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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
terça-feira, maio 18, 2010
Malvinas: Kirchner quer diálogo, Cameron, não terça-feira, 18 maio, 2010
Nossa imprensa, claro, mal noticiou. Mas houve hoje, na conferência dos países da União Européia, em Madrid, a demonstração de que a arrogância das grandes potências não tem limites. A presidente argentina, Cristina Kirchner, fez um apelo para que se retomem as negociações pacíficas sobre o destino das Ilhas Malvinas, tal como recomenda a ONU. O primeiro-ministro britânico, o recém-empossado David Cameron, disse que “não pode haver negociação”, até que os habitantes da ilha o “desejem” e sublinhou que a Grã-Bretanha não tem “dúvidas” sobre a sua soberania sobre as ilhas do Atlântico Sul.
Kirchner, diante de cameron, lembrou que as resoluções das Nações Unidas apelando para as partes a negociar a soberania das ilhas” continuam por cumprir .”Em nome do meu país e da América Latina, o Reino Unido em particular, com o primeiro-ministro, por favor, retomar as negociações em relação à soberania”, disse, na abertura da conferência. A presidente afirmou que a Argentina é um país de paz, não pode ter lançado em sua conta o que aconteceu nas ditaduras militares, que fizeram também dos argentinos vítimas dos ditadores”. Num gesto bonito, Kirchner teve um encontro com o juiz Baltazar Garzón, recentemente afastado pela ousadia de condenar quem ordenou assassinatos e torturas políticas, como Augusto Pinochet.
Coloco aí em cima um trecho de seu discurso na solenidade de abertura e, assim que puder, o substituo por outro, legendado.
A velha Europa, berço do humanismo moderno, anda precisando realimentar os valores que a fizeram ser admirada como civilização. E não o colonialismo que permanece como uma vergonha histórica.
Para quem não sabe, as Malvinas foram colonizadas, primeiramente, pelos argentinos. Eles foram expulsos, militarmente, de lá e há cerca de três mil colonos de origem inglesa lá. Mas não é neles que se pensa: é no petróleo, que os ingleses há decadas saqbem que existe lá e que, há poucos dias, teve as primeiras extrações bem-sucedidas – e promissoras.
A transformação nas Malvinas num pólo petroleiro inglês levará, inevitavelmente, também à criação de um pólo militar daquele país no Atlântico Sul, como venho alertando aqui. Os países da América Latina precisam se unir e pressionar os Estados Unidos a forçar os ingleses a seguirem a recomendação da ONU e reabir o diálogo. A tal “Doutrina Monroe” – “A América para os americanos” – vale para nós, sul americanos ou é só para os norteamericanos?
Embora a teoria, na prática, tenha sido esta, é bom lembrar o que um dos “pais da pátria” estadunidense – Monroe largou a escola, aos 16 anos, para entrar na guerra pela independẽncia americana – escreveu, já presidente, numa mensagem ao Congresso:
Julgamos propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afeta os direitos e interesses dos Estados Unidos, que os continentes americanos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência européia […]
Estamos no século 21. É incompreensível que uma potẽncia colonial queira ter um enclave a pouca distância de um país soberano, num território que lhe foi tomado à força.
Brizola Neto
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