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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, maio 23, 2010
A “privatização” de um enorme desastre ambiental
A “privatização” de um enorme desastre ambiental
domingo, 23 maio, 2010 às 19:37
Passado mais de um mês do acidente da plataforma da British Petroleum que provocou um vazamento gigantesco de petróleo no Golfo do México, as notícias escassearam nos nossos jornais. Ontem, técnicos da BP anunciaram que resolveram adiar a tentativa de tampar o poço acidentado através da injeção de uma coluna de lodo pesado de 1.500 metros na perfuração, com um tamponamento final de cimento. O porta-voz da BP, Tom Mueller, disse que esperava deter o vazamento neste final de semana, mas decidiu-se por uma preparação mais demorada, para assegurar que a opoeração tenha êxito.
Ontem, também, o presidente Barack Obama anunciou a criação de uma “comissão de alto nível” para analisar as causas do acidente e prevenir outros. Como é que vão fiscalizar as normas de segurança nas centenas de empresas – muitas terceirizadas – que trabalham na extração do óleo é que não fica claro.
A NOAA – Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, agência oficial do governo dos EUA – uma parte da imensa mancha de quase 30 milhões de litros de petróleo está se dirigindo para leste e pode alcançar a costa da Flórida e as praias de Cuba, onde até barreiras de areia estão sendo construídas nas praias, como você vê na foto.
É incrivel a escassez de informações precisas sobre o que está acontecendo e o silência das grandes agências de notícias. Só esta semana, por pressão da opinião pública a BP transmitiu imagens do vazamento, que estão há tempos sendo exibidos de forma “pirata” na internet, e que o Tijolaco.com publicou há dez dias. Agências importantes de noticias, como a Reuters, só há três dias publicaram estas imagens. Da mesma forma ficou abafada a informação que a EPA, agência de meio-ambiente americana, determinou que se parasse de lançar um solvente sobre a mancha de óleo, pois o petróleo estava descendo e formando outra mancha, subaquática, que não é vista, mas é enormemente destrutiva do ponto de vista ambiental.
Agora há pouco o secretário do Interior dos Estados Unidos, Ken Salazar, anunciou que a BP concordou em pagar uma multa de US$ 75 milhões, a maior permitida pela legislação americana, embora a limpeza do óleo vá custar bilhões de dólares. Salazar disse que está insatisfeito com a ação da empresa para deter o vazamento, que dura 33 dias, e ameaçou a petroleira com um afastamento das atividades, hoje em entrevista coletiva.
É estarrecedor que um enorme desastre como este esteja, digamos, “sob administração privada” e sendo objeto de um processo de filtragem da informação.
do Tijolaço
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