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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 25, 2014

Política em nome de Deus




Por Lilian Primi
(…) Nós estamos indo, Satanás, para a política brasileira e as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja do Senhor. Saaai! Vai para fora igreja, vai para fora! (…) É chegada a tua hora, é chegada a hora da
igrejaaaaaaaaaaaaaaa!
Uma música grandiloquente segue no fundo e embala os movimentos ritmados, para frente e para trás, de
Ana Paula Valadão, concentrada em um teatro canastrão de transe messiânico: com olhos fechados
, no final do sermão, emite sons ininteligíveis e sincopados, um arremedo da glossolalia (falar em línguas). Para um pentecostal, essa é a “língua do espírito”, que fala pela boca do fiel em transe. Na política, o sermão da garota,
que não é pastora, mas filha de pastor – de Márcio Valadão, da igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte – e estrela internacional da música gospel, é a trilha sonora de uma guerra santa estranha à cultura brasileira, mas que tem tirado o sono de muitos políticos.
Se nos anos 1970, em plena ditadura, alimentados pela ânsia de derrotar Satanás os pastores repetiam que “crente não se mete em política e vota no governo” como um mantra, hoje eles apregoam “irmão vota em irmão”, o que levou a criação de uma bancada com mais de setenta membros no Congresso Nacional
capaz de barrar qualquer pauta que, porventura, contrarie a sua crença. Levou também à construção,
pelo segundo pleito seguido, de uma candidatura evangélica para o maior cargo executivo da nação, o
de presidente, na figura contraditória de Marina Silva, membro de uma das organizações da Assembleia de Deus, a maior igreja evangélica do Brasil, com cerca de 13 milhões de adeptos.
Leia a reportagem completa na edição 211 de Caros Amigos nas bancas ou loja virtual

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