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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 11, 2014

A VIOLENCIA CONTRA A MULHER NÃO PODE TER VOZ NO CONGRESSO


Inimigo da democracia
É grave que o deputado federal mais votado do Rio, escolhido por mais de 460 mil pessoas, declare, no plenário da Câmara, que não estupraria a deputada Maria do Rosário porque ela "não merece". De imediato, o pronunciamento hediondo do parlamentar leva a uma pergunta lógica: quem, segundo ele, merece ser estuprada? Ele deveria responder a esta pergunta e o seus eleitores e simpatizantes deveriam refletir profundamente sobre ela.
A violência e a intolerância sempre estão presentes nos discursos do deputado, que constrói sua fama através da apologia à intervenção militar, à ditadura, à tortura e ao justiçamento. Apesar da defesa do Estado de exceção, ele é paradoxalmente um fenômeno que se aproveita das liberdades democráticas para clamar pelo autoritarismo e proferir discursos de ódio. É mais oportunismo político do que contradição. O parlamentar se escora na liberdade de expressão para jogar com o senso comum e reafirmar o que há de mais nocivo e odioso nele.
Ao fazer apologia ao estupro e a violência contra a mulher, ele extrapola os limites da liberdade de expressão para cair na esfera criminal - 50 mil pessoas são estupradas por ano no Brasil. Ao falar que não estupraria uma deputada porque ela não merece, ele quebrou o decoro parlamentar e pôs seu mandato em xeque. Não há como seu discurso ser relativizado, tanto pelo cargo que ocupa como pela contundência de sua declaração.
Seus eleitores e simpatizantes precisam compreender que o deputado não é só um adversário da esquerda, ele é um adversário da própria democracia. A luta política é pedagógica: as divergências entre esquerda e direita são importantes para o processo democrático. Mas com políticos defensores do autoritarismo e da violência não há diálogo nem pedagogia possíveis.
O PSOL apela ao Conselho de Ética e à Corregedoria Parlamentar para que o deputado tenha seu mandato cassado. Se você também acha que não pode haver espaço para este discurso no Congresso, mande o seu recado:
Corregedoria Parlamentar:
- Telefone: (61) 3215-8556 / 3215-8558
- E-mail: corregedoria.mesa@camara.leg.br
- Conselho de Ética: http://www2.camara.leg.br/a-camara/eticaedecoro/composicao
*IsisCatro

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