ANTÍGONA E A GRÉCIA, HOJE
Via PCB
Crédito: jcrs.uol.com
Humberto Carvalho (PCB/RS)
O
resultado das eleições de 6 de maio, na Grécia, indicam, claramente,
uma rejeição às medidas de austeridade exigidas pela "Troika" (Comissão
Européia, Banco Central Europeu e FMI) como solução para a crise
econômica e fiscal grega, com cortes de salários, perdas de direitos
trabalhistas e de benefícios previdenciários.
De
resto, o mesmo se pode dizer, de um modo geral, em relação às eleições
presidenciais em França, às eleições municipais na Itália e na
Inglaterra, onde os partidos conservadores, adeptos da adoção daquelas
medidas, sofrem derrotas significativas.
Na Grécia, entretanto, existem particularidades que tornam o resultado eleitoral uma singularidade, para dizer o mínimo.
Com
efeito, não ocorrendo uma concentração considerável de votos em
qualquer partido e, em decorrência, inexistindo uma predominância de
assentos junto ao Parlamento grego, os gregos não conseguem formar um
novo governo. Fracassaram as tentativas de formação de um governo com
base no partido que recebeu mais votos, oNova Democracia (que obteve
18,9% dos votos). Após, foi convocado o partido Syriza, segundo melhor
colocado nas eleições (16,8%), e a tentativa também fracassou.
Convocou-se, então, o Pasok (13,2% dos votos) e o resultado, mais uma
vez, foi infrutífero. Finalmente, foram convocados, pela Presidência da
república, esse três partidos para se encontrar uma solução. Noticiou-se
a frustração desse encontro; isto é, não se chegou à formação de um
novo governo. A data final para a formação de um novo governo é o dia 17
do corrente mês e ano. Até lá, certamente serão convocados os partidos
que tiveram um menor número de votos para, mais uma vez, tentar a
criação de um governo de coalizão ou de unidade nacional. O histórico
KKE (8,5%), se for convocado, já deu, antecipadamente, sua resposta: não
participará de qualquer governo de coalizão ou de unidade nacional em
virtude das profundas divergências com os demais partidos no que diz
respeito às exigências da Troika.
Se, mais uma
vez restar frustrada essa tentativa, restará, como último recurso legal,
a convocação de novas eleições, previstas para junho desse ano na busca
de uma maioria parlamentar que possibilite, finalmente, a formação do
futuro governo.
Analistas esperam, das eventuais
e futuras eleições, uma maior concentração de votos em Syryiza que,
contraditoriamente, defende a manutenção da Grécia na Zona do Euro e
rejeita as medidas de austeridade. Se isso ocorrer, ou, ao contrário, se
houver nova dispersão de votos com a conseqüente impossibilidade de
formação de um governo, a Grécia entrará em default (para usar a
linguagem dos banqueiros); isto é, ocorrerá o inadimplemento de
pagamentos da dívida grega. Isto - o não pagamento da dívida -
implicaria na saída da Grécia da Zona do Euro.
Embora
o Tratado de Maastrich não trate, clara e detalhadamente, da saída de
países daquela zona, a Grécia se veria forçada à saída. Se a Grécia sair
da Zona do Euro, terá de voltar ao dracma, ou a um novo dracma, como
moeda nacional, com uma desvalorização, em relação ao euro, de mais de
50% de seu valor. Como as dívidas da empresas gregas se dão em euros,
tal medida de desvalorização da moeda implicaria na falência de muitas
empresas. Nos marcos do capitalismo, isso tudo resultaria em
hiperinflação, desvalorização da moeda, falências, colapso bancário e
mais desemprego que hoje está em torno dos 22%.
Por
outro lado, não interessa à Zona do Euro a saída da Grécia. Por quê?
Porque a saída e o default gregos trariam conseqüências funestas a todo o
sistema bancário europeu.
Coloque-se na posição
de um "investidor capitalista" e se pergunte, claramente, se, nessa
condição e diante do default grego, você investiria dinheiro em
Portugal, Espanha ou Itália? Claro que não, pois tais países estão em
situação muito parecida à grega. Restaria ao Banco Central Europeu fazer
tais investimentos e se esse instrumento imperialista não puder fazê-lo
(pela inexistência de fundos suficientes), a estabilidade da euro-zona
estaria condenada a um desequilíbrio desconcertante.
Então,
o problema da Grécia, revoltada em relação à Troika, não é somente dos
gregos, mas de toda a Europa, se não for de todo o sistema capitalista.
O
que restará à burguesia grega para cumprir as determinações da Troika,
em detrimento da vontade do povo grego, já expressa nas eleições, a não
ser o golpe de estado, a ditadura, ou, o pior, uma guerra civil?
Sófocles
compôs o personagem Antígona que se rebela contra as determinações de
Creonte, a partir de uma contraposição à Ismene, moça doce, tímida,
submissa e acomodada, irmã da jovem Antígona. Creonte condenou Antígona à
morte, por sua rebeldia, mediante encerramento, em vida, no sepulcro
de sua família. Mas, Antígona se antecipa e se enforca.
Na
tragédia moderna, a Troika (lembrando Creonte) condena à Grécia
(lembrando Antígona) a ser sepultada viva pela adoção das medidas de
austeridade e Grécia–Antígona pode se enforcar pela adoção das
conhecidas, e em parte já referidas, medidas capitalistas.
Antígona–Grécia
se libertará da situação trágica em que se encontra, não pelo
enforcamento capitalista, mas trilhando o caminho do socialismo.
*GilsonSampaio
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