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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 20, 2013

Chauí defende fim do "oligopólio dos empresários de ônibus"

  Da Agência Brasil

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, professora da USP diz que revogação do aumento da tarifa de ônibus não resolve problema a longo prazo. Filósofa afirma que Haddad errou ao demorar para dialogar
por Redação RBA publicado 19/06/2013 11:45, última modificação 20/06/2013 10:37
Sexto ato contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo, que ocorreu ontem (18) em São Paulo
São Paulo – A filósofa Marilena Chauí, professora aposentada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, avalia que a eventual revogação do aumento da tarifa de ônibus, embora importante, não resolverá o problema do transporte público de São Paulo.“Enquanto o prefeito não quebrar o oligopólio dos empresários de ônibus, vamos andar sempre mal das pernas, não vai funcionar, mesmo que no curto prazo ele atenda às exigências do movimento e revogue o aumento da tarifa. No longo prazo o problema não estará resolvido”, disse à Rádio Brasil Atual.
Ela lembrou de quando era secretária municipal de Cultura, na gestão da prefeita Luíza Erundina (1989-1992), quando foi elaborado o projeto de lei da Tarifa Zero, que pretendia custear o transporte público através de uma reforma tributária muncipal. “Erundina enfrentou a máfia dos ônibus, e uma reação em cadeia provocada pelos grandes empresários da construção civil e dos lojistas. Movimentos contrários dos chamados bairros nobres, como Cidade Jardim, Higienópolis, Moema, pipocaram. Foi uma coisa medonha no nível da sociedade civil, e os empresários de ônibus se mancomunaram com a Cãmara Municipal para impedir a aprovação do projeto.”
Ontem, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, admitiu que os empresários são um grupo difícil de enfrentar. “São um setor atrasado, tanto que foram contra a criação do Bilhete Único. É um setor cartelizado. Hoje é muito difícil retirar um operador do sistema”, avalia.
Chauí afirmou que as manifestações pela revogação do aumento das passagens são legítimas e têm de estar na pauta dos movimentos sociais. “As manifestações não poderiam ser mais justas, significa que a luta pela dignidade do cidadão na luta pela educação, pela saúde, pelo trabalho, na moradia, tem de incluir aquilo que é condição de mobilidade, que é o transporte.”
A professora, uma das conselheiras que esteve presente na reunião de ontem (18) do Conselho das Cidades, afirmou que a convocação do Movimento Passe Livre como participantes da reunião pelo prefeito foi democrática, mas ressalta que o prefeito Fernando Haddad (PT) demorou a agir.
“As reações do governador Geraldo Alckmin e do prefeito foram diferentes, embora as duas demoradas. Alckmin reagiu com a polícia e com prisão. E Haddad foi pego de surpresa, demorou na resposta. Mas a atitude do prefeito foi de grandeza política porque ele chamou os movimentos, todas as lideranças, o conselho, o secretariado, para um debate transparente.”
A filósofa ressalta, porém, que o momento atual de mobilização e protestos é importante para a democracia, mas não configura um momento histórico. “Não é momento histórico, é um instante politicamente importantíssimo, no qual a sociedade vem às ruas e manifesta sua vontade e sua opinião. Mas a ação política é efêmera, não tem força organizativa do ponto de vista social e política, não tem uma força de permanência, caráter dos movimentos sociais organizados, de presença organizada em todos os setores da vida democrática.”
Ouça aqui a entrevista de Chauí à repórter Marilu Cabañas.

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