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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 22, 2013

O MPL deu uma aula de sabedoria política ao se recolher em SP



Ficou a mensagem de que o Brasil precisa de mais do que o viciado mundo político que está aí.
São Paulo mandou um recado claro
São Paulo mandou um recado claro
Os garotos do MPL de São Paulo deram uma aula de sabedoria política ao decidir encerrar os protestos.
A agenda progressista deles tinha sido tomada por grupos conservadores com motivações opostas aos ideais igualitários do movimento.
Isso ficou dramaticamente exposto ontem na avenida Paulista. Extremistas de direita se comportaram como se fossem os responsáveis por uma mobilização da qual eles tentavam ser apenas usurpadores.
O MPL estava sendo claramente usado, e ao se recolher isso acaba.
Os conservadores não têm capacidade aglutinadora nenhuma, e isso quer dizer que, para eles, a festa acabou.
A maturidade da garotada do MPL contrasta com a precipitação desastrada de Rui Falcão, presidente do PT, ao convocar os militantes para sair às ruas ontem na assim chamada “Onda Verde”.
Poderia ter havido uma tragédia em São Paulo, como ficou claro. O próprio RF aparentemente reconheceu o mau passo ao retirar o tuíte no qual fizera a convocação inoportuna.
Pela força de São Paulo, é presumível que a calma se espalhe pelo país a partir de agora.
Ficou a lição de que a política brasileira, tal como está empacotada hoje, é amplamente rejeitada por uma parcela expressiva da sociedade – sobretudo entre os jovens.
O Brasil progressista está cansado de pactos que inibem avanços sociais – Lula e Maluf, Dilma e ruralistas, Afif no governo paulista e ao mesmo tempo no gabinete presidencial etc.
O Brasil progressista não quer aturar a vida toda Sarneys, Delfins. E deseja outro tratamento para brasileiros desprotegidos, como os indígenas e os moradores de ajuntamentos como Pinheirinho.
Que o governo fez pelas comunidades removidas para obras da Copa do Mundo?
Esse tipo de política se esgotou – e não adianta o PT percorrer o país em festas autocongratulatórias para comemorar conquistas que são muito mais imaginárias que reais, como se vê em todos os levantamentos internacionais que comparam índices de desenvolvimento social.
O país quer mais do que o PT tem dado em termos sociais. Se o PT não for capaz de fazer mais, estará aberto um espaço formidável para quem fizer o que as ruas demandaram estes dias todos.
Essa é a mensagem principal do MPL de São Paulo.
Paulo Nogueira
No DCM

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