A ópera do impeachment começa a avançar para a primeira semifinal.
Todos os capítulos convergem para o relatório de Gilmar Mendes sobre as contas de campanha de Dilma Rousseff e do PT - que deverá ser apresentado nos próximos dias.
Como se recorda, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Antonio Dias Toffoli fez uma manobra que acabou entregando as duas relatorias ao Ministro Gilmar Mendes. O relatório de Gilmar será entregue nos próximos dias.
Para preparar o terreno, nos últimos dias houve as seguintes manobras:
1. Hoje a Folha traz uma pesquisa Datafolha segundo a qual 60% dos brasileiros acham que Dilma está envolvida no escândalo. E a previsível Veja traz capa enfatizando ligações do Lava Jato com financiamento de campanha do PT.
2. Já era previsível que começassem as pressões sobre o Ministério Público e o STF (Supremo Tribunal Federal). Na semana passada, Veja esboçou o primeiro ataque, com uma nota sobre supostas negociações do PGR Rodrigo Janot com empreiteiras, visando tirar o governo das suspeitas. Não ousou mais que uma pequena nota que, já na segunda-feira, era repercutida pelo viking Aloyzio Nunes no Senado e se perdeu na balbúrdia da semana. Desde a campanha, a IstoÉassumiu o papel de linha auxiliar dos quatro grandes. Esta semana fez uma capa sobre o tema. São ataques preventivos visando inibir a atuação do Ministério Público, no caso da operação impeachment deslanchar.
3. Nas tentativas de inflamar as ruas, até José Serra saiu das sombras para discursar em um comício pró-impeachment, visando suprir a ausência de Aécio Neves. A mídia tratou de transformar os 800 em uma multidão.
Ventos pró e contra
Em cima desse vendaval, já tiveram início as manobras oportunistas.
A Globo é o grupo decisivo nessas jogadas. Na semana passada, Dilma foi visitada por João Roberto Marinho, o mais diplomático dos irmãos Marinho.
Na sequência, o Jornal Nacional soltou matéria favorável a Dilma, desmentindo nota anterior, nas qual supostamente um dos delatores teria implicado ela e Lula nas operações levantadas pela Lava Jatos,
Repare que nesse jogo, os fatos pouco importam. Se não tem acordo, sai a versão. Havendo acordo, dá-se o desmentido. E o preclaro Ayres Brito sustenta que a liberdade incondicional de imprensa - inclusive abolindo até o direito de resposta - é pre-condição para o direito do cidadão à informação.
Ontem, já circulavam notícias de que Dilma deixará para o segundo semestre a questão da regulação econômica da mídia; e não pretende mexer na questão da propriedade cruzada, para não embaralhar demais o meio campo. Pretender regular economicamente a mídia sem mexer na propriedade cruzada é o mesmo que ir a uma ópera com um protetor de ouvidos.
Nos próximos dias, as movimentações do Congresso e das manchetes de jornal elevarão a temperatura. Depois, caberá a Gilmar Mendes medir a temperatura, para avaliar até onde poderá avançar com seu relatório.
Conhecendo-se a falta de limites de Gilmar, a probabilidade maior é que vá longe.
Gilmar é tão sem limite que, em entrevista recente à revista veja sustentou que a jurisprudência do Supremo tende a considerar que direito de resposta - norma constitucional - em publicação impressa fere a liberdade de imprensa.
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