou: “Eu fiquei surpreso que não vimos efeitos (do uso da maconha)”.
Uma avaliação de vários estudos epidemiológicos aponta para um tamanho de amostra pequeno e estudos pobremente projetados como as razões para os cientistas serem incapazes de se comprometerem com a alegação da ligação entre a Cannabis e o risco de câncer. Por exemplo, um estudo de 2008 sugeriu que fumar marijuana poderia reduzir o risco associado ao câncer de pulmão derivado do tabaco, demonstrando que consumidores tanto da marijuana quanto tabaco têm um risco menor de câncer do que aqueles que fumam somente tabaco (embora o risco seja maior do que para os não fumantes). Entretanto, Pletcher não é otimista sobre os efeitos da maconha sobre os pulmões, e desconfia que ainda possa haver danos ao pulmão por efeitos de longo prazo que podem ser difíceis de detectar. “Nós realmente não podemos tranquilizar-nos acera do uso intenso”, explicou o cientista.
Seu cérebro sob efeito de drogas
Existem algumas evidências sugerindo que pessoas intoxicadas assumem mais rscos e apresentam comprometimento na tomada de decisão, bem como resultados piores em tarefas dependente da memória – e deficiências residuais (após consumo) têm sido detectadas dias ou mesmo após semanas após o uso. Alguns estudos também relacionam o consumo regular da marijuana com déficits de memória, aprendizado e concentração. Um recente estudo amplamente discutido sobre o Q.I. de neozelandenses acompanhou consumidores da Canabbis, desde o nascimento, e mostrou que os usuários consumidores a partir da adolescência tiveram valores mais baixos de Q.I. que os não usuários. Nesse estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de Duke, “você pode ver claramente que como consequência do uso da maconha, o Q.I. diminui”, disse Dekir Hermann, um neurologista clínico do Instituto Central de Saúde Mental na Alemanha, e que não esteve envolvido diretamente na pesquisa.
Entretanto, não menos que 4 meses depois, uma re-análise e simulação computacional realizada pelo Centro Ragnar Fisch de Pesquisa Enocômica em Oslo contrariou os dados divulgados pela Universidade de Duke. Ole Rosberg sustentou que fatores socioeconômicos – e não o uso da marijuana -, contribuíram para os baixos Q.I. observados em usuários da maconha.
No entanto, a conclusão de Rogerberg pode ser contrariada por uma literatura considerável que suporta a ligação entre o uso da maconha e o declínio neurofisiológico. Estudos em seres humanos e animais sugerem que indivíduos que adquirem o hábito de consumir marijuana na adolescência enfrentam impactos negativos no funcionamento do cérebro, e alguns usuários encontram dificuldades para se concentrar e aprender novas tarefas.
Embora a maioria dos estudos sobre esse assunto sugere haver consequências negativas do consumo enquanto adolescente, os usuários consumidores a partir da idade adulta geralmente não são afetados. Segundo explica Hermann, isso pode ser devido a uma reorganização dirigida pels endocanabinóides presentes no cérebro durante a puberdade. A ingestão de canabinóides que se adquire com o uso da maconha pode causar um “um deturpamento do crescimento neural irreversível” disse ele.
Além das consequências na inteligência, muitos estudos sugerem que fumar marijuana aumenta o risco de esquizofrenia, e pode ter efeitos similares no encéfalo. O grupo de Hermann usou a técnica de imageamento por ressonância magnética para detectar danos associados ao consumo da cannabis na região pré-frontal do encéfalo e encontraram modificações similares àquelas vistas em pacientes com esquizofrenia. Outros estudos sugerem ainda que os esquizofrênicos consumidores da erva têm maiores mudanças no encéfalo associadas à doenças e um desempenho pior em testes cognitivos do que aqueles não fumantes.
Porém muito dessa pesquisa não é capaz de distinguir entre mudanças no encéfalo causadas pelo uso da marijuana e sintomas associados com a doença. É possível que os esquizofrênicos consumidores da maconha “possam apresentar sintomas desagradáveis (que precedem o quadro clínico da doença) e estejam automedicando-se” ao fazerem uso do efeito psicotrópico da droga, disse Roland Lamarine, professor de saúde comunitária da California State University. Ainda segundo ele, “nós não vimos uma elevação no número de esquizofrênicos, mesmo com o aumento de usuários da maconha”.
Outras pesquisas sugerem que o consumo da Cannabis entre os esquizofrênicos fez com que eles obtivessem melhores pontuações em testes cognitivos do que os esquizofrênicos não consumidores da droga. Esses relatos conflitantes podem ter ocorrido em virtude de diferentes concentrações – e diferentes efeitos -, dos canabinóides presentes na maconha. Além do tetrahidrocanabinol (THC), um canabinóide neurotóxico responsável pelas propriedades de alteração de estados mentais, a maconha também apresenta uma variedade de outros canabinóides não psicoativos, incluindo o canabidiol (CBD), o qual pode proteger contra a lesão neuronal. Hermann descobriu que o volume do hipocampo – a região do encéfalo importante para o processamento de memória – é um pouco menor em usuários de maconha do que em não usuários, porém o consumo da maconha com maior quantia de CBD balanceava esse efeito.
Um coquetel mortal?
Embora os dados que suportem os efeitos nocivos da marijuana sejam fracos, alguns pesquisadores estão mais preocupados com a droga em conjunto com outras substâncias, como o tabaco, o álcool e a cocaína. Alguns estudos sugerem, por exemplo, que a maconha pode aumentar o desejo por outras drogas, levando, dessa forma, a má fama de droga como “porta e entrada”. Um estudo publicado no início do mês de Janeiro apoiou essa hipótese ao mostrar que, pelo menos em ratos, a exposição ao THC aumenta os efeitos viciantes do tabaco. Além disso, a marijuana pode não ser compatível com outras drogas de prescrição médica, pois pode induzir o fígado a metabolizar medicamentos de forma mais lenta; portanto, aumentando o risco de toxicidade.
Apesar dessas preocupações, Lamarine sustenta – em virtude da quantidade de pesquisa focado nesse assunto -, ser pouco provável as consequências do uso maconha serem calamitosas. Arremata dizendo: “Nós não vamos acordar amanhã e nos depararmos com a grande descoberta que a maconha causa grandes danos ao encéfalo. Se assim fosse, já teríamos visto isso a essa altura”.
Sabrina Richards
Do The Scientist
Tradução Cicero Escobar
No Bule Voador
*AmoralNato

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