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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, maio 04, 2012

CPI tem que caçar as bruxas, sim

Se é para blindar tudo, por que a CPI? 
A palavra da hora em Brasília é blindagem. Está tudo blindado para que nada aconteça de imprevisto. Mas se é para ser assim, por que criaram a CPI do Cachoeira, com o apoio da ampla maioria de parlamentares de todos os partidos, na Câmara e no Senado?
Se for para investigar só a holding da contravenção montada por Carlinhos Cachoeira, é perda de tempo, pois a Polícia Federal e o Ministério Público já fazem isso há dois anos, apuraram tudo, o inquérito foi enviado ao STF e o acusado está preso.
Seu parceiro e braço parlamentar, o quase ex-senador Demóstenes Torres, já está no corredor da morte política só esperando a hora da degola.
Depois de três meses de vazamentos deste inquérito noticiados diariamente pela imprensa, esperava-se que a CPI fosse ampliar o leque, investigando outros tentáculos do grande polvo da corrupção criado por Cachoeira nos três poderes, em grandes empresas privadas e na imprensa, mas o relator Odir Cunha (PT-MG) já avisou nesta quarta-feira, logo na abertura dos trabalhos, que podemos tirar o cavalinho da chuva.
"A agenda prioritária buscará caracterizar a organização criminosa do senhor Carlos Augusto Ramos", decretou Cunha. E ainda é preciso caracterizar alguma coisa depois de tudo o que já foi apurado?
Nós temos o direito de saber o que ainda não veio a público, ou ficou escondido nos rodapés dos jornais _ como, por exemplo, as relações do contraventor com setores da imprensa, uma tabelinha entre fontes e repórteres que atendia a interesses comuns.
Antes que os integrantes da CPI armassem seu esquema de blindagem para proteger aliados, os principais orgãos da imprensa brasileira já tinham feito o mesmo, defendendo em bloco e atacando em massa. A participação de profissionais e veículos na história simplesmente sumiu do noticiário.
A dobradinha formada por Cachoeira e jornalistas da revista "Veja" ficou evidente em pelo menos dois episódios que provocaram as maiores crises políticas no governo Lula: a gravação da  conversa do contraventor com Valdomiro Diniz, assessor do então ministro José Dirceu, e as cenas da corrupção flagradas nos Correios, que deram origem ao mensalão.
Nos dois casos, o contraventor ofereceu de bandeja aos profissionais da revista as imagens em que se basearam as denúncias, gravadas por arapongas a seu serviço, mantendo a partir daí uma relação constante para plantar notícias.
Isso não mereceria pelo menos uma investigação? Até que ponto o grande bicheiro tinha influência sobre o que a revista publicava ou deixava de publicar para atacar inimigos e defender interesses comuns? Bastaria comparar o conteúdo e a época das gravações das conversas mantidas por seus jornalistas com Cachoeira e o que foi publicado pela "Veja".
Pelo jeito, não pensa assim o relator Odir Cunha, que já prometeu não fazer uma "caça às bruxas", excluindo juízes, jornalistas e procuradores do rol de pessoas que devem ser convocadas pela CPI. Se não quer caças as bruxas, vai caçar o que? As princesas?
Dos poucos parlamentares que ainda insistem no assunto, o deputado Paulo Teixeira, ex-lider do PT na Câmara, quer ouvir jornalistas que "foram cooptados pelo esquema Cachoeira". Sem citar nomes, Teixeira disse à Folha que "isso tem que ser investigado pela CPI".
A simples menção de serem ouvidos também jornalistas pela CPI já provocou uma gritaria danada de colunistas e editorialistas amestrados, acenando com a ameaça de volta da censura e restrições à liberdade de expressão, como de costume.
Na Inglaterra velha de guerra, ninguém pensa assim. Velhos homens de imprensa não são considerados inimputáveis. Ainda na terça-feira, o Parlamento britânico divulgou um relatório considerando Rupert Murdoch, 81 anos, um dos maiores magnatas da mídia, "inapto a comandar uma grande empresa multinacional".
Murdoch já estava sendo investigado desde julho do ano passado, após a denúncia de que um dos seus jornais, o tablóide "News of the World", grampeava celulares de celebridades para obter informações. E não foi publicado nenhum editorial contrário às investigações e em defesa da liberdade de expressão.
Aqui no nosso Brasil, a Associação Nacional dos Jornais, entidade patronal que lidera o combate a qualquer tentativa da sociedade de regulamentação da imprensa, publica hoje um anúncio em comemoração ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
O título: "Liberdade é assim: quanto mais você tem, mais difícil viver sem ela".
Se fossem mais fiéis aos fatos, melhor fariam se mudassem este texto para:
"Liberdade é assim: quanto mais nós (da ANJ) temos, mais nós (da ANJ) queremos ter".
Porque, na verdade, liberdade de imprensa deveria ser um bem de toda a sociedade, mas o que temos no Brasil hoje é a liberdade de empresa para meia dúzia de famílias tradicionais que dominam o setor.

Relator diz que não há "tema proibido" na CPI

Esse texto afirma o contrário do anterior.

Se houve 'corrupção', mídia será investigada, diz relator
Odair Cunha (PT-MG) afirma que não há 'tema proibido' em seu trabalho
Petista diz ainda que governadores podem ser convocados caso fique evidenciado corrupção e cooptação

O relator da CPI do Cachoeira, deputado Federal Odair Cunha (PT-MG), disse ontem que "se houve cooptação e corrupção de alguns atores da mídia, isso deve ser investigado". Para ele, "não há tema proibido".
O petista diz, entretanto, que vai evitar generalizações. "É preciso individualizar condutas. Quer seja entre alguns membros da imprensa, membros do empresariado brasileiro, membros do Congresso Nacional, agentes de governos municipais e estaduais e agentes do governo federal. Essas condutas que, individualizadas, serviram à organização criminosa, têm que ser investigadas por nós", afirmou o relator da CPI, que ontem deu entrevista à Folha e ao UOL.
Desde o início do escândalo envolvendo Carlos Cachoeira, acusado de contravenção e corrupção, parte do PT e de outros partidos ligados ao governo têm afirmado que a investigação revelará relações ilegais entre órgãos de comunicação e suas fontes.
Eles têm feito ataques específicos à revista "Veja". Um jornalista da publicação tem o nome citado por integrantes do grupo.
A revista publicou texto dizendo que Cachoeira era fonte de jornalistas, inclusive do chefe da sucursal de Brasília, Policarpo Júnior, e que não há impropriedades éticas nas conversas.
Odair José da Cunha tem 35 anos. Dos 15 aos 22 anos estudou em uma comunidade religiosa e planejava ser padre. Desistiu e se manteve um católico. Advogado formado em 1998 pela Faculdade de Direito de Varginha (MG), filiou-se ao PT no ano seguinte. Em 2002 foi eleito deputado federal. Está no terceiro mandato.
Calmo e metódico ao falar, disse não enxergar ainda indícios suficientes para que os governadores envolvidos no escândalo sejam convocados.
"Se ficar evidenciado cooptação e corrupção, este tema dos governadores deve ser tratado por nós [da CPI], com convocação", afirmou.
Até agora já foram citados três governadores no escândalo: Agnelo Queiroz (PT-DF), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ).
Sobre a empreiteira Delta e o seu proprietário, Fernando Cavendish, serem investigados de maneira ampla, Odair afirma que essa é uma possibilidade, se ficar evidenciada participação na organização. O depoimento mais esperado na atual fase da CPI é o de Cachoeira, no dia 15.
Há uma dúvida no Congresso se o depoente será conduzido à CPI de algemas e com vestes prisionais
"O mais importante é que ele esteja na CPI e que seja tratado com dignidade como todas as pessoas devem ser. Ele vai na condição de preso".

*esquerdopata

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