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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 07, 2015

Um agosto decisivo para a democracia

Um agosto decisivo para a democracia

Editorial do Portal Vermelho:

Já se esperava por um agosto de confrontos e fortes tensões e logo no início do mês as previsões se confirmam. O fim de julho foi marcado pelo atentado com uma bomba incendiária contra o Instituto Lula, fato que a mídia empresarial tentou escamotear e relevar, o que é até compreensível já que as digitais desta mídia estão claramente presentes na cena do crime, tal o grau de manipulação e mentiras que cotidianamente ela despeja tendo como alvos o governo e o PT, repetindo a mesma tática golpista usada contra Getúlio Vargas e Jango.

A prisão do ex-ministro José Dirceu, uma figura emblemática do PT, logo no primeiro dia útil do novo mês, mostra o que representará este período em termos de luta política. Revela também (mais uma vez) o quanto é viciada e parcial a condução da chamada Operação Lava Jato. O preceito, aliás, óbvio, lembrado insistentemente por diversos juristas, e inclusive por membros do próprio Supremo Tribunal Federal (STF), de que as “delações premiadas” por si só não servem de base para nenhuma condenação é hoje tratado como mera e dispensável formalidade, mas apenas quando o delator aponta pessoas ligadas ao PT e ao governo. As delações premiadas que citam membros importantes da oposição, principalmente quando fazem referência ao PSDB, são ignoradas e tornadas “invisíveis” pela “operação abafa” da mídia.

Salvador Allende, presidente chileno assassinado em um brutal golpe militar, dizia que “não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos”.

O aparelhamento da máquina estatal por juízes, delegados e procuradores que desejam ardentemente notoriedade midiática e que conduzem investigações - que deveriam ser imparciais e impessoais - de forma a servir aos seus objetivos políticos, ficou ainda mais indisfarçável quando o procurador da República Deltan Dallagnol, membro destacado da Operação Lava Jato, no último dia 27 convocou publicamente, de forma indireta, mas inequívoca, para o ato golpista do dia 16.

Desta forma, menos do que combater a corrupção, a Operação Lava Jato busca incessantemente alimentar e fortalecer uma agenda política conservadora e antidemocrática.

A prisão de José Dirceu retira do centro do noticiário o presidente da Câmara e declarado oposicionista Eduardo Cunha (PMDB/RJ) além de incentivar as mobilizações golpistas.

Ao contrário do que vaticina a mídia empresarial, a despudorada desvirtuação do aparelho judiciário e policial é uma grave ameaça à democracia e revela ainda a fragilidade das nossas instituições.

Algumas das vozes que poderiam, e mais do que isso deveriam, se levantar para defender o estado democrático de direito contra as manobras que o ameaçam, muitas vezes não o fazem intimidadas pela formidável chantagem da imensa máquina de comunicação a serviço da oposição de direita.

Como o Portal Vermelho já alertou em outras ocasiões, tais manobras exigem forte e decidida resposta do campo popular, e de todos os patriotas e democratas, pois o que se busca é garantir por meios escusos a volta da direita ao poder, o que geraria graves consequências para os trabalhadores, para a soberania nacional e para a integração da América Latina.

Neste sentido, valorizamos a série de manifestações e reuniões que o movimento popular e democrático está programando para este mês, com destaque para a Marcha das Margaridas, no dia 12, em Brasília, e o ato “Contra o retrocesso e pela democracia”, promovido pelas centrais sindicais, movimentos sociais e setores progressistas da sociedade brasileira no dia 20, que ocupará ruas e praças pelo país.

A mobilização total na frente institucional, na luta de ideias e nas ruas será determinante para que agosto seja o mês em que os valores da democracia e da justiça social prevaleçam diante da ofensiva golpista.

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