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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 03, 2015

Que jornalismo mais sem-vergonha esse, que varre notícias para debaixo do tapete, quando afetam os interesses

Após silêncio de 20 dias, JN emite nota sobre HSBC, sem a palavra sonegação #GloboMostraDARF




Depois de 20 dias do escândalo do HSBC suíço estourar no mundo, na edição de sábado (28) do Jornal Nacional rompeu discretamente o silêncio sobre o assunto e o apresentador substituto William Waack leu uma notinha sobre o caso HSBC, de apenas 68 palavras (nenhuma delas era "sonegação").

Waack estava com cara de quem lia uma nota fúnebre, em rápidos 29 segundos, sem uso de imagens, nem infográficos explicativos, nem entrevistas, nada. Apenas o locutor lendo a nota.

A nota do Jornal Nacional disse apenas:


A Polícia Federal vai investigar as contas de brasileiros do HSBC na Suíça.

As irregularidades foram denunciadas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos de 45 países. O HSBC teria ajudado clientes a esconder bilhões de dólares no país entre 2006 e 2007. A Polícia Federal quer saber se houve remessa ilegal de dinheiro.

O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, disse que há indícios para abertura imediata de inquérito.
Nada de falar que o dinheiro escondido é em grande parte para sonegar impostos.

Nada de falar que a Receita Federal também investiga o caso, justamente para autuar grandes sonegadores, a exemplo do caso em que a própria TV Globo foi autuada por sonegar Imposto de Renda na compra dos direitos de transmissão da Copa 2002 da Fifa através de operações financeiras em paraísos fiscais.

E nada de falar na CPI da sonegação do HSBC já instalada no Senado na sexta-feira.

Que jornalismo mais sem-vergonha esse, que varre notícias para debaixo do tapete, quando afetam os interesses dos donos da emissora ou de seus anunciantes.
*comtextolivre

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