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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 25, 2012

Indignados contra julgamento do STF lotam ato em defesa de José Dirceu e de José Genoíno hoje, em SP

 


Dirceu: 'Eu estava marcado para morrer, mas não tenho vocação para a morte'

Durante 'Ato em Defesa do PT', em São Paulo, ex-ministro afirma que vai 'ficar de pé' e que sua inocência está 'registrada nos autos do STF'.

Para ex-ministro José Dirceu, judicialização da política é o novo campo das forças conservadoras.


do Rede Brasil Atual


São Paulo - O ex-ministro José Dirceu afirmou neste sábado (24) que estava “marcado para morrer” desde o início do processo político e midiático conhecido por "mensalão". Da cassação de seu mandato de deputado pela Câmara Federal, em 2005, à condenação pelo STF na Ação Penal 470, agora, Dirceu fez um histórico detalhado dos vários momentos em que as leis e as regras democráticas foram reinterpretadas ou ignoradas para que a investida contra ele e o PT se transformasse num “julgamento de exceção, de caráter sumário”.

“Eu estava marcado para morrer. Só não fui fuzilado porque no Brasil não existe pena de morte. E o problema é que eu não tenho vocação para a morte. Vou ficar de pé”, disse o ex-ministro, arrancando aplausos das pessoas que compareceram ao Sindicato dos Engenheiros, no centro de São Paulo, para o “Ato em Defesa do PT”.

O ato foi organizado pela corrente O Trabalho na abertura do 5º Encontro Nacional Diálogo Petista. A corrente, adversária histórica de Dirceu e de seu grupo dentro do partido, é uma das que estão mais à esquerda no espectro político petista. Segundo Markus Sokol, um de seus líderes, as divergências internas não impedem a solidariedade aos companheiros e a denúncia da maneira como se deu o julgamento, cujo objetivo real seria atingir o PT, a esquerda e as forças populares.

Participaram da plenária, que também contou com o ex-deputado José Genoino, igualmente condenado sem provas, representantes de movimentos sociais e da CUT, além da militância e de parlamentares, como o senador Eduardo Suplicy (SP) e o deputado estadual paulista Zico Prado.

Dirceu classificou de “desfaçatez” a série de manobras criadas para cassá-lo e depois condená-lo, em especial a “narrativa sem provas e sem contraditório” do STF, que “violou” princípios constitucionais como a presunção da inocência e o direito ao recurso a outras instâncias da Justiça.

“O que aconteceu (comigo) é grave e transcende ao julgamento, porque suspende as garantias individuais de todos os cidadão”, avaliou. Segundo ele, o seu caso e de outros criou uma jurisprudência segundo a qual, a partir de agora, qualquer pessoa pode ser condenada sem provas ou testemunhos.

“Mas estou tranquilo”, ressaltou. “Está documentado. Minha inocência está registrada para a história nos autos do próprio STF”.

Dirceu analisou o momento como uma “contra-ofensiva” das forças conversadores. “Como foram derrotados no campo político e social, e também no campo eleitoral, eles criaram outro campo, o da judicialização da política, com a instrumentalização da mídia”, acusou.

Ele afirmou que o PT só vencerá essa contra-ofensiva se fizer um “profundo” balanço político dos último dez anos e traçar uma estratégia de “luta comum”, entre todas as correntes internas e a sociedade, para os próximos dez.

“Aonde quer que eu esteja, quero participar desse debate”, concluiu.


*Opensadordaaldeia

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