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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 15, 2013

A tarifa e a crise do sistema


Por Poeta Sem-Teto

Todo dia o peão pega o busão para ir trabalhar e ser explorado pelo patrão. Já seria um fardo, mas tem um agravante: a passagem. Ela é cara, e, em um valor - apenas hipotético, claro - de 3,20 consome 128 reais ao fim do mês. Algo como 20% de um salário mínimo. 

Todo dia o estudante pega o busão para ser bombardeado por matérias sem sentido, para ou estudar que nem um condenado para passar em uma prova sem sentido para entrar em uma universidade, ou para ir à universidade ser formado como força de trabalho da qual se explora mais-valia.

É essa a exploração a que os trabalhadores e estudantes do Brasil estão, há anos, submetidos. 

No início de 2013, uma rebelião popular  na cidade de Porto Alegre barrou uma tentativa da prefeitura de aumentar a tarifa. Isso teve um impacto enorme em toda a massa brasileira, que é explorada pelo sistema. Logo, os estudantes começaram a se articular para - tentar - fazer o mesmo. Mas o estopim ainda não havia chegado.

A presidenta Dilma havia sugerido às prefeituras que o aumento de tarifas só ocorresse nos meios de ano, e as prefeituras aceitaram. O mês de Junho chegou e, com ele, os aumentos de tarifas! Assim, por culpa de Dilma, todas as juventudes estudantes e trabalhadoras se articularam ao mesmo tempo: em Goiânia, Rio, Curitiba, São Paulo, Natal, Niterói, etc os jovens saíram às ruas exigir seus direitos de, pelo menos, irem trabalhar/estudar sem ter que pagar nada. 

No momento em que escrevo, quatro cidades conseguiram barrar o aumento: Porto Alegre, Taboão da Serra, Natal e Goiânia. No momento em que escrevo, a repressão policial foi brutal em Sampa: a polícia sitiou a Av Paulista e jogou bombas de gás lacrimogêneo (fora da validade, ou seja, podiam matar) em manifestantes que bravavam "sem violência!".


O que esses fatos representam? A resposta é bastante simples: a massa operária, estudante e explorada resolveu sair às ruas por seu direito de ir e de vir. O sistema, que vê no transporte do povo uma maneira de lucrar, resolveu bater na massa até essa se calar. Mas a massa não quer se calar, quer resistir. O problema é que o sistema não sabe negociar, só sabe reprimir.

E assim continuará sendo até que a situação se torne insustentável ao sistema, até que o sistema seja obrigado a entregar a mão - a redução das passagens - para não entregar o braço - o passe-livre, a democracia, a não-exploração no trabalho -, do contrário, o sistema será obrigado a bater, bater, e bater, até que comece a apanhar, apanhar e morrer. 

No momento em que escrevo, a rebelião da massa se alastra. Haverão mais protestos em Sampa, no Rio, em Campinas, Goiânia, etc. 

De pé, povo operário!
À batalha,
hemos de derrotar a reação! 
*CentroSocialismo

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