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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, julho 19, 2014

Israel é palco de atos violentos de gangues fascistas contra palestinos e pacifistas


Enquanto governo israelense aumenta ofensiva a Gaza, intolerância dentro do país chega a níveis inéditos

Em meio à ofensiva israelense à Faixa de Gaza, tornam-se mais frequentes e sistemáticos os ataques de gangues fascistas, que se organizam pelas redes sociais, para atacar civis palestinos e também agredir judeus de esquerda que se opõem à violência.
Um dos casos mais graves aconteceu na noite deste sábado (12/07), durante uma manifestação no centro de Tel Aviv.
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Cerca de 500 manifestantes se reuniram em frente ao Teatro Habima, exigindo um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
Veja imagens da manifestação no vídeo abaixo, cedido pelo cinegrafista Israel Puterman:


Um grupo de dezenas de ativistas de extrema-direita, portando bandeiras de Israel, chegou ao local e começou a agredir os manifestantes.

Em meio à manifestação, soaram os alarmes advertindo sobre foguetes lançados contra Tel Aviv a partir da Faixa de Gaza. Naquele momento, os poucos policiais que tentavam manter a ordem no local correram para os abrigos antiaéreos, deixando os manifestantes expostos à gangue.
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“Quando os alarmes soaram, todos nós entendemos que os fascistas que estavam à nossa frente eram mais perigosos do que os foguetes, principalmente depois que os policiais correram para os abrigos”, relata o blogueiro Hagai Mattar, que estava no local.
“Os Leões”
Dezenas de manifestantes foram espancados por membros da gangue,  organizada por Yoav Eliassi, que lidera um grupo fascista chamado “Os Leões”.
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Eliassi convocou seus seguidores pela internet a protestar contra os manifestantes pacifistas e vários deles anunciaram, já pelo Facebook, que iriam “para bater”.
O incidente durou várias horas após a dispersão da manifestação, quando os membros da gangue perseguiram os manifestantes pelas ruas de Tel Aviv e invadiram e depredaram bares e restaurantes onde eles tentaram se refugiar.


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Aos gritos de “morte aos traidores!”, eles invadiram um café na Rua King George e quebraram móveis. Um manifestante foi hospitalizado depois que um dos “Leões” quebrou uma cadeira sobre sua cabeça.
“A situação foi assustadora. Já participei de muitas manifestações em Tel Aviv, mas uma coisa assim nunca aconteceu”, afirma Hagai Mattar.
Clima ameaçador
A ACRI (Associação de Direitos Civis em Israel) enviou um apelo ao Procurador Geral da Justiça, Yehuda Weinstein, exigindo que ele instrua a polícia a conter as gangues de vândalos que atacam e ameaçam civis palestinos nas ruas do país.
De acordo com a ACRI, nos últimos dias vem se multiplicando o número de ataques racistas em diversas cidades de Israel.
Activestills

Diversas cidades israelenses já testemunharam ataques de grupos fascistas

No dia 5 deste mês, um grupo de 50 membros do grupo racista “Kahane Vive” se reuniu em frente ao McDonalds na cidade de Pardes Hana gritando “morte aos árabes!”. No local trabalham funcionários das aldeias árabes israelenses da região e, no momento do ataque, também estavam clientes árabes, inclusive mulheres vestindo o véu tradicional islâmico. Testemunhas no local descreveram um “clima de terror”, com crianças chorando e pessoas apavoradas, enquanto a gangue fascista cercava o restaurante.
Segundo a ACRI, incidentes semelhantes também ocorreram nos últimos dias em Jerusalém e Nazaré. “O objetivo declarado desses atos é instalar medo entre os árabes para exclui-los dos espaços públicos”, afirma Avner Pinchuk, advogado da associação.
Jovem queimado vivo
Vale lembrar que o clima de incitamento no país já levou à morte de Mohammed Abu Khder, de 16 anos, queimado vivo por um grupo de adolescentes israelenses no dia 5. Os responsáveis já foram capturados pela polícia.
Segundo o editorial do jornal Haaretz, “julgar os assassinos não é suficiente, Israel tem que passar por uma revolução cultural”.
“Os líderes políticos e comandantes militares devem reconhecer a injustiça e corrigi-la. Eles devem começar a educar ao menos a nova geração, baseando-se em valores humanistas, e incentivar um discurso público de tolerância. Sem isso, a tribo judaica não será mais merecedora de seu Estado”, afirma o Haaretz.
(*) Guila Flint cobre o Oriente Médio para a imprensa brasileira há 20 anos e é autora do livro 'Miragem de Paz', da editora Civilização Brasileira
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Ópera Mundi

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