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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
segunda-feira, maio 17, 2010
A imprensa em geral é leiga e não busca entender os casos mais complexos, o resultado é uma cobertura confusa que mais desinforma e mistifica
Irã continuará a enriquecer urânio a 20% mesmo com acordo, diz governo - internacional - Estadao.com.br
"Claro que o enriquecimento a 20% irá continuar em nosso próprio país", disse o porta-voz Ramin Mehmanparast. O Irã recebeu muitas críticas internacionais em fevereiro, após começar a enriquecer urânio a 20%, necessário como combustível em seu reator de pesquisas.
A imprensa em geral é leiga e não busca entender os casos mais complexos, o resultado é uma cobertura confusa que mais desinforma e mistifica do que esclarece. O caso do Irã é típico, em geral reproduzem os jornalões americanos que reproduzem a opinião da Casa Branca. A situação lembra muito a brincadeira de criança chamada telefone sem fio, onde uma mensagem é passada no ouvido de um a um e acaba chegando toda distorcida.
Vamos dar uma clareada na questão. O Irã possui usinas nucleares para a produção de energia elétrica. As usina nucleares existem no mundo todo, na europa representam parcela considerável da sua produção de eletricidade, existem usinas idênticas nos EUA e aqui no Brasil. As tecnologias envolvidas são o segredo do negócio, no Brasil utiliza-se tecnologia alemã da GE que só funcionou perfeitamente em laboratório e o Brasil é único país a utilizá-la (chamada de centrifugação). É coisa do Geisel e que enriqueceu muita gente mas isto é outra coisa.
O urânio não é abundante no planeta, mas não chega a ser raro. O minério para ser usado em uma usina necessita ser enriquecido. O urânio na natureza possui 99,284% do isótropo U-238 e apenas 0,711% do U-235 necessário para fabricar uma bomba. Gerar material com 20 % de U-235 é relativamente simples e barato de modo que o Brasil e o Irã e muitos outros países o produzem e o utilizam para combustível de suas usina de eletricidade. Há algumas décadas só os americanos vendiam combustível nuclear.
Enriquecer o urânio para além de 20% é muito caro e complexo. Chegar a 90% exige muito investimento e tempo para acontecer, mas uma vez que se consiga, por menor quantidade que seja, fica muito fácil produzir uma bomba atômica. A ONU então resolveu fazer visitas às instalações nucleares mundo afora com o intuito de acalmar a comunidade internacional e garantir a limitação do acesso ao armamento nuclear no mundo.
O Irã se nega a receber estas visitas. Os inspetores internacionais foram barrados várias vezes no Irã, sob suspeita de serem espiões ocidentais. Fato bastante plausível, pois como disse, a tecnologia é o fundamental aqui, e cada país enriquece seu urânio a sua maneira. Não permitir a entrada de inspetores é um problema sério? Se fosse o Brasil também teria de sofrer sanções, pois igualmente não permitiu visitação a suas instalações.
Outro detalhe importante. Israel tem armamento nuclear em seu território, tem usinas nucleares, enriquece urânio e não assinou o tratado de não proliferação de armas nucleares como o Brasi le o Irã. É o famoso dois casos, duas medidas.
Revista Fórum
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