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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 29, 2014

Mulher de Mujica diz que “América Latina respirou” com a vitória de Dilma

Mulher de Mujica diz que “América Latina respirou” com a vitória de Dilma

“Eu celebro a vitória da Dilma Rousseff, porque o Brasil é um dos países mais importantes da América Latina, e o rumo da região estava alinhado com o Brasil”. Lucía Topolansky foi reeleita senadora no Uruguai

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Lucía Topolansky e Pepe Mujica (divulgação)
Maíra Vasconcelos, Jornal GGN
A direita no Uruguai, representada pelos partidos chamados de brancos e colorados, respectivamente, Partido Nacional e Partido Colorado, perderam ao menos em três quesitos, presidência, parlamento e plebiscito, após a realização das eleições, no último domingo.
Levaram a disputa para o segundo turno, no entanto, terminam com menos voto do que esperavam e com as calculadoras em mãos, provavelmente não cheguem a vencer o pleito, no dia 30 de novembro. Com 98,9% das urnas apuradas, até o dia de hoje, o partido de governo, Frente Amplio (FA), que tem ao menos quatro pontos a mais do que todas as pesquisas de opinião haviam divulgado anteriormente, tem Tabaré Vázquez adiante com 47,9%, contra 30,9% de Lacalle Pou, do Partido Nacional. A diferença entre ambos, de pelos menos 17%, casa com a imagem das muitas bandeiras do FA dispostas nas varandas de casas e edifícios em Montevidéu, em diferentes bairros e zonas da capital uruguaia, onde 53,5% votaram pela continuidade do governo frenteamplista. Vale ressaltar que a prefeitura de Montevidéu, há 25 anos, é governada por diferentes membros do Partido Comunista.

Mujica, Lucía e Dilma

“A América Latina respirou com a vitória de Dilma”. A frase foi dita pela senadora Lucía Topolansky, mulher do presidente José Mujica, perseguida e mantida presa por 13 anos, na época da ditadura militar no Uruguai. Ela esteve presente na sede do partido Frente Amplio (FA), ontem, para acompanhar o resultado do primeiro turno das eleições. “Eu celebro (a vitória da Dilma Rousseff), porque o Brasil é um dos países mais importantes da América Latina, e o rumo da região estava alinhado com o Brasil”. Após os resultados das eleições de ontem, Lucía foi reeleita senadora.
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Além de comemorar o resultado das eleições no Brasil, Toponlansky comentou os episódios panfletários oposicionistas da imprensa no país, e os comparou a posturas da época da ditadura militar, caso da revista Veja, que poucos dias antes das eleições adiantou a saída da revista de domingo para sexta-feira, e arrematou a matéria de capa com uma publicação contra Lula e Dilma sobre as denúncias de desvio de recursos da Petrobrás, que o Tribunal Superior Eleitoral considerou ilegal. Toponlansky deixou claro sua convicção de que o Brasil necessita discutir uma lei de meios.
“Tinha um 6% de vantagem apesar do que a imprensa fez, pouco antes da veda eleitoral, isso é algo tremendo do ponto de vista da ética. Acho que os brasileiros deveriam pensar sobre uma lei de meios. Isso não se faz em democracia, se faz em uma ditadura”, defendeu Lucía. Logo, um jornalista comentou à candidata que no Uruguai não aconteceu o mesmo que no Brasil, em relação a cobertura da imprensa. No entanto, para Topolansky, a imprensa uruguaia mudou sua forma de cobrir as eleições, quando destinou pouco espaço e excluiu, por exemplo, suas ações de campanha, focando apenas nos presidenciáveis.
“No Uruguay não aconteceu a mesma coisa, mas a imprensa excluiu muita gente, como a mim, fui excluída da imprensa nos dois últimos meses. Nós fizemos um ato imenso, no domingo passado, e apenas se esclareceu na segunda-feira, uma (matéria) fininha, porque não podiam publicar menos. Apenas seguiram os candidatos presidenciais e eliminaram todo o resto, e me disseram, porque eu perguntei a muitos veículos, falaram que a ordem era seguir nada mais que a fórmula presidencial. Então, isso é uma novidade no Uruguai”, criticou.
Sobre a campanha do Frente Amplio, até este primeiro turno das eleições, Lucía considera que a movimentação e os ânimos melhoraram nas últimas semanas, e voltou a enfatizar sobre a falta de cobertura da imprensa. “A campanha foi diferente, foi uma campanha muito fria a princípio, esquentou no último mês, e ainda uma imprensa que apenas seguiu a fórmula presidencial, e ao resto da movimentação não lhe deu nem dois centímetros de espaço”, destacou Topolansky, que diz não saber o que faltou para que a campanha estivesse mais entusiasmada.
“Nós fomos crescendo, eu pude participar de praticamente todos os atos de encerramento de campanha, e foram todos bons. Não sei o que faltou, porque militar, militamos até morrer, capaz que morremos um pouco mais”.
Lucía não quis analisar, nem mesmo comentar, qualquer resultado preliminar que aos poucos era divulgado pelos diferentes canais de televisão, no momento em que a imprensa estava reunida na sede do partido Frente Amplio. E a todos os jornalistas que aproximavam-se da candidata, Topolansky explicava que era preciso esperar o resultado final, antes disso seria precipitada qualquer consideração. O segundo turno está marcado para o dia 30 de novembro, entre Tabaré Vázquez (FA), que terminou com 47%, e o representante da direita, Lacalle Pou (Partido Nacional), com 31%.
Um jornalista perguntou se ela estava tranquila frente aos resultados dessa eleição, Lucía ressaltou sua postura de mulher sempre lutadora, portanto, também sempre tranquila. “Sempre tranquila porque sou uma lutadora, e sempre estarei lutando em qualquer circunstância que se dê”.
*Todas as respostas de Lucía Topolansky contidas no texto acima foram dadas a colegas jornalistas, dos quais estive próxima, ontem, na sede do partido Frente Amplio. Eu não lhe fiz qualquer pergunta. Desde o início desta viagem a Montevideo, entrevistá-la era das coisas que mais gostaria de poder realizar. Assim, aproximei-me de Lucía para solicitar-lhe uma entrevista em outro dia e com mais tempo, ao que ela mostrou-se bem disposta, “anote o número do meu celular”, e disse para chamá-la na terça ou quarta-feira. E assim, possivelmente, o farei.
* Pragmatismo Político

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