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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, agosto 03, 2010

Foram tosquiar De Sanctis e saíram tosquiados






Juiz que prendeu Dantas
duas vezes não crê na Justiça

http://oglobo.globo.com/fotos/2008/11/10/10_MHG_pais_juiz.jpg

Foram tosquiar De Sanctis e saíram tosquiados

http://bahiaempauta.com.br/wp-content/uploads/2009/07/juiz.jpg



O corajoso Juiz Fausto De Sanctis correu um sério risco: submeter-se ao “Roda-Morta”, programa da TV Cultura de São Paulo, que se tornou um pelotão de fuzilamento a serviço dos tucanos de São Paulo.

Além de ser infinitamente chato !

Nesta segunda feira, o risco era maior, porque uma das estrelas do pelotão era o “jornalista” Marcio Chaer – clique aqui para ler “Chaer faz papel de imparcial e dá notícia contra Dantas”.

O outro risco era Fausto Macedo, jornalista do Estadão, que, por notável coincidência, deu inúmeros e imperdíveis furos nas 785 entrevistas semanais que o Supremo Presidente do Supremo deu ao Estadão, transformado em house-organ do Presidente Supremo do Supremo.

Chaer e Macedo fizeram perguntas que Gilmar Dantas (*) e Dantas talvez gostassem de fazer, se ali pudessem estar (de corpo presente).

A pérola foi o Chaer perguntar se De Sanctis votaria em Protógenes Queiroz para deputado federal.

Como se o De Sanctis fosse um tolo – opinião de que Dantas, certamente, não compartilha.

O fato é que os dois, Macedo e Chaer não foram sequer provocadores – foram ineptos.

Fizeram perguntas mal formuladas – Chaer é um mestre nisso – e irrelevantes – é a especialidade do Macedo.

O trágico foi constatar que o juiz que prendeu o passador de bola apanhado no ato de passar bola não acredita na Justiça brasileira.

Trata-se de um homem decepcionado com a possibilidade de se cumprir a Lei.

Cético, porque um criminoso como Dantas não vai para a cadeia.

De Sanctis descreveu os inúmeros instrumentos de que os advogados de clientes ricos – como Dantas, que De Sanctis, apesar de provocado, não mencionou - dispõem para impedir que a Justiça se exerça.

O HC, as liminares, os pedidos de certidão todo dia – expediente comum de advogados chicaneiros do Dantas – e as ameaças ao Juiz.

E esse é um ponto central do depoimento melancólico do brilhante e corajoso De Sanctis.

Advogado de rico ameaça juiz de primeira instância e fica por isso mesmo.

De Sanctis já foi ameaçado: se o senhor não fizer o que eu quero, vou ao Conselho Nacional de Justiça !

Os juízes de primeira instância são desmoralizados, inclusive nas instâncias superiores, que não lêem o que o juiz de primeira instancia escreve !

Quanto mais se sobe nas instâncias da Justiça brasileira, menor a credibilidade !, disse De Sanctis.

Os ricos querem pular a primeira instância – ele disse (quem será, amigo navegante ?).

O sistema judicial brasileiro não funciona !, falou o juiz mais famoso do Brasil.

É preciso reinventar o Judiciário brasileiro.

É insuportável ser juiz criminal de Primeira Instância no Brasil.

Rico não vai para a cadeia, é o resumo da entrevista – embora ele não tenha dito isso, dessa forma.

Mas é a essência do testemunho de De Sanctis, ao passar o trator sobre o Chaer e o Macedo: o Dantas não está na cadeia porque o Gilmar não quis !

Se o Chaer e o Macedo foram lá para massacrar o De Sanctis, assistiram à amarga acusação de um Juiz probo: acusação ao sistema que engendra, tolera e garante a liberdade de Dantas.

Dantas foi o sujeito oculto do “Roda Morta”.

E saiu de lá enxovalhado.

Em tempo: o Conversa Afiada gostaria que De Sanctis ocupasse a cadeira de Eros Grau, que, hoje, em boa hora, deixou o Supremo. Jamais o esqueceremos.


Paulo Henrique Amorim

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