BLITZKRIEG SOBRE SAMPA: O XÍS DA QUESTÃO
A imprensa
e os políticos reagiram exatamente como esperado à violência extrema
que a Polícia Militar paulista desencadeou contra manifestantes,
jornalistas, transeuntes e até fregueses dos botecos na 5ª feira negra:
houve os que protestaram, houve os que justificaram, ordenaram-se
investigações e é provável que um ou outro gato pingado venha a ser
punido. Depois, o esquecimento.
Inconcebivelmente, nem a própria Folha de S. Paulo deu
a devida importância à contundente denúncia do seu renomado colunista
Elio Gaspari, de que tudo transcorria de forma pacífica até que duas
dezenas de policiais engendraram o caos:
"Num átimo, às 19h10, surgiu do nada um grupo de uns 20 PMs da Tropa de Choque, cinzentos, com viseiras e escudos. Formaram um bloco no meio da pista. Ninguém parlamentou. Nenhum megafone mandando a passeata parar. Nenhuma advertência. Nenhum bloqueio...
Em menos de um minuto esse núcleo começou a atirar rojões e bombas de gás lacrimogêneo...
Atiravam não só na direção da avenida, como também na transversal..."
Em outras palavras, foi a provocação da tropa de choque que deflagrou as agressões e o descontrole policial.
Então, o que tem mesmo de ser investigado é o seguinte: quem deu a ordem para eles agirem desta forma, e por quê?
Pois vários episódios anteriores já demonstraram que há uma linha dura dentro
da PM, articulada em torno da Rota e composta por oficiais que tiveram a
cabeça feita pela ditadura militar e até hoje atuam com espírito de
Gestapo e não de polícia democrática.
Se nada for feito para identificar e expor esta corrente, outras
provocações virão, pois seu objetivo último é o de minar a democracia,
abrindo caminho para um novo golpe de Estado.
Acredito que valha a pena tornar mais conhecida uma resposta que dei no site do CMI (vide aqui) a um comentarista sectário e desrespeitoso para com o Jacob Gorender, a quem acusou de haver jogado a toalha quando defendeu a necessidade de um estado democrático, ao invés da abolição pura e simples do estado.
A frase que ele citou do Gorender, de 2006, foi a seguinte:
"Eu considero que o Estado não vai desaparecer. A sociedade moderna é de tal maneira complexa, constituída de segmentos, não só de classes sociais, mas são os idosos, os homens, as mulheres, os profissionais de várias áreas, a diferença entre países. Quer dizer, tudo isso exige uma escala de prioridades. E quem é que vai tomar a iniciativa disso? É necessário um órgão superior que é o Estado. E que seja um Estado democrático, obviamente. Por isso eu falo em democracia..."
Preferi
não partir para o bateboca costumeiro nesses fóruns virtuais,
aproveitando, isto sim, a oportunidade para aprofundar o fulcro da
questão. Creio que as colocações abaixo contribuem para a reflexão sobre
caminhos possíveis para a esquerda, agora que os trilhados no século
passado parecem definitivamente exauridos.
O ESPONTANEÍSMO PODERÁ TER UM NOVO PAPEL?
O Gorender, como eu, procurou uma alternativa ao esgotamento dos modelos
revolucionários do século passado. Mas, ao erigir coletivos
minoritários, conjugados, como o novo sujeito da revolução, parece-me
ter superestimado o poder de fogo e a disposição para atuação conjunta
dos comunistas, anarquistas, gays, militantes ambientais, feministas,
idosos, negros, desempregados, estudantes engajados, jovens revoltados,
adeptos da descriminalização da maconha, etc., etc.
De certa forma, ele apenas substituiu o proletariado por essa espécie de sujeito revolucionário múltiplo, mas manteve os conceitos tradicionais, inclusive o da necessidade de uma vanguarda regendo a orquestra ao longo do processo, e também de um estado, ainda que democrático.
Partindo da mesmíssima constatação --a de que nossos desafios atuais
exigem uma mudança profunda de estratégia e táticas--, eu cheguei à
conclusão de que a era da internet faculta um novo tipo de espontaneísmo,
com o Movimento do Passe Livre, os Occupy, os escrachos de
ex-torturadores e outros protestos articulados pela web, as respostas
imediatas às medidas autoritárias (proibição da Marcha da Maconha) e a posicionamentos antipáticos (churrascão da gente diferenciada), etc.
Isto tudo não irá muito longe em circunstâncias normais, pois a
indústria cultural vai continuar mesmerizando seus públicos, sem que
tenhamos como furar o bloqueio e fazer a consciência penetrar nas
grandes massas bovinizadas (pois submetidas à lavagem cerebral
ininterrupta do sistema).
Mas, com o agravamento da crise econômica capitalista e das catástrofes
ambientais decorrentes das alterações climáticas, em meio ao caos que
vai se estabelecer e à indignação dos viciados no consumismo quando sua droga escassear e eles sentirem os rigores da abstinência, poderá, sim, abrir-se uma janela revolucionária.
Então, esses grupos que desde já lutam nas ruas, com a experiência
acumulada nos muitos confrontos que até então travarão, talvez somem
forças para oferecer uma alternativa à sociedade. Ou seja, a vanguarda
seria mais ou menos a que o Gorender anteviu, só vindo, contudo, a
afirmar-se na fase superior, decisiva, da luta. Por enquanto, os
coitadezas por quem os manifestantes paulistanos lutam continuarão
vendo-os como vândalos, pois assim falava Globotustra...
Na hora da verdade, contudo, estará em jogo a própria continuidade da
espécie humana, que o capitalismo conduz diretamente à extinção. Vamos
torcer para que o instinto de sobrevivência, no frigir dos ovos, fale
mais alto.
Por último: depois de tudo isto, haveria, com certeza, condições para
substituir-se o estado pela democracia direta. Mas, difícil mesmo é
chegarmos até lá.
Então, não há por que nos digladiarmos desde já em intermináveis arranca-rabos sobre o que virá depois.
Darmos um fim ao pesadelo capitalista será uma tarefa coletiva; idem, a
reconstrução da sociedade por cima dos escombros da exploração do homem
pelo homem. Se as pessoas conseguirem se libertar dos grilhões atuais,
decerto encontrarão, no momento certo, os melhores caminhos para a
instauração de uma sociedade de homens livres, igualitária e justa.
PM BARBARIZA O CENTRO DE SÃO PAULO
Nunca
me senti tão velho como nesta 5ª feira (13), quando, acamado com forte
gripe, só fiquei sabendo pela mídia e pelas redes sociais que a Polícia
Militar barbarizara o centro de São Paulo, reprimindo bestialmente os
manifestantes que (até então) protestavam pacificamente contra o aumento
das tarifas de transporte coletivo.
Foi a confirmação do que venho alertando há anos (vide aqui, p. ex.): está em curso uma escalada de fascistização em São Paulo, orquestrada pelo governador Opus Dei Geraldo Alckmin, com a cumplicidade de figurinhas carimbadas como o reitor TFP João
Grandino Rodas (da USP) e tendo como principais provocadores os
brucutus da tropa de choque da PM, vulgo Rota (aquela que se orgulha de
ter coadjuvado o terrorismo de estado nos anos de chumbo, que é sempre denunciada pelas entidades internacionais de defesa dos direitos humanos por suas execuções maquiladas em resistência à prisão e que os vereadores paulistanos da bancada da bala querem homenagear com uma salva de prata).
A
aposta dessa gente é numa nova ditadura. E, se o governo federal a
continuar subestimando, o ovo da serpente vai ser chocado até que uma
crise de maiores proporções crie um cenário favorável à sua eclosão. Os
petistas parecem gostar de viver perigosamente; eu detesto saber que há
uma lâmina de guilhotina pendente sobre minha cabeça.
Como estive ausente do palco dos acontecimentos, prefiro não produzir um relato jornalístico da nova blitzkrieg.
Como estive ausente do palco dos acontecimentos, prefiro não produzir um relato jornalístico da nova blitzkrieg.
Sirvo-me, então, dos principais trechos do depoimento do jornalista e historiador Elio Gaspari, colunista da Folha de S. Paulo e de O Globo, que me pareceu o mais satisfatório da grande imprensa.
A PM COMEÇOU A BATALHA DA MARIA ANTÔNIA
Quem acompanhou a manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus ao
longo dos dois quilômetros que vão do Theatro Municipal à esquina da
rua da Consolação com a Maria Antônia pode assegurar: os distúrbios de
ontem começaram às 19h10, pela ação da polícia, mais precisamente por um
grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, com suas fardas cinzentas,
que, a olho nu, chegaram com esse propósito. Pelo seguinte:
Bala de borracha da PM atingiu esta repórter no olho |
Desde as 17h, quando começou a manifestação na escadaria do teatro,
podia-se pensar que a cena ocorria em Londres. Só uma hora depois,
quando a multidão engordou, os manifestantes fecharam o cruzamento da
rua Xavier de Toledo.
Nesse cenário havia uns dez policiais. Nem eles hostilizaram a manifestação, nem foram por ela hostilizados.
Nesse cenário havia uns dez policiais. Nem eles hostilizaram a manifestação, nem foram por ela hostilizados.
Por volta das 18h30 a passeata foi em direção à praça da República.
Havia uns poucos grupos de PMs guarnecendo agências bancárias, mais
nada. Em nenhum momento foram bloqueados.
Numa das transversais, uns 20 PMs postaram-se na Consolação, tentando
fechá-la, mas deixando uma passagem lateral. Ficaram ali menos de dois
minutos e se retiraram. Esse grupo de policiais subiu a avenida até a
Maria Antônia, caminhando no mesmo sentido da passeata. Parecia Londres.
Voltaram a fechá-la e, de novo, deixaram uma passagem. Tudo o que alguns
manifestantes faziam era gritar: "Você é soldado, você também é
explorado" ou "Sem violência". Alguns deles colavam cartazes brancos com
o rosto do prefeito de São Paulo, "Malddad".
Num átimo, às 19h10, surgiu do nada um grupo de uns 20 PMs da Tropa de
Choque, cinzentos, com viseiras e escudos. Formaram um bloco no meio da
pista. Ninguém parlamentou. Nenhum megafone mandando a passeata parar.
Nenhuma advertência. Nenhum bloqueio, sem disparos, coisa possível em
diversos trechos do percurso.
Em menos de um minuto esse núcleo começou a atirar rojões e bombas de gás lacrimogêneo. Chegara-se a Istambul.
Em menos de um minuto esse núcleo começou a atirar rojões e bombas de gás lacrimogêneo. Chegara-se a Istambul.
Atiravam não só na direção da avenida, como também na transversal. Eram
granadas Condor. Uma delas ficou na rua que em 1968 presenciou a
pancadaria conhecida como "Batalha da Maria Antônia"... (por Elio Gaspari)
UM ESTRANHO CASAL: A EX-TORTURADA E O PALADINO DOS TORTURADORES
O larápio de medalhinhas se dá tão bem com a Dilma... |
"...nada se comparou à cara da presidenta Dilma Roussef quando foi estrepitosamente vaiada ao lado de Joseph Blatter, que pediu fair play para ser ainda mais vaiado. Como ela, ao declarar a Copa das Confederações oficialmente aberta.
...como se dava com o Maluf? |
É o preço que paga quem se cala diante das iniquidades do país e faz acordos espúrios para sobreviver, como seus antecessores..."Aí passei pelo site do Brasil 247 e encontrei a foto do alto, de uma ex-torturada confraternizando com um antigo paladino dos torturadores: aquele que rasgava seda para o delegado Sérgio Fleury e, às vésperas do assassinato de Vladimir Herzog, pedia providências contra a infiltração comunista na TV Cultura.
Não sei exatamente qual foi o motivo para os torcedores de Brasília vaiarem a Dilma.
Mas, quem conhece o passado ignóbil do José Maria Marin e mesmo assim se
deixa fotografar ao lado dele sorrindo e fazendo o sinal de positivo, merece mesmo ser vaiado.
LEI DA GRAVITAÇÃO FEDERAL
o poder, na
razão direta
da ambição e
na razão
inversa da
dignidade"
QUEM COM CÃES SE DEITA, COM PULGAS SE LEVANTA
Face ao mal estar causado pela foto do estranho casal divulgada no último sábado (15), assessores
de Dilma Rousseff estão alegando que não houve efusividade entre ela e
José Maria Marin, mas sim uma esperteza do fotógrafo da CBF, que ficou
de prontidão à espera de uma oportunidade para clicá-la sorridente. O
sinal de positivo seria para alguém que não aparece na foto. OK, o registro está feito. No entanto:
- é meio pueril uma presidenta da República dividir camarote com um desafeto e permanecer emburrada, melhor seria não ter ido lá ou estar em companhia menos constrangedora;
- quando adolescentes admitem terem sido ingênuos, tudo bem, mas pessoas vividas têm mais é de nunca baixarem a guarda, até porque, conforme reza a sabedoria popular, quem com cães se deita, com pulgas se levanta.
Finalmente, permito-me considerar que não houve empenho real do governo
federal em evitar a situação extremamente vexatória de que teremos na
tribuna de honra de uma Copa do Mundo disputada no Brasil, como
presidente da CBF, um antigo capacho da ditadura militar: o patético Zé das Medalhas.
Assim como nunca engolirei que, para a instituição da Comissão da Verdade ser aprovada pelo Congresso, o governo precisasse prostrar-se à chantagem imunda da bancada evangélica, que exigiu a não participação de resistentes que pegaram em armas, igualando-nos aos veteranos do arbítrio (que já estavam vetados). Foi uma capitulação infame, até por vir ao encontro de uma das teses favoritas das viúvas da ditadura, a de que os dois lados cometeram excessos.
Em ambos os casos havia como se chegar a solução melhor, desde que o governo se dispusesse a pagar o preço (pois lidava com indivíduos que colocam SEMPRE os interesses acima das convicções). Mas, preferiu preservar suas moedas de troca para outras barganhas, e um dos maus resultados aí está, com a rasteira que o Marin acaba de dar na Dilma.
Outros virão.
*NaufragodaUtopia
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