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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 06, 2015

Posted: 05 Nov 
Olga 2O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que sempre vem trazendo como propostas para as suas redações questões sociais, mais uma vez surpreende a sociedade com a temática: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. O trabalho escravo e a publicidade infantil foram temas abordados, mesmo não sendo assuntos recorrentes nos meios de comunicação, como a TV Globo. Além disso, alguns sites, comoeducação.uol, apostavam em temas para 2015, como a intolerância religiosa e a redução da maioridade penal, entretanto, a escolha para a redação foi de outro tema importante para a construção social e que contribuirá com a reflexão de milhões de pessoas sobre à violência contra as mulheres.
É preciso que todos os espaços disponíveis pautem a casa como o lugar mais inseguro para a mulher, onde 48% das mulheres são agredidas (no caso dos homens, apenas 14% foram agredidos no interior de suas casas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE, 2009). E onde não há espaços disponíveis, é necessário criá-los para que se diga que, em 2014, do total de 52.957 denúncias de violência contra a mulher, 27.369 corresponderam a denúncias de violência física (51,68%), 16.846 de violência psicológica (31,81%), 5.126 de violência moral (9,68%), 1.028 de violência patrimonial (1,94%), 1.517 de violência sexual (2,86%), 931 de cárcere privado (1,76%) e 140 envolvendo tráfico (0,26%) e, principalmente, para que esses atos não fiquem impunes, para que as mulheres se organizem e lutem por uma sociedade justa.
Outros dados, do portal Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha – A lei é mais forte, ainda chamam a atenção: dos atendimentos registrados em 2014, 80% das vítimas tinham filhos, sendo que 64,35% presenciavam a violência e 18,74% eram vítimas diretas juntamente com as mães. Fica claro, não só por a mulher ser maioria, que esse tipo de violência prejudica a sociedade como todo, mas também por afetar diretamente uma grande quantidade de crianças (são vários futuros adultos que terão dificuldades educacionais e nos relacionamentos interpessoais) e a economia do país (por perca de produtividade e aumento do uso de serviços sociais).
Diante desse quadro alarmante, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou neste ano um estudo sobre a efetividade da Lei Maria da Penha, mostrando que a Lei fez diminuir em apenas cerca de 10% a taxa de homicídio contra as mulheres dentro das residências. O que deixa o Brasil no 7º lugar no ranking de países nesse tipo de crime. Junte-se ao Movimento de Mulheres Olga Benário!
 Rita Silva, estudante de Letras da UFRPE.
*AVerdade

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