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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 20, 2014

As coincidências


Existem as coincidências?
Sim, com certeza, inútil nega-lo.

Mas há mais além das coincidências: há factos que acontecem porque planeados, eventos interligados. Podemos alargar os braços e dizer "acontece". Ou podemos tentar ver as coisas mais de perto.
A companhia

Por exemplo:
  • no dia 8 de Março de 2014, o voo Malaysia Airlines 370 desaparece, literalmente, como todos os 227 passageiros e 12 membros da tripulação;
  • No dia 17 Julho de 2014, o voo Malaysia Airlines 17 é abatido no espaço aéreo da Ucrânia, provocando a morte dos 283 passageiros e dos 15 membros da tripulação.
São acidentes (um desaparecimento, outro um acidente de guerra), podem acontecer.
Todavia há um par de dados interessantes:
  • ambos os aviões pertenciam à mesma companhia aérea, a Malaysia Airlines.
  • ambos os voos eram desenvolvidos pelo mesmo tipo de avião, um Boeing 777-200 ER.
Até o desaparecimento do voo 370, a Malaysia Airlines tinha sofrido apenas dois acidentes com vítimas mortais: o primeiro em 1977, quando um velho Boeing 737 (voo 653) foi desviado por piratas do ar e precipitou na Malásia (um caso ainda não esclarecido: ignoram-se quem foram os piratas envolvidos); o segundo em 1995, quando o voo 2133 (um Fokker 50) falhou a pista de aterragem em Tawau (Malásia), matando 32 dos 49 passageiros.

Houve outros acidentes menores que não envolveram mortes ou feridos. Nada mal por uma companhia que iniciou as suas operações em 1972 e que alcança diariamente 4 continentes (os destinos do continente americanos já não são servidos).

De repente, no espaço de quatro meses, 2 acidentes e 537 vítimas mortais.
Interessante.

A avião

Interessante também o registo histórico do avião, o Boeing 777.

Entrado em serviço em 1995, até o ano de 2013 era possível lembrar apenas um único acidente com uma fatalidade: um técnico queimado durante as operações de abastecimento, em Denver (Estados Unidos, ano de 2001).
Não falamos aqui do modelo Boeing 777-200 ER mas de todos os Boeing série 777 (portanto: 200, 200 ER, 300, 200 LR, 300 ER).

Em 2013, o até então único acidente com passageiros como vítimas: em San Francisco, o voo 214 da Asian Airlines (Coreia do Sul) falha a pista de aterragem de San Francisco, provocando a morte de 3 passageiros (um atropelado pelos meios anti-incêndio, os outros dois no hospital).

Portanto, até 2014, nenhum passageiros dum Boeing 777 tinha morrido durante o voo. Um avião seguro, disto não há dúvidas.

Depois, como lembrado, em 2014 e no espaço de quatro meses 537 mortos.
Interessante.

Só como curiosidade: quantas probabilidades existem de dois Boeing 777 da mesma companhia serem envolvidos em dois acidentes no espaço de 4 meses e provocar 537 mortos, os únicos registados durante os voos?

Para responder, é bom não esquecer que no mundo há 1.204 Boeing 777 em circulação, de 64 companhias aéreas diferentes.

E a Malaysia Airlines nem é a operadora com o maior número de 777 à disposição: a Emirates Airlines dispões de 128 Boeing 777, a United Airlines (EUA) de 74, a Air France (França) de 64, a Singapore Airlines (Singapura) de 59, e a lista poderia continuar.
A Malaysia só tinha 17 (e agora são 15, como é óbvio.).

A Air India (Índia), que tem um historial bem mais preocupante e dispõe de 20 Boeing 777, nunca registou vítimas com este modelo.

Tudo não passa duma triste coincidência?


Ipse dixit.
*informaçaoincorreta

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