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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 06, 2015

Jandira Feghali: os donos da bomba




Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
Em frente ao Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, São Paulo, fica a emergência do hospital São Camilo. O local, como se sabe, é porta de entrada constante de feridos e enfermos. Foi exatamente nessa local, no fim da noite de quinta-feira (30), que dois enormes parafusos voaram como bala após a explosão de uma "bomba caseira" a 200 metros, na calçada da sede do instituto do ex-presidente. Estes foram alguns dos milhares espalhados como tiros na Rua Pouso Alegre.
O artefato, jogado por um carro que cruzou a rua e foi flagrado pelas câmeras de vigilância do prédio, explodiu uma série de pedaços de metal com violência. A bomba chegou a abrir um buraco na porta de aço da garagem, onde funciona a organização criada pelo ex-presidente para incentivar políticas de cooperação entre o Brasil e países da África e América Latina.
O ataque foi tratado pelos veículos da mídia nacional como um fato qualquer, desses "que acontecem com qualquer um, em qualquer dia". Ficou clara a tentativa da imprensa em noticiar o episódio como uma ação de "vândalos". Alguns comentaristas, num ato covarde e irresponsável, chegaram a culpar o próprio Partido dos Trabalhadores, como uma espécie de armação. Atitude mentirosa e sem provas, num jogo quase sempre fascista.
A explosão é um alerta tardio para o paradigma social que tentam criar no País na base do discurso intolerante da extrema direita, muitas vezes propagado pela Grande Mídia como verdade. Com que intuito uma bomba seria arremessada na porta do edifício que tem como símbolo, o próprio Lula? A mando de quem?
Na madrugada de 27 de outubro de 1980, como crise terminal da Ditadura, uma bomba destruiu a redação carioca do jornal Tribuna da Luta Operária, publicado pelo Partido Comunista do Brasil, época ainda de semiclandestinidade. Por conta da anistia concedida um ano antes, abria-se a possibilidade de existência legal de partidos políticos como o nosso e outros também da esquerda, e o Regime atuava para contra-atacar a chamada "abertura política".
Houvera outros atentados naquele período, um na OAB, horas antes, que acabou vitimando a secretária do presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Lyda Monteiro da Silva. Ao abrir uma carta endereçada a ele, a explosão lhe tirou a vida.
Além do atentado à OAB, também ocorreram envio de bombas à Câmara Municipal do Rio e à sede da ABI. Em 26 de março de 1981, uma bomba também explodiu na sede do jornal Tribuna da Impressa, na Lapa, num ato creditado a defensores radicais da ditadura militar.
Não se pode esquecer da bomba no Riocentro, no mesmo ano, que seria instalada por militares num dos prédios em que ocorria uma festa pelo Dia do Trabalhador e que acabou vitimando dois soldados. Outro explosivo também fora usado na miniestação de energia da área, mas acabou não gerando o blecaute esperado.
Atacar as forças progressistas brasileiras tem sido a tônica dos golpistas, do fundamentalismo religioso e da oposição oportunista, que desta vez, na busca pelo poder, flerta abertamente contra o Estado Democrático de Direito. Em vez do debate de ideias, trazem à tona a violência, inflada por veículos de Comunicação sem compromisso com o direito ao contraditório. Quantas bombas mais explodirão ao avanço dessa raiva sem sentido, em que a democracia só tende a sucumbir?
O Instituto Lula segue, junto às autoridades competentes de São Paulo, como a Secretaria de Segurança e sua polícia civil, para investigação do caso. As imagens das câmeras de vigilância do bairro trarão pistas para que o veículo seja localizado e os criminosos julgados e punidos. Mas é fácil supor de onde parte esse tipo de ideia. Basta ler os jornais ou ligar a televisão. Não falta ódio. São todos donos da bomba.
*http://www.institutolula.org/jandira-feghali-os-donos-da-bomba

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