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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quinta-feira, maio 27, 2010
Obama mantém relações militarizadas com a América Latina
Obama mantém relações militarizadas com a América Latina
Por Jim Lobe [Quinta-Feira, 27 de Maio de 2010 às 11:10hs]
Washington – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não atendeu as expectativas de manter relações de igualdade com a América Latina, segundo um informe preparado por três organizações não governamentais. As principais razões da desilusão com Obama são o acordo assinado com a Colômbia para que forças militares norte-americanas utilizem bases nesse país, a ambígua resposta ao golpe de Estado de junho passado em Honduras e a incapacidade para normalizar as relações com Cuba, diz o estudo divulgado esta semana.
Washington continua dando ênfase aos programas de ajuda militar e de segurança e seu Comando Sul das Forças Armadas vem desempenhando um papel importante nas relações com a América Latina. “Dos mais de US$ 3 bilhões em assistência que serão concedidos à região este ano, 47% acabarão nas mãos das forças policiais e militares”, disse Adam Isacson, do Escritório em Washington para Assuntos Latino-Americanos (Wola).
“É a maior proporção em uma década e indica um enfoque desequilibrado”, insistiu Isacson, coautor do informe “Esperando a Mudança”. A isso “se soma o acordo militar assinado com a Colômbia em outubro. Por essa razão, o lado mais visível do governo Obama na região é o bélico”, acrescentou. Um dos aspectos positivos destacados pelo informe de 28 páginas é o pacote de US$ 1 bilhão concedido ao Haiti após o terremoto que aconteceu em 12 de janeiro, seguido de outros US$ 1,15 bilhão que serão entregues nos próximos 18 meses. Além disso, o Senado estuda esta semana outro pacote de US$ 3,5 bilhões para os próximos cinco anos.
Outro ponto positivo é que, no orçamento para 2011, Obama reduzirá um pouco a ajuda militar à “guerra contra o narcotráfico” e estimulará programas de prevenção e tratamento nos Estados Unidos para diminuir a demanda por drogas. O estudo realizado pelo Wola, o Latin America Working Group Education Fund e o Centro de Política Internacional é o último de uma série chamada “Somente Fatos”, lançada em 1995.
As organizações recomendam reduzir a ajuda militar e aumentar a destinada ao desenvolvimento, especialmente para saúde, educação, fomento rural e reforma de instituições civis como justiça e polícia, para lutar contra a corrupção e as violações dos direitos humanos. Washington também deve garantir à população e aos governos latino-americanos que “não tenta projetar seu poder militar na região” e garantir que seu representante e sua voz na região seja seu Departamento de Estado, e não o Comando Sul das Forças Armadas.
Além disso, as organizações recomendam continuar retendo a assistência, especialmente a militar, destinada a Honduras, até que o novo governo dê “verdadeiros passos” para punir os responsáveis pelo golpe cívico-militar do ano passado e pelas consequentes violações dos direitos humanos e promova um “diálogo inclusivo e substantivo para construir uma sociedade mais democrática”. Os governantes devem deixar bem claro que Washington se preocupa com a proteção dos direitos humanos tanto em nações consideradas aliadas, especialmente Colômbia e México (beneficiárias da maior parte da assistência militar à região), como na Venezuela, diz o relatório.
“Esperamos que haja maior disposição para a ação agora que a equipe de direitos humanos de Obama está formada”, afirmou a diretora da Lawgef, Lisa Haugaard. As organizações também recomendam “voltar a apresentar a questão da reforma das leis de imigração e promovê-la”, mensagem dada pelo próprio presidente do México, Felipe Calderón, em sua viagem aos Estados Unidos na semana passada. Obama informou ao seu colega que não terá apoio suficiente do opositor Partido Republicano para promover um projeto no Senado este ano.
A promessa de Obama feita na V Cúpula das Américas, realizada em Trinidad e Tobago em abril de 2009, de tratar os países da América Latina como “sócios iguais”, gerou “expectativas irreais” de que romperia a militarização e o unilateralismo de seu antecessor, cujas políticas em matéria de relações exteriores criticou durante sua campanha eleitoral de 2008.
“Os 15 anos que demoramos documentando as relações militares dos Estados Unidos com a América Latina nos convenceram de que os vínculos estruturais subjacentes não foram muito afetados pelo atual ocupante da Casa Branca”, diz o informe. “Continuamos vendo um crescente papel militar nas relações dos Estados Unidos com a região”, afirmou Joy Olsen, diretor do Wola. IPS/Envolverde
Jim Lobe
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