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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 02, 2013

Parada do Orgulho LGBT pretende ser mais política e menos carnavalesca


Presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo diz que evento é ato de afirmação de cidadania e não pode ser vista apenas como carnaval fora de época
©Daniela Souza/Folhapress)
Parada do orgulho GLBT em São Paulo, junho de 2013
Com público cada vez maior, Parada Gay paulistana se firma como manifestação públicade luta por cidadania irrestrita
São Paulo – Menos carnavalesca e mais política. Este é o tom da 17ª edição da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) que ocorre hoje (2) em São Paulo. Durante entrevista coletiva concedida na manhã de hoje (2), Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT), disse que a Parada do Orgulho LGBT não pode ser vista apenas como um carnaval fora de época.
"A parada não é um carnaval fora de época. Mas sim o maior movimento de visibilidade massiva de uma parcela da comunidade que sofre diariamente preconceito e discriminação, violência, ódio e intolerância”, disse o presidente da APOGLBT. O tema da Parada do Orgulho LGBT deste ano é Para o Armário Nunca Mais! União e Conscientização na Luta contra a Homofobia.
Quaresma criticou o Congresso Nacional, dizendo que “o Poder Legislativo tem sido omisso no cumprimento de seu papel de fazer lei e garantir o fim da injustiça social”. Sem citar nomes, disse que alguns parlamentares - a quem se referiu como “fundamentalistas religiosos” - estão “atacando o Estado laico e os direitos civis de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros”. Segundo Quaresma, nos últimos 20 anos, mais de 3 mil pessoas morreram no país vítimas da intolerância social.
“A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, que deveria cuidar dos direitos humanos e das minorias sociais do Brasil, é hegemonizada pelo deputado Marcos Feliciano (PSC-SP) e outros fundamentalistas de plantão. Nesse sentido, nos preocupa a composição dessa comissão, que deveria lutar pelos direitos humanos e das minorias”, declarou.
Presente ao evento, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, também criticou a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. “Temos agora a tragédia grega que é na Comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados. Atingimos o ápice da falta de respeito à comunidade e aos direitos humanos. É um acinte uma pessoa com um discurso homofóbico estar presidindo uma comissão que trata exatamente de combater a homofobia e tudo que é contra os direitos humanos”, disse.
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), que também participou da entrevista à imprensa, disse que há três eixos principais da luta pelos direitos LGBT tramitando no Congresso Nacional. O primeiro é o do direito ao casamento igualitário que, apesar de ter sido discutido e garantido pelo Supremo Tribunal Federal, ainda precisa, segundo ele, estar previsto em lei. O segundo ponto é a questão da lei de identidade de gênero (que prevê, entre outras coisas, o nome social para as travestis e transexuais) e o, último, o da aprovação da projeto de lei complementar (PLC) que criminaliza a homofobia, mais conhecida como PLC 122.
Em seu discurso de abertura do evento, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad disse que é um desejo da cidade e do país de não se opor aos direitos humanos e civis. Segundo ele, “todas as minorias políticas já tiveram, em algum momento, que despertar o desejo de mais liberdade e igualdade” e, portanto, em sua visão, seria inconcebível admitir que, pessoas que já sofreram algum tipo de perseguição ou intolerância, “sejam hoje os promotores dessa mesma incompreensão e intolerância”.
“É muito significativo que, nós, neste dia de combate à intolerância e à homofobia, nos lembremos que, muitas vezes aqueles que hoje têm um comportamento homofóbico, em algum momento tiveram que lutar por sua própria liberdade”, falou o prefeito.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, declarou que “uma injustiça cometida contra um cidadão é uma ameaça a toda sociedade”. O governador lembrou também que São Paulo foi o primeiro estado brasileiro a criminalizar a homofobia, com a Lei 10.948, de 2001, que pune com multa ou até cassação de licença estabelecimentos comerciais, organizações sociais, empresas públicas e funcionários públicos por discriminação homofóbica.
*redebrasilatual

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