Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, abril 17, 2011

Santos Futebol Clube - O Time que Desequilibrou o Mundo



A maior linha de ataque do futebol. Agachados as estrelas: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

post dedicado ao maridão Gregório Macedo.

Não sou muito ligada ao futebol, mas vivendo há mais de 34 anos com um torcedor do Santos e Fluminense era de se esperar, pelo menos, que eu assimilasse alguma coisa.

Mas definitivamente o futebol não é minha praia, por isso passo a bola para quem entende do assunto.
O texto abaixo é de Alceu Maynard e foi publicado no Portal de Música – Cultura Brasil – da Fundação Padre Anchieta.




De um modo geral, todos os clubes de futebol tem uma boa história para contar. Luta, perseverança, superação, conquistas e glórias pontuam muitas delas. Porém, um clube conseguiu um feito único na história do futebol mundial: parar uma guerra.


Fevereiro de 1969. O Santos, bicampeão mundial, era a maior atração que se podia imaginar quando o assunto era futebol. Uma constelação de craques, capitaneados por sua estrela-maior, Pelé, excursionava pelos quatro cantos do mundo encantando multidões. O comércio fechava as portas e estudantes faltavam às aulas para ver “o maior espetáculo da Terra”.
Lamentavelmente, ao chegar no Congo Belga – atual República Democrática do Congo –, a equipe encontrou um país em guerra. Mas naquele dia, grupos rivais de Kinshasa e de Brazzaville interromperam o confronto para que as cidades pudessem assistir aos jogos dos “embaixadores do futebol”. Gilmar, Rildo, Lima, Pelé, Edu e companhia garantiram o espetáculo em terras africanas.


Em 1912, na cidade litorânea de Santos, a principal exportadora de café do mundo, três esportistas - Francisco Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Junior - fundaram o Santos Futebol Clube.
A cidade onde Charles Miller aportou trazendo as duas primeiras bolas de futebol, vinte e dois anos depois, ganhava um clube que defenderia seu nome e divulgaria o talento brasileiro em todo o globo.


Quando Arnaldo Silveira marcou o primeiro gol em uma partida oficial do time, começava a se estruturar a agremiação que, dois anos após a profissionalização do esporte no país, conquistou o seu primeiro Campeonato Paulista, em 1935. Neste ano consagrou-se o primeiro artilheiro do Santos, Araken Patusca, irmão do atacante Ary, que anteriormente havia defendido o alvinegro praiano.


Vinte anos mais tarde, o Santos chegou ao seu segundo título paulista e, na sequência, o bicampeonato, em 1956. Manga, Zito, Tite, Ramiro, Del Vecchio e Pepe, o eterno “canhão da Vila”, iniciaram uma época de domínio no futebol brasileiro que duraria muitos anos.
Com a chegada do garoto Pelé, em 1956, a hegemonia do Santástico estendeu-se até o fim do seu reinado, em 1974.
Ainda em 1956, o cantor Francisco Egydio gravou pela Odeon "Viva o Santos", uma homenagem de Júlio Nagib à recente conquista estadual. Versátil, Egydio cantava boleros, sambas e marchas, o que garantiu sua popularidade no rádio daquela década.
Em 1958, Egydio gravou um compacto duplo dedicado ao seu time do coração. Lançado pela Odeon , o 78 r.p.m. trazia de um lado o samba "O Santos ganhou" (Nilo Silva, Marzinho e Nandinho) e do outro lado o hino oficial do clube, "Glória ao Santos F.C." (Carlos Henrique Paganetto Roma).


Embora considerado hino oficial do clube, a marcha mais popular entre os torcedores santista é a “Leão do Mar” (José Maugeri Netto e Antonio Maugeri Sobrinho), composta em 1956 para homenagear o time campeão. Ouçam: 





Iniciada a “Era Pelé”, tornou-se monótono ver o time santista erguer taças. Torcedores de outros clubes sentiam um misto de emoções, admiração e ódio correr nas veias. Já o santista, ignorava discussões futebolísticas: seu time elevou-se a outro patamar esportivo. Rádio, televisão ou arquibancadas testemunharam extasiados a conquista de 22 títulos entre os anos de 1960 a 1969, nove deles consecutivos.
Flamenguista, Jorge Benjor dedicou diversas músicas aos ídolos e ao clube rubro-negro durante sua carreira. A única exceção surgiu em 2004, no álbum Reactivus amor est (Turba Philosophorum), com a faixa "O nome do rei é Pelé".






Zito (E), Pepe e Pelé

Mas Pelé não jogava sozinho. Por muito tempo foi acompanhado de campeões e bicampeões mundiais, jogadores que representavam a nata do futebol brasileiro.

Na primeira conquista brasileira da Copa do Mundo, o garoto Pelé representou a equipe alvinegra ao lado dos companheiros Zito e Pepe. Já 1962 foi um ano especial. A “Sele-Santos” conquistou sua primeira Copa Libertadores da América e o Mundial Interclubes vencendo o Benfica, do craque Eusébio.

A confiança dos portugueses era tão grande que, supostamente, vendiam ingressos para a terceira partida, acreditando na vitória do time lusitano. No entanto, foram atropelados na própria casa por 5 a 2. Neste mesmo ano, o Brasil conquista sua segunda Copa do Mundo com sete jogadores santistas: Gilmar, Mauro, Zito, Mengálvio, Coutinho, Pelé, Pepe.


No ano seguinte, o Santos veio embalado para a Libertadores. As partidas finais contra o Boca Juniors, da Argentina, não foram nada fáceis, porém, nem os hermanos conheciam a receita para barrar Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Tabelinha que você ouve em uma narração na música "O Santos era campeão", de Inácio Zatz.

A conquista deu o direito de disputar o Mundial de Interclubes novamente, desta vez contra os italianos do Milan. Após perder a primeira partida e vencer a segunda, o desempate foi realizado no Maracanã, com mais de 120 mil espectadores. A partida foi muito disputada (e violenta), até que o juiz marcou um pênalti a favor do Santos, convertido por Dalmo. Os italianos perderam a cabeça e começaram a distribuir pontapés, ficando com menos jogadores em campo. O Santos administrou a partida e garantiu o caneco mais uma vez.

Enquanto muitos times ainda sonham com o maior torneio das Américas, o Santos comemorou duas vezes o bicampeonato da Libertadores.

Atuais bicampeãs do torneio na edição feminina de futebol, “As Sereias da Vila” consagraram o escudo do alvinegro praiano em 2009 e 2010. O reinado estava completo. Além do “Rei do futebol”, a Vila Belmiro lotou de súditos para ver Andréia Suntaque, Renata Costa, Maurine, Fran, Ester, Grazi e, é claro, a “Rainha do Futebol”, Marta, eleita pela FIFA a melhor futebolista do mundo por cinco vezes consecutivas, um recorde entre mulheres e homens. 






Chamada pelo próprio Pelé de "Pelé de saias”, Marta entrou na calçada da fama do Maracanã, sendo a primeira e, até agora, a única mulher a deixar a marca dos pés nesse local. Para elas, o compositor e santista fanático Fernando Peres dedicou o samba "Sereias da Vila".


De sereias a meninos da Vila, o Santos se destaca com sua escola de craques. Afinal, quem não sonha entrar para a maior galeria de ídolos do futebol brasileiro? Jogar no campo que foi palco de partidas memoráveis e ainda ter o Rei assistindo aos jogos do camarote é um privilégio.

A primeira geração dos "Meninos" surge em 1978, com Nílton Batata, Juary, Pita e companhia. O time faturou o estadual daquele ano.

A segunda, em 2002, teve a dupla Diego-Robinho, além de Renato, Léo e Elano, peças fundamentais na conquista do Campeonato Brasileiro em cima do Corinthians. Elano e Robinho ainda ficaram no elenco santista que faturou novamente o título do brasileiro em 2004. E, agora, ambos retornaram ao clube que, entre uma pedalada e outra, acelera com a terceira geração que já teve André e Wesley, ao lado dos remanescentes Paulo Henrique Ganso e Neymar.

Com futebol alegre e rápido, os "Meninos" trouxeram mais um título inédito ao clube, a Copa do Brasil, em 2010. O ataque foi arrasador e emplacou algumas goleadas: 10 a 0 contra o Naviraiense e 8 a 1 contra o Guarany. Neymar marcou cinco vezes neste jogo.


Mais uma vez, o Leão do Mar marcou um gol para o futebol nacional. Há tempos que nenhum time brasileiro encantou tanto os fãs do esporte. Glória para a mais famosa vila do mundo, o templo do futebol.




************

No post original você poderá ouvir as músicas citadas e acessar vários outros links relacionados ao Santos Futebol Clube. Divirta-se, clicando AQUI.

“Perdão, não tem” (Edson Arantes do Nascimento) # Pelé e Elis Regina.

*Luisnassif

Nenhum comentário:

Postar um comentário