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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 06, 2015

MINERAÇÃO DESTRÓI NOSSOS RIOS E AGORA MATA NOSSO POVO


Brigadas Populares - Minas Gerais
12 h
MINERAÇÃO DESTRÓI NOSSOS RIOS E AGORA MATA NOSSO POVO
O rompimento de uma barragem de rejeitos de minério de ferro da empresa Samarco Mineradora S.A. inundou, na tarde de quinta-feira (5), Bento Rodrigues, o subdistrito de Santa Rita Durão e distrito de Mariana - MG. De acordo com dados do Comitê Brasileiro de Barragens, o rompimento ocorrido hoje pode ser o mais grave já registrado no Brasil.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais de Mariana (Metabase), são estimados 15 mortos e 45 desaparecidos no subdistrito de Bento Rodrigues. Ainda segundo dados do Corpo de Bombeiros de Ouro Preto, há gente soterrada e ilhada.
A água lamacenta e contaminada invadiu Bento Rodrigues, chegou também no distrito de Santa Rita Durão e há indícios de que tenha atingido outros distritos na região. Para o coordenador das Promotorias de Defesa do Meio Ambiente de Minas Gerais, Carlos Eduardo Ferreira, ‘trata-se de uma tragédia sem precedentes na história de Minas”.
A falta de responsabilidade e preocupação socioambiental das empresas responsáveis pelas atividades mineradoras, entretanto, é recorrente. Moradores de Mariana passam por problemas constantes de falta d’água, nuvem de poeira, especulação imobiliária e uma série de outros transtornos gerados pela mineração na região. Importante frisar também que essas mesmas empresas utilizam nossas águas de forma irresponsável em pleno momento de crise hídrica no país e violam, diariamente, uma série de direitos humanos em atividades que priorizam apenas o lucro.
Em nota ao G1, a empresa Samarco afirmou que não é possível confirmar a causa e extensão do ocorrido. De acordo com o coordenador do Núcleo de Combate aos Crimes Ambientais do Ministério Público, Carlos Eduardo Ferreira Pinto, barragem não se rompe por acaso. O Ministério Público pretende instaurar um inquérito civil para apurar as causas do rompimento e propor uma ação contra os responsáveis.
A barragem fica localizada a cerca de 25 km do centro da cidade de Mariana e os desabrigados estão sendo encaminhados para a Arena Mariana. Colchões, roupas, fraldas descartáveis, água mineral e produtos de higiene pessoal estão sendo recolhidos no local.
Os distritos que margeiam as áreas de mineração, como é o caso de Bento Rodrigues, são regiões duramente abandonados pelo poder público e pelas grandes empresas mineradoras. As assistências mais básicas não percorrem a distância que separa esses lugares do resto do mundo. Quando chegam, ficam pouco, vão logo embora para não mais voltar. Os moradores de Bento Rodrigues foram brutalmente atravessados pela lama do capital, da ignorância, da fúria sem nome que respiramos assiduamente nos dias de agora. É sintoma de um mundo desenfreado que não sabe para onde vai, assim como a água suja e tóxica que derrubou paredes tão frágeis e inocentes.

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