Brasil financia política de Apartheid israelense, diz integrante do Stop The Wall
Samir Oliveira e Débora Fogliatto no SUL21
A italiana Maren Mantovani está no Brasil desde agosto de 2012 para
articular apoios à causa Palestina. Coordenadora de Relações
Internacionais do movimento Stop The Wall, ela, que viveu durante dez
anos em Ramallah, se dedica agora, à estruturação do grupo na América
do Sul.
Maren explica que o foco no Brasil é importante, pois, de acordo com
o Stop The Wall, o país financia as políticas repressivas de Israel em
relação aos palestinos. A principal forma de apoio se dá através de
acordos militares para compra de armas de empresas como a Elbit, que
está diretamente envolvida na construção do muro que divide os
territórios palestinos.
Nesta entrevista ao Sul21, Maren fala sobre as
relações econômicas e militares entre Brasil e Israel e comenta,
também, o acordo que o governo gaúcho firmou com a Elbit em abril deste
ano. “O que aconteceu no governo do Rio Grande do Sul é o que também
acontece a nível federal. Há uma linha política e se esquece
completamente, ou se ignora, que a economia é política também. Eles
dizem: ‘Fizemos um contrato. Onde está o problema político de se fechar
um negócio?’. Mas acordos econômicos – se também são internacionais –
sempre afetam seres humanos e podem, também, afetar seus direitos”,
critica.
“O muro separa os palestinos de seus campos, de suas escolas, de seus hospitais”
Sul21 – Como tu começaste a te envolver com o movimento Stop The Wall?
Maren –
Iniciei o trabalho com o Stop the Wall praticamente quando as relações
internacionais do movimento começaram a se desenvolver. Nossa campanha
começou em 2002, alguns meses depois de a construção do muro ter
início. Naquela época, ninguém sabia o que estava acontecendo. Foi
diretamente depois da re-insavasão da Cisjordânia e do massacre de
Jinin. As escavadeiras simplesmente chegaram e destruíram os campos
palestinos. Sabíamos que era um projeto grande, porque muita terra foi
destruída, mas Israel não explicou nada. O primeiro mapa (da construção do muro) só foi divulgado mais de um ano depois do início da obra.
Sul21 – Como foi o trabalho de vocês neste primeiro momento?
Maren –
Uma das primeiras coisas que fizemos foi investigar o que estava
acontecendo, buscar informações sobre que projeto estava sendo posto em
prática. A nível nacional, o trabalho que fazemos é de organização de
comitês populares e de apoio às lutas nas aldeias. A nível
internacional, a primeira tarefa foi explicar ao mundo o que estava
acontecendo. As pessoas não acreditavam que isso estivesse ocorrendo: a
construção de um muro de oito metros de altura e quase 800 quilômetros
de comprimento. Quando ouviam isso pela primeira vez, diziam que não
era possível.
Sul21 – O que representa, para os palestinos, a construção desse muro?
Maren –
Não é uma barreira de segurança. Não divide Israel da Cisjordânia. O
muro separa os palestinos de seus campos, de suas escolas, de seus
hospitais. O segundo passo do movimento Stop The Wall foi pensar em
como podemos nos organizar para trabalhar juntos, em solidariedade, de
uma forma que seja eficaz para derrubar o muro. Em 2004, tivemos a
decisão da Corte Internacional de Haia, que disse que Israel precisa
parar de construir o muro, que é algo ilegal. A segunda parte da
decisão diz respeito à responsabilidade de outros países: outros
estados não podem ajudar na construção do muro. Isso significa que não
podem fazer contratos com empresas que estão envolvidas na construção
do muro, dos assentamentos e de outras violações graves que Israel
comete diante da lei internacional. A decisão de Haia prevê que devem
ser impostas sanções para que Israel encerre essa política. Então
surge, em 2004, o primeiro chamado à campanha por Boicote,
Desinvestimento e Sanções (BDS) em Israel. Em 2005, toda a sociedade
civil e partidos políticos palestinos se unem a esse chamado.
Sul21 – Vocês acreditam que esta campanha possa ter o
sucesso que teve a campanha por BDS em relação à África do Sul, na
época do Apartheid?
Maren – A campanha por BDS em Israel
tem um apelo muito mais forte e em muito menos tempo do que foi o caso
da África do Sul. As pessoas sempre recordam da campanha de boicote
contra a África do Sul no final dos anos 1980. Mas essa campanha
começou no início dos anos 1960. Conversando com os ativistas que a
organizaram, eles disseram que nunca conseguiram, em 20 anos, o que nós
já estamos conseguindo em apenas oito anos. Isso se deve a vários
fatores. De um lado, hoje podemos nos comunicar melhor. E a causa
palestina já possui décadas de apoio sobre o qual se construiu a
campanha de BDS. Isso é uma vantagem e um desafio. A África do Sul
tinha, basicamente, como parceiros econômicos, somente a Inglaterra, a
Europa e os Estados Unidos. Hoje, esta campanha pelo BDS é global. E
está forte na Europa e fazendo progressos muito importantes nos Estados
Unidos – na sociedade civil e nas universidades. Mas, se quisermos ter
força, precisamos do apoio do Sul do mundo, da América do Sul e da
Índia. É aí que Israel está encontrando seus mercados mais importantes,
sobretudo porque Europa e Estados Unidos estão em crise.
”O Brasil se tornou uma das linhas de sustentação econômica que possibilitam a política de Israel”
Sul21 – Que países apoiam, hoje, direta ou indiretamente, a construção do muro?
Maren – O mundo inteiro. Neste momento, são muito
poucos os países que têm uma postura condizente com a legislação
internacional. O Brasil fornece muita ajuda e assistência a essa e a
outras violações cometidas por Israel. Dessa forma, acaba dando
reconhecimento aos assentamentos israelenses e ao muro. Isso é uma
completa contradição com a política do Itamaraty, que reconhece o
Estado da Palestina nas fronteiras de 1967. O Brasil apoia o respeito à
lei internacional e às resoluções da ONU. Por outro lado, por parte das
relações econômicas, ocorre exatamente o contrário. O Brasil se tornou
uma das linhas de sustentação econômica que possibilitam a política de
Israel.
Sul21 – Vocês estudam as relações militares entre Brasil e Israel. De que forma elas ajudam os atos de Israel?
Maren –
Israel é um país permanentemente em guerra, portanto a indústria
militar tem uma importância fundamental – seja para que continuem suas
guerras ou para a economia em geral. Toda produção militar de
tecnologia e segurança nacional é muito importante para a economia
israelense. Até 80% dessa produção é exportada. É claro que não existe
mercado suficiente para isso em Israel, que possui seis milhões de
habitantes. Então Israel exporta sua produção militar para o Sul do
mundo. A índia é o maior importador de armas israelenses e o Brasil é o
quarto. Em todas as Américas, somente a Colômbia compra mais armas de
Israel. A cada compra dessas armas, o Brasil dá sustentabilidade às
guerras e ocupações de Israel. Essas empresas militares israelenses,
como a Elbit – que está localizada também em Porto Alegre -, não
constroem somente os Drones (aviões não tripulados) que matam os palestinos. Constroem o muro e fazem parte de um sistema de ocupação.
Sul21 – Como está a reação – econômica e política – a essas empresas hoje no mundo?
Maren –
Existe uma campanha global de boicote contra elas, especialmente contra
a Elbit. Na Noruega, em 2009, o Ministério das Finanças decidiu pedir
ao Fundo Nacional Pensionístico para desinvestir nessa empresa, em
particular porque ela está construindo o muro e é parceira de um crime
de guerra. Após essa decisão, outras instituições financeiras decidiram
desinvestir na Elbit, incluindo 12 bancos nacionais europeus. Em 2012,
o relator especial das Nações Unidas para os direitos humanos nos
territórios ocupados na Palestina, Richard Falk, lançou um informe
sobre as responsabilidades das empresas nos crimes de guerra de Israel.
Novamente a Elbit foi nomeada como uma das empresas que precisamos
boicotar. Isso foi dito na Assembleia Geral da ONU.
Sul21 – Como tem sido a relação do movimento Stop the Wall
com o governo brasileiro? Há uma crítica ao ministro Celso Amorim, que,
quando estava no Itamaraty, adotava uma posição pró-Palestina e, agora,
no Ministério da Defesa, continua comprando armas de Israel.
Maren -
Celso Amorim se encontra em uma situação bastante difícil. Quando
estava no Itamaraty, ele criou uma política de fortalecimento e
integração da América do Sul e de relacionamento com o mundo árabe.
Agora está em um ministério que tem toda essa relação militar com
Israel. O Brasil não pode nem vender armas brasileiras para Venezuela e
Bolívia – com as quais havia feito um pacto de defesa – porque existe
esse acordo com Israel, então Israel veta (as vendas). O
Brasil quer desenvolver sua indústria militar para fortalecer sua
soberania nacional, mas com esses acordos com Israel, está derrubando
completamente esses objetivos. O Itamaraty trabalha com alianças
Sul-Sul e com o mundo árabe. O Brasil quer ter relações estratégicas
com países que são considerados inimigos por Israel. Mas, com essas
parcerias com Israel, sempre se encontrará em uma situação em que
Israel impedirá suas políticas. Claramente, Israel já possui poder de
veto sobre a política externa do Brasil.
“Os trabalhadores da Taurus estão sendo obrigados a produzir um rifle desenvolvido no sangue dos palestinos”
Sul21 – Houve tentativa de diálogo com Amorim quando ele asusmiu o Ministério da Defesa?
Maren –
Partidos políticos e movimentos sociais da Palestina escreveram a ele,
dizendo que sabiam que suas políticas eram diferentes do que vinha
sendo adotado nos últimos oito anos pelo ministério. Eles pediram: “Por
favor, leve em consideração não só as estratégias, mas também a
responsabilidade com a lei internacional e os direitos dos palestinos.
Acabe com essas relações militares entre Brasil e Israel”. E isso não
está acontecendo. A sociedade civil brasileira tem um papel muito
importante para pressionar o governo neste sentido. Atualmente, por
exemplo, Israel está produzindo o rifle Tavor. Esse rifle começou a ser
produzido no início da segunda Intifada e aprimorado no massacre de
Gaza, em 2008 e 2009. O Exército brasileiro quer novos rifles. Então a
Taurus estava desenvolvendo um novo protótipo para oferecer, mas o
Exército disse que queria o rifle Tavor. O resultado, então, é que o
Brasil tem um rifle que, em termos de produção de tecnologia, não é
seu. Não sei como é exatamente o contrato entre a Taurus e a IMI,
empresa israelense que fabrica este rifle, mas certamente eles recebem
uma parte do valor dos rifles vendidos aqui. E os trabalhadores da
Taurus estão sendo obrigados a produzir um rifle desenvolvido no sangue
dos palestinos. Em seus sites, as empresas militares de Israel
demonstram o quanto seus produtos são field-tested, testados
em campo, no sangue dos palestinos. Eles dizem claramente que a guerra
é uma grande oportunidade para a propaganda desses produtos.
Sul21 – Com todos os investimentos feitos em segurança em
função da Copa do Mundo de 2014, você acredita que as relações
militares entre Brasil e Israel tendem a se intensificar nesse período?
Maren – Claro, isso já está acontecendo. Já sabemos que os VANT (Veículos Aéreos Não Tripulados)
israelenses foram utilizados nos jogos Pan-americanos, no Rio de
Janeiro. Foi apenas um teste para a Copa do Mundo. Na Inglaterra e na
África do Sul, durante os megaeventos, as empresas israelenses fizeram
a segurança e tiveram um lucro muito grande. É importante que se fale
disso, que se faça pressão sobre isso. Porque senão, na Copa do Mundo,
cada jogo vai se tornar um jogo em que a Palestina perde sem nem entrar
em campo.
Sul21 – Como você avalia o acordo feito no dia 29 de abril
entre o governo gaúcho e a Elbit para investimentos no polo
aeroespacial do Rio Grande do Sul? Foi firmado um empreendimento que
deverá construir no Estado a segunda base nacional para lançamento de
satélites.
Maren – Primeiramente, quero destacar que
quando Tarso Genro foi à Palestina, todo mundo, desde o
primeiro-ministro Salam Fayyad, até toda a sociedade civil, mandou uma
mensagem clara e unificada: “Esse contrato financia quem constrói o
muro na Palestina e viola nossos direitos”. Como é possível que alguém
que se colocou como nosso amigo, que comprou a briga para realizar o
Fórum Palestina Livre – e todo mundo sabe que não foi fácil
politicamente – tenha feito isso? Para nós, foi muito importante ele
ter ido à Palestina. Todos, das autoridades ao povo, queriam hospedá-lo
da melhor forma possível, para agradecer tudo o que ele tinha feito.
Quando chegou a notícia desse contrato com a Elbit, nos sentimos
apunhalados. O que aconteceu no governo do Rio Grande do Sul é o que
também acontece a nível federal. Há uma linha política e se esquece
completamente, ou se ignora, que a economia é política também. Eles
dizem: “Fizemos um contrato. Onde está o problema político de se fechar
um negócio?”. Mas acordos econômicos – se também são internacionais –
sempre afetam seres humanos e podem, também, afetar seus direitos.
“Quem gasta dinheiro são os governos do Rio Grande do Sul e federal para financiar uma empresa israelense que constrói o muro e viola os direitos dos palestinos”
Sul21 – Além de vocês criticarem politicamente o acordo, acreditam que trata-se de um investimento de risco?
Maren –
Se tentou acusar os que se opunham ao contrato – tanto palestinos
quanto movimentos sociais brasileiros – se não darem conta do
desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Mas pedíamos apenas que tomassem
em consideração mais critérios no debate e respeito aos direitos
humanos, à lei internacional e às prioridades do Itamaraty. Hoje, as
agências, bancos e institutos financeiros da Europa se opõem aos
investimentos e envolvimentos nas ocupações israelenses. Não se
importam com a Palestina, mas consideram esses investimentos um fator
de risco. Existem fatores políticos de risco econômico. E também
poderia ter-se vantagens realizando uma política econômica alinhada com
os princípios estratégicos do Itamaraty. Apenas responder que “o
Itamaraty não disse que não” não é o suficiente para se obter as
vantagens que uma ação alinhada com as prioridades do Ministério das
Relações Exteriores poderia gerar. Ao mesmo tempo, não isenta (o
governo gaúcho) de responsabilidade. Afirmar que outros também realizam
contratos com a Elbit apenas ressalta que outros também desrespeitam a
lei internacional. Muitos pensam que é um investimento (da Elbit) no
Estado, ou uma transferência de tecnologia ao Estado. Mas, pelo que
sabemos, é um projeto de pesquisa e desenvolvimento. Então quem gasta
dinheiro são os governos do Rio Grande do Sul e federal para financiar
uma empresa israelense que constrói o muro e viola os direitos dos
palestinos – e para criar, junto com as universidades gaúchas,
tecnologia que Elbit ainda não possui, mas que, uma vez desenvolvida,
provavelmente ficará sob seu controle, no que diz respeito ao uso e
provável exportação dessa tecnologia.
Sul21 – Existem outras empresas com a mesma capacidade
militar e tecnológica com as quais Brasil e Rio Grande do Sul poderiam
construir parcerias?
Maren – O interessante é que Rio
Grande do Sul, que não sabe construir satélites, fez uma parceria com a
Elbit, que também não sabe construir satélite, para realizar um projeto
aeroespacial. Então, de uma maneira ou outra, isso responde a pergunta.
Claro que existem outras opções. A África do Sul está esperando por
parcerias neste sentido com o Brasil. Já existem contratos importante
com a Ucrânia, que, sim, sabe como funcionam os satélites. Mais do que
discutir as características dos produtos de diferentes empresas, temos
que discutir o que significa um desenvolvimento e pesquisas em parceria
com Israel. É evidente que Israel nunca vai permitir que o Brasil
detenha as propriedades de sua alta tecnologia. Isso porque o Brasil
ainda possui – e espero que continue assim – relações com Venezuela,
Bolívia, o mundo árabe e outros países considerados inimigos por
Israel. Enquanto for assim, relações militares entre Brasil e Israel
sempre vão constituir um problema de independência e de soberania
nacional ao Brasil.
Sul21 – Se existem outras opções, porque o Brasil firma tantas parcerias neste sentido com Israel?
Maren –
Altamiro Borges, em uma fala, disse: “No Brasil, a esquerda vence as
eleições, mas quem tem o poder é a direita”. Creio que isso não é
totalmente verdade. Existem mudanças e coisas que foram feitas nos
últimos dez anos. Mas também é verdade que em todos os governos de
coalizão há contradições nos ministérios. Se olharmos para o Ministério
da Defesa, veremos que ainda existem generais da época da ditadura,
porque não foi feita uma limpeza neste sentido. O PT entrou neste
ministério somente com Celso Amorin. Em todos os governos, como no Rio
Grande do Sul, existem contradições internas e diferentes visões.
“Os palestinos são muito mal representados na grande mídia – ou nem são representados. É a mesma lógica com a qual os movimentos sociais brasileiros são tratados”
Sul21 – Como tu avalias a realização do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre, no ano passado?
Maren –
Este fórum social foi muito importante para o movimento de
solidariedade à Palestina. No Rio Grande do Sul e no Brasil em geral
existe muita consciência e interesse de se fazer as coisas. A partir do
Fórum Social Mundial Palestina Livre, se começou a criar uma
coordenação de movimentos de solidariedade na América do Sul. Uma série
de iniciativas e campanhas estão sendo geradas a partir do fórum. Ainda
que não tenha sido o maior fórum social já realizado, em termos
numéricos, o nível de qualidade dos participantes foi muito bom. As
pessoas mais envolvidas neste tema, no mundo inteiro, de forma prática
e estratégica, estiveram aqui. Mas, ao mesmo tempo, penso também que o
fórum foi um momento de agregação. Agora, precisamos de um momento de
dispersão: sair pelo mundo com essas ideias e planos, articulá-las e
implementá-las em diversos países, cidades, regiões e universidades,
empresas. Provavelmente, em um certo período de tempo, teremos de novo
um momento em que essa centralização será necessária.
Sul21 – Como a mídia tradicional trata o tema da Palestina?
Maren –
Evidentemente, a grande mídia não diz o que queremos que diga. Mas as
pessoas, às vezes, vêm com teorias da conspiração, afirmando que os
judeus detêm o controle de toda a mídia. Isso não tem nada a ver com a
religião, mas, sim, com a estrutura econômica. É evidente que a grande
mídia não dará o ponto de vista de quem está sendo oprimido. A grande
mídia é um instrumento do sistema capitalista e dá a visão do que
interessa ao capitalismo e à manutenção do status quo. Os
palestinos são muito mal representados na grande mídia – ou nem são
representados. É a mesma lógica com a qual os movimentos sociais
brasileiros são tratados. Nem é preciso fazer uma grande análise.
Sofremos todos do mesmo problema. Esses veículos não falam de quem luta
e de quem está oprimido. Falam de quem os paga.
Sul21 – Como o movimento Stop The Wall começou a voltar seus
olhos para o Brasil e para a importância que as relações militares e
econômicas do país com Israel possui para a causa palestina?
Maren –
O movimento, desde muito tempo, tem esta visão de que é importante
trabalhar com o tema da solidariedade Sul-Sul. Nos demos conta de que
esta não é uma visão ideológica. Trata-se de uma urgência política,
porque, analisando um pouco os fluxos econômicos e militares, se vê
quanto os BRICs são importantes para Israel. Nem sequer precisamos
fazer muitas pesquisas. Há documentos e claras manifestações dos
ministros israelenses, que dizem que o interesse é nestes países.
Particularmente, desde o início da crise econômica, em 2007 e 2008.
Sul21 – O reconhecimento pela ONU da Palestina como Estado
observador não-membro das Nações Unidas foi bastante aclamado. Mas
também é dito que o que é necessário é que Israel reconheça a Palestina.
Maren –
Com o reconhecimento do Estado da Palestina, a única coisa que Israel
fez foi acelerar a construção dos assentamentos. Creio que esse
reconhecimento foi importante, pois comprometeu uma série de países com
o apoio ao Estado Palestino. Com isso, eles têm a responsabilidade de
não firmar contratos com empresas que estão destruindo esse Estado. Ao
mesmo tempo, esse reconhecimento leva em consideração apenas uma parte
dos problemas palestinos. Não leva em conta o problema dos refugiados
palestinos e o fato de que existem palestinos que são cidadãos de
Israel e vivem em uma situação de verdadeiro Apartheid. Israel não é
uma democracia: ou se é judeu, ou não se tem os mesmos direitos. Existe
um sistema institucionalizado do Apartheid. Cerca de 20% dos cidadãos
de Israel são palestinos que vivem sob esse regime. Reconhecer o Estado
da Palestina é apenas um passo, mas é evidente que não mudará nada para
Israel. Israel não fará negociações sobre este tema se não houver
pressões. Qualquer sindicalista entende que não se pode pensar que o
empregador deixará de lucrar com o trabalho dos empregados somente com
um pedido de aumento salarial. É preciso entrar em greve, o empregador
precisa perder os lucros, e então se abre a negociação. É isso que
queremos: que eles percam seus lucros, para que podemos ter alguma
conquista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário