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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 16, 2015

Os equivocos do Império no Oriente: Putin sai forte e Obama fraco da crise do terrorismo

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Se continuar fazendo o papel de poodle de Obama, Hollande vai ser bombardeado pela opinião pública francesa (mviva)

Tanto é assim que, horas antes do atentado em Paris, Barack Obama havia dado uma declaração, de rara infelicidade” de que os grupo estava abalado e contido. O “inimigo a ser batido” era Assad, não o Isis.
Os tiros na noite parisiense mostraram que não.
O jogo duplo da OTAN, que fechava os olhos às possibilidades de que os grupos rebeldes tivessem ligações com o Isis – a própria França admitiu estar armando os rebeldes – criou uma situação de completo vazio de poder e de generalização dos conflitos, formando a maré humana que se despejou sobre a Europa, na qual os simpatizantes do grupo terrorista, claro, usam como covarde cobertura para suas ações.

Resultado de imagem para the russian president Putin and BacharHoje, na reunião do G-20, o presidente russo Vladimir Putin capitalizou a ofensiva de seu país contra o Exército Islâmico: “Infelizmente, ninguém está a salvo de atentados terroristas.a França estava entre os países que mantinham uma postura muito firme contra o presidente sírio, Bashar al Assad”, disse.”Isto salvou Paris dos ataques terroristas? Não”.
Putin já disse que não pretende a continuidade incondicional de Assad, mas não aceita – e não considera viável – qualquer acordo na Síria do qual o governo do país seja excluído. Sugeriu que a “oposição armada” a Assad ataque o Isis e ofereceu até apoio aéreo para isso.
Está emparedando os americanos, porque a Europa, assustada, quer uma solução de curto prazo para o Isis, sabe que não a terá sem presença física de seus opositores e que a tal “oposição síria” não passa de grupos sem coordenação e sem identidade. Muito provavelmente, boa parte dela é composta de grupos tribais – como aconteceu na Líbia – que não tem capacidade de impor uma ordem em escala nacional, como não têm os governos instalados pelo Ocidente no Iraque e no Afeganistão.
Putin, o “duro”, está dando um banho diplomático nos americanos. Já fez a sua exibição de força, exibiu seu poderio bélico – sobre o qual havia dúvidas tecnológicas – e estabeleceu um planejamento coordenado entre bombardeios aéreos e operações terrestres do exército sírio, o qual nem a velhinha de Taubaté acredita, a esta hora, que atua sem a orientação dos russos.
E sabe que, com a inevitável adesão da Europa a uma operação coordenada entre seus países com a presença da Rússia, seu país terá uma posição de protagonismo na rearrumação de forças naquela parte do Oriente Médio, com o Irã, a maior potência local (porque a Arábia Saudita fica capenga por seu apoio aos sunitas do Isis) a tiracolo.
O videogame da guerra aérea é importante, decisivo e, por conta da tecnologia, devastador. Mas a guerra se ganha ou perde em terra e quem tem presença no tabuleiro, sabe Putin, é a Rússia.

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