Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, abril 04, 2011

A elite, tão “moderna”, é arcaicamente bairrista

A manchete da Folha, hoje – “Salários do Rio ultrapassam os de São Paulo” – dá um vezo bairrista a um fenômeno que -  a própria matéria o registra – nada tem a ver com a velha e ultrapassada disputa cariocas x paulistas.
A história é bem outra e a repórter Mariana Schreiber a descreve corretamente: as causas principais para esse fenômeno  foram a transferência de renda por meio do Bolsa Família, o forte aumento do salário mínimo e os investimentos em infraestrutura.
O próprio gráfico publicado pela edição impressa da Folha mostra que, em matéria de crescimento da renda, o Estado do  Rio não teve qualquer salto, muito pelo contrário.
O crescimento maior na região metropolitana se explica por duas razões. A primeira é que, percentualmente, os níveis de pobreza – atingidos pelo Bolsa Família – eram muito mais altos no Grande Rio que em São Paulo. A segunda é que o peso dos funcionários públicos federais e empregados de empresas estatais, que saíram de um longo período de arrocho nos anos FHC, aqui, é muito maior.
Crescimento imenso teve, sim, a Região Nordeste. Pela primeira vez, começamos a entender que o Brasil não pode ser um mar de injustiça com algumas poucas ilhas de prosperidade.
Não pode haver prosperidade sustentável, aliás, em meio à miséria. Os habitantes das grandes e mais ricas cidades sabem, na própria pele, que a imigração maciça que vivemos nos anos 70 e seguintes corrói o ambiente urbano e o convívio social.
A distribuição menos ruim de renda dos últimos anos, obtida não pela retirada de privilégios, mas apenas pela melhor distribuição do crescimento da economia.
Mas a elite brasileira, rançosa como ela é, não consegue imaginar-se parte de uma nação, preferindo achar uma insolência pobre ter carro, babá ter direitos e nordestino ter salário.
PS. A matéria, na íntegra, é restrita a assinantes, mas você pode lê-la no Nassif.
*tijolaço 

Paulistas colhem o que plantaram

Nenhum comentário:

Postar um comentário