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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 28, 2014

Fernão Lara Mesquita, carta de um venezuelano

carta que recebi de um leitor venezuelano sobre o "protesto" do herdeiro do jornal o estado de s.paulo, fernão lara mesquita, na passeata pró-aécio:
Prezado Fernão Lara Mesquita,
Sou um venezuelano de dezesseis anos que mora no Brasil há oito e, com esta carta, expresso meu mais profundo repúdio à sua ação na passeata em favor do candidato Aécio Neves, de quarta-feira, 23 de outubro de 2014. Naquele momento, o senhor carregava um cartaz que dizia “Foda-se a Venezuela”, ato que não preciso lhe lembrar. Não opino politicamente sobre nenhum dos candidatos, já que não sou brasileiro e não voto, mas não posso ficar calado quando meu país é atacado e degradado, como se fosse um Estado nulo, e seus cidadãos são tratados como comunistas sem cérebro.
Após 8 anos, cheguei a amar o Brasil e seu povo tão lindo e carinhoso, mas me entristeço quando ouço comentários humilhantes sobre os venezuelanos e os cubanos, como aquele que o senhor levou nas mãos. Eu sei que parece difícil de acreditar, mas os cidadãos desses países são pessoas de carne e osso, que sofrem, suam e choram, como todos os brasileiros e todos os cidadãos do mundo de todos os partidos políticos. Meu país sofre uma polarização extremamente profunda, que o tem dividido com ódio e dor, e temo que o mesmo esteja acontecendo no Brasil.
A Venezuela, como Cuba, não é só feita de chavismo, comunismo ou outra ideologia. É um país. Portanto, sua generalização, que toma um país pelo partido que está no poder é vergonhosa, ainda mais vinda de um jornalista que, presumo, seja tão experiente como o senhor. Eu me sinto profundamente ofendido e entristecido por aquilo que você pensa do meu país tão querido. O que o mundo, especialmente a América Latina, menos precisa é de ódio; do que necessitamos é compaixão e irmandade, independentemente de ideologia, classe, cor ou nacionalidade. Porque, no fim das contas, os partidos trocam de poder, as ideologias mudam, mas todos seguiremos latinos, sempre.
Abraços,
Alan García-Ramos
Descurtir*socialistamorena

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