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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 06, 2015

Quando o homem coloca o arreio e o cabresto no cavalo ele sente que existe poder nele e a satisfação que ele sente em submeter o outro é a mesma sensação experimentada por um pastor, padre, e semelhantes

O casulo, a baia e a igreja

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Por Ana Burke
Eu tenho a impressão, isto é, eu tenho a certeza, de que grande parte dos seres humanos morrerão dentro do seu casulo na fase de larva; alguns, talvez, venham a atingir a fase de pupa, mas o fato é que a maioria nunca passará por uma metamorfose completa e satisfatória a ponto de se tornar “borboleta”. Por que eu tenho esta certeza? Porque eu já fui uma larva que não se contentou em ser larva para sempre. A metamorfose é dolorida demais e não é para todos. É necessário um grande dispêndio de energia para romper o casulo e deixar de ser uma pupa. As larvas ganham o mundo e a liberdade, quando rompem o seu casulo, e abrem as suas asas. Já com o ser humano é diferente e ele continua dependente e se arrastando por toda a sua vida, esperando, que após a morte, ele consiga romper o casulo, e completar a sua metamorfose. E isto não depende dele, mas da vontade do seu Deus.
Ele espera pela vontade de Deus como uma criança espera que o Papai Noel lhe traga um presente no Natal pelo seu bom comportamento. E então, ele se encolhe e congela os seus desejos, que tem que coincidir com os desejos do seu deus, e os desejos do seu Deus, é que ele afogue os seus instintos naturais assim como o dono faz com o cavalo quando lhe coloca os arreios.
Escoicear é pecado para o cavalo assim como também é pecado olhar para os lados e para o alto. E para evitar que pequem, os seus donos inventaram a viseira (antolhos), o arreio, o cabresto e o chicote. A baia mantêm os cavalos nos seus devidos lugares, e separados do resto do mundo, assim como o casulo tenta manter a larva na sua forma de pupa, que só deixará de ser pupa, se usar de muita energia para romper, destruir e abandonar a comodidade, conforto e a suposta proteção que o casulo lhe oferece.
Quando o homem coloca o arreio e o cabresto no cavalo ele sente que existe poder nele e a satisfação que ele sente em submeter o outro é a mesma sensação experimentada por um pastor, padre, e semelhantes, em relação às pessoas evangelizadas ou doutrinadas. Tais pessoas aceitam o arreio e o cabresto com docilidade e reagem violentamente a qualquer estímulo que tenta afastá-las da sua servidão.
Os caprichos de deus quando exige ser amado, adorado e glorificado são os mesmos caprichos do Ser humano. Ser um ídolo, amado e admirado pelos seus iguais é a luta da maioria, que usa de todos os artifícios ao seu alcance para obter atenção, e respeito. A fama e o prestígio é o meio mais eficiente de dominação de um, e submissão do outro. É o mesmo que dizer a si próprio, “Eu sou o que você não é, e eu tenho, o que você não têm”.
A vontades humanas são vontades que não passam de instintos de dominação. O Ser Humano caça como qualquer outro animal, luta pela sobrevivência como qualquer outro animal, nasce, cresce, envelhece e morre como qualquer outro animal, ou ser vivo. O que o diferencia dos outros animais são as suas crenças e entendimentos de que ele é um animal diferenciado com alma, espírito e pode evoluir…errado. Supondo que existam apenas dois seres humanos no planeta, um deles, com certeza, vai subjugar o outro e, se faltar alimento, um comerá o outro. É assim que somos…e a evolução espiritual ou síndrome de…“ tornar-se um deus”…igualar-se a um deus…não passa de uma síndrome, de uma patologia que atinge principalmente os mais fracos desta teia “alimentar” que o próprio ser humano criou para si mesmo. Um está sempre pronto para comer o outro e, falando do cristianismo, uma grande parte dos seres humanos comem todos os dias o corpo de Cristo. Este é um ensinamento e um adestramento importante. Se um dia for necessário, basta dar a ordem: Pega, mata…e come.
*https://jarconsian.wordpress.com/2015/10/13/o-casulo-a-baia-e-a-igreja/

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