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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 25, 2013

CCJ discute Proposta de Erundina para instituir transporte público gratuito
Sérgio Francês   
Erundina quer usar sua experiência como prefeita de São Paulo
 
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara deve colocar em discussão, na próxima terça-feira (25), a PEC 90/11, de autoria da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP). A Proposta de Emenda Constitucional – que já teve parecer pela admissibilidade por parte do seu relator, o líder socialista, Beto Albuquerque (RS) – tem como objetivo transformar o transporte público em direito social, com acesso livre e gratuito a todo cidadão. Na definição da socialista, a lei busca favorecer o trabalhador assalariado, ao diminuir o custo familiar, e gerar mais desenvolvimento para os grandes centros urbanos.
"Esta proposta inclui no Artigo 6º da Constituição o direito ao transporte, assim como outros elementos centrais de políticas públicas [saúde, segurança, educação], que promovem o bem comum. Apresentei esta PEC em 2011, muito antes das manifestações que geraram essa revolução pelas ruas do Brasil. Ela representa a grande experiência que tive como prefeita de São Paulo”, explicou Erundina, que ainda destacou o seu mandato como deputada federal na Casa, para colocar em prática o que não foi possível em sua prefeitura. “Por conta da situação política da época, a proposta não foi adiante. Vamos trabalhar para que hoje seja diferente."

No que diz respeito às características técnicas dessa proposta, o transporte público no país exige solução estrutural, e não discussões corriqueiras sobre o custo da tarifa. Para Erundina, é necessário que haja justiça fiscal e social. “Uma saída, por exemplo, seria adotarmos o IPTU progressivo e redistribuir sobre a forma do custeio de um serviço essencial para gerar desenvolvimento, que é o transporte gratuito”, disse.

Vetor relacionado à produtividade e à qualidade de vida da população, sobretudo do contingente urbano, o transporte destaca-se na sociedade moderna pela relação com a mobilidade das pessoas, a oferta e o acesso aos bens e serviços. Como é de amplo conhecimento, a economia de qualquer país é baseada na produção e no consumo de bens e serviços, como também no deslocamento das pessoas, ações que são mediadas pelo transporte.

Desse modo, o transporte cumpre função social vital, uma vez que o maior ou menor acesso aos meios de transporte pode tornar-se determinante à própria emancipação social e o bem-estar daqueles segmentos que não possuem meios próprios de locomoção. “Temos que fazer um acompanhamento e buscar apoio nas comissões de mérito que é pra onde essa matéria vai, após ser aprovada pela CCJ”, completou Erundina. 

Manifestações pelo Brasil
Um fenômeno interessante, mas extremamente complexo pela época em que ele está se dando. Esta é a opinião da deputada Luiza Erundina sobre os protestos pelo Brasil. “É simplismo dizer que é só questão da tarifa do transporte. Também é insuficiente dizer que eles pedem por melhores serviços públicos ou que são contra a corrupção. É necessário fazer uma análise mais cuidadosa, dentro da perspectiva histórica do País.”

Para a socialista, esses movimentos se deram dessa forma porque a maioria rejeita os políticos e até a própria política. “É preciso processar isso tudo para ter uma compreensão mais próxima da realidade e reagir a esse momento de forma adequada”, definiu.

Rhafael Padilha

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