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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, maio 19, 2010
Hillary a mão de Ferro
terça-feira, 18 maio, 2010 às 19:04
Hillary Clinton é a mão pesada do governo Obama. Sabe aquela história do policial bom e do policial mau. Pois é. Enquanto Obama fala que o caminho para o entendimento entre os povos é a diplomacia, Hillary utiliza o velho big stick para sentar a borduna em quem diverge dos Estados Unidos.
O que mais impressiona é a presão pública que ela faz sobre os demais integrantes do Conselho de Segurança. Anunciou, perante o Congresso que há um acordo entre os cinco membros permanentes para impor sanções ao Irã. Mas que acordo? A China, um deles, deu todo apoio ao acordo para a troca de combustível nuclear iraniano em território turco, assinado na segunda-feira por Irã, Brasil e Turquia, e disse isso oficialmente através do porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu. A Rússia, por onde Lula passou a caminho de Teerã, também apoiou a iniciativa brasileira através do presidente Dmitri Medvedev.
Então de onde vem esse entendimento para impor sanções apregoado por Hillary? Ela fez o anúncio sozinha, no que parece mais um movimento de pressão do que de consenso. O fato é que a “diplomacia” americana foi derrotada pela brasileira e isso está difícil de Hillary engolir. “Brasileiros e turcos fizeram mais em dois dias do que França e Estados Unidos em quase um ano”, disse hoje Mehdi Mekdour, especialista em assuntos iranianos do Grupo de Pesquisas e Informações sobre Paz e Segurança em Bruxelas. E a França deu pleno apoio à Lula na condução do tema nuclear iraniano após encontro entre o presidente brasileiro e Nicolas Sarkozy, na reunião de cúpula União Européia-América Latina, que começou hoje em Madri.
Também na capital espanhola, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu à comunidade internacional que apoie a declaração final, acertada entre Brasil-Turquia e Irã, em nome da paz mundial. É esse o caminho da paz que os EUA parecem querer evitar.
Pior, parecem estar exercendo, agora, sobre os demais membros do Conselho de Segurança a mesma politica impositiva e unilateral que exercem em relação aos países menos poderosos. Podem até conseguir algumas sanções, mas de valor muito mais declaratório que prático. Aliás, o único efeito prático que terão será o de acabar com o clima de boa-vontade que poderia imperar depois do acordo em Teerã. É o que estão chamando de “dois caminhos”, um de pressões verbais e outro de negociação.
Assim como começam a ser derrotados nas questões comerciais, os EUA não conseguem mais impor sua doutrina intervencionista. Brasil e Turquia não somente conseguiram o acordo como reivindicam o direito de integrar o grupo 5+1, formado pelos cinco integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, China, Rússia, França e Grã Bretanha) e a Alemanha, que debate o programa nuclear iraniano.
Se foram Brasil e Turquia que negociaram o acordo, seria mais que justo que participassem de qualquer debate sobre a questão iraniana a partir de agora. É assim que se forja uma nova ordem global, que o império não vão aceitar tão fácil.
Brizola Neto
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