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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 06, 2011

Fome: cresce a extrema pobreza nos EUA







Por Altamiro Borges

Num artigo contundente publicado no jornal mexicano La Jornada, David Brooks apresenta a face cruel dos EUA pouco difundida pela mídia colonizada. Mostra que a pobreza extrema cresce em ritmo acelerado no império. Já as poderosas corporações batem recordes de lucros. No capitalismo, a crise mata de fome o trabalhador e engorda ainda mais os tubarões.

“Aqui milhões padecem de fome. Não estamos falando do Haiti, nem de países africanos, nem asiáticos, nem das ‘favelas’ sul-americanas, e sim do extraordinário fato de que no país mais rico do mundo, milhões sofrem do que se chama insegurança alimentar, o que o cristianismo traduz como: não saber de onde virá a próxima comida”, afirma, indignado, David Brooks logo na abertura do seu artigo.

16 milhões de menores na miséria

“Nos EUA é permitido – sem transformar em escândalo nacional – que as crianças não tenham o suficiente para comer. O programa nacional de televisão da CBS News, ‘60 minutos’, mostrou recentemente as faces e as histórias de famílias de sem-teto, cujos filhos falavam o que sentem quando não comem o suficiente. Mais de 16 milhões de menores de idade vivem na pobreza – dois milhões mais que antes da crise econômica que explodiu em 2007”.

Um das crianças entrevistadas na Flórida explicou o que se sente quanto tem fome. “É difícil. Não dá para dormir. Dorme-se por cinco minutos e desperta novamente. Dói o estômago. É porque não tem alimento nele”. Muitas famílias contaram à CBS que jamais imaginaram ficar sem casa ou sem alimento suficiente para seus filhos, já que gozavam de uma vida de classe média. “Com a crise, tudo acabou”, aponta o jornalista do La Jornada.

Milhares alojados em motéis

Parte da reportagem da CBS foi feita na mesma zona conhecida como o lugar mais feliz do mundo – nos condados em volta da Disney World, em Orlando, Flórida. A CBS detectou ali 67 motéis que alojam mais de 500 crianças sem-teto. Em volta das escolas do condado de Seminole, mil estudantes perderam recentemente suas casas. “O governo aloja milhares de famílias de sem-teto em motéis por todo o país durante um período”.

Segundo recente estudo da Feeding, a maior organização do país dedicada à assistência das famílias carentes, mais de um a cada seis estadunidenses (16,6% da população) sofreu de insegurança alimentar em algum momento de 2009. A entidade hoje presta serviços de apoio para 37 milhões de estadunidenses, entre eles 14 milhões de crianças, um aumento de 46% na comparação com 2006.

“A fome está por todas as partes”

“Até na capital do país mais poderoso do mundo há cada vez mais fome. Na zona metropolitana de Washington, mais de 400 mil residentes sofreram períodos de fome durante a recessão”, relata Brooks. Outras partes do país, em zonas ricas ou marginalizadas, também registraram cifras crescentes de fome, segundo recente relatório da Feeding.

“A maioria ficaria surpresa ao saber das dimensões da fome em suas comunidades. As pessoas tendem a pensar que a fome ocorre em algum outro lugar, mas não no seu quintal. Mas o informe mostra que a fome está por todas as partes de nossa nação agora mesmo”, comentou Vicki Escarra, diretora da Feeding América, ao jornal Washington Post.

Obama ainda corta gastos sociais

Diante da gravidade da situação, qual é a resposta do governo? Barack Obama propõe reduzir a assistência alimentar aos necessitados, promover mais cortes no gasto social e reduzir os impostos dos milionários. Para Brooks, esta conduta, que nega os compromissos de campanha do “democrata”, tem elevado o tom das críticas ao seu governo.

Mark Bittman, crítico de gastronomia do jornal New York Time, anunciou que se somaria ao jejum de uma semana com quatro mil pessoas por todo o país, com o propósito de chamar a atenção da opinião pública sobre as propostas de redução drástica dos programas de assistência aos pobres. “Os cortes para supostamente reduzir o déficit farão com que mais pessoas morram de fome e vivam miseravelmente”, explicou.

“A fome não é prioridade nos EUA”

A revolta aumenta quando se observa a opulência dos ricaços e o aumento dos lucros das corporações empresariais em plena crise. Em 2010, os lucros empresariais cresceram a taxas mais aceleradas desde 1950, enquanto houve um recorde no número de pessoas que dependem da assistência federal para comer. Como já apontou o cineasta Michel Moore, os 400 estadunidenses mais ricos têm mais riqueza que a metade dos lares do país, enquanto 45% dos estadunidenses gastam um terço de sua renda em alimentos e uma a cada quatro crianças dorme com fome no país.

O aumento dos protestos nos EUA parece, no entanto, não incomodar a elite e seu governo de plantão. “A fome não está entre as prioridades das cúpulas políticas e econômicas deste país. Aparentemente, a segurança alimentar não é assunto considerado de segurança nacional”, conclui David Brooks.

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