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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 27, 2010

É o espírito de solidariedade do Brasil que vem ajudando o país a se tornar um dos novos e ativos atores do cenário internacional






Brasil e ONU, juntos para desenvolvimento

É o espírito de solidariedade do Brasil que vem ajudando o país a se tornar um dos novos e ativos atores do cenário internacional


BAN KI-MOON, secretário-geral da ONU


Estou muito feliz por voltar ao Brasil, nesta segunda viagem que faço ao país como secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Quando estive aqui em 2007, pude aprender sobre biocombustíveis, conhecer Brasília, visitar a Amazônia e conversar com vários brasileiros sobre o futuro.
Hoje, volto para participar do 3º Fórum da Aliança para as Civilizações, que discutirá o tema “Unindo as Culturas, Construindo a Paz”. A enorme riqueza cultural, rica diversidade étnica, tolerância religiosa e mistura de raças fazem do Brasil o lugar ideal para esse encontro.
Tenho certeza de que o Rio de Janeiro fornecerá o cenário perfeito para a realização do trabalho proposto, abordando um dos mais complexos desafios atuais: melhorar as relações entre as culturas, combater preconceitos e construir uma paz duradoura para todos.
O Brasil tem sido um ativo parceiro da ONU desde sua fundação, em 1945, e vem estreitando, a cada ano, os laços com a organização.
Prova disso é a ativa participação do país na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), que comanda desde 2004. Os cerca de 2.000 homens que zelam pela segurança dos cidadãos haitianos merecem nosso agradecimento.
É esse espírito de solidariedade do Brasil, presente em seu povo, que vem ajudando o país a se tornar um dos novos e ativos atores do cenário mundial. Hoje, o Brasil se destaca não somente pelo seu compromisso em atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) mas também pelo empenho em ajudar outras nações a fazê-lo.
O país tem envolvimento ativo em projetos de cooperação com nações africanas.
O sucesso do “Diálogo Brasil-África”, que reuniu em Brasília 47 ministros da Agricultura africanos, com participação da ONU, é resultado dessa cooperação Sul-Sul.
Em algumas áreas, o Brasil definiu para si compromissos mais ambiciosos do que os previstos pela ONU. Comprometeu-se, por exemplo, a reduzir em três quartos a extrema pobreza, enquanto a meta definida mundialmente é de reduzi-la pela metade.
Essas metas mais avançadas são tão ambiciosas quanto realistas para um país onde governo, setor privado e sociedade civil trabalham juntos, em um contexto de diálogo cívico e democrático.
Foi com grande satisfação que recebi os dados do último Relatório Nacional de Acompanhamento dos ODM, que mostram que o Brasil será dos poucos países a atingir plenamente os oito objetivos definidos pela comunidade internacional.
O reconhecimento da diversidade e das disparidades regionais, de gênero e etnorraciais reflete o compromisso de alcançar todos os habitantes do país. Parte da redução das desigualdades é consequência direta dos programas sociais e de políticas públicas universais lançadas pelo governo.
O Bolsa Família, maior programa de transferência de renda do mundo, responsável por esse sucesso, tem sido reconhecido internacionalmente. Acredito que o maior desafio do país nos próximos anos será transformar os ODM em realidade efetiva para todos os brasileiros.
Enfrentar esse desafio exige um esforço concertado entre o governo e a sociedade civil e a consolidação, como objetivos de Estado, da agenda civilizatória e de direitos humanos contida nos ODM. O Brasil dispõe de capacidades, recursos e poder de inovação para fazê-lo. Estamos trabalhando para apoiar todos os atores que se dedicam a essa difícil tarefa. Do êxito desse esforço dependem os mais vulneráveis e as gerações futuras.
Assim como a ONU conta com o Brasil como importante parceiro internacional, o Brasil e os brasileiros podem contar com a ONU.

BAN KI-MOON, mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA), é o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Foi ministro das Relações Exteriores e do Comércio da República da Coreia.

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