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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, dezembro 11, 2010

Direitos humanos: Vanunu ganha mas não leva




Ex-técnico nuclear israelense é impedido de receber prêmio de direitos humanos na Alemanha

Crítico de Israel, o ex-técnico nuclear Mordechai Vanunu ganhou o prêmio da Liga Internacional Alemã de Direitos Humanos, mas foi proibido de viajar a Berlim para receber a medalha Carl von Ossietzky.
O judeu marroquino Vanunu trabalhou como técnico da central nuclear de Dimona, no sul de Israel, até que, em 1986, deu declarações ao jornal britânico The Sunday Times em que mencionava detalhes do programa nuclear israelense. Logo depois, foi detido em Roma por agentes do Mossad, serviço secreto israelense, e levado de volta a Israel, onde foi julgado e condenado por traição.
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Vanunu foi libertado em abril de 2004, após passar 18 anos na prisão, 11 deles em uma cela solitária. Desde então, é impedido de mudar de residência, entrar em contato com estrangeiros sem autorização prévia e de deixar o país, segundo a ONG Anistia Internacional.
O prêmio é dado pela Liga Internacional para grupos de defesa de direitos humanos e leva o nome do pacifista alemão Carl von Ossietzky, que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1936. Ele não pôde ir a Oslo para receber a recompensa por estar preso em um campo de concentração nazista, onde morreu em 1938.
Diante da impossibilidade de entregar pessoalmente a medalha 2010, a Liga, que é contra a premiação na ausência do homenageado, decidiu cancelar a cerimônia de entrega do prêmio e substitui-la por uma manifestação para protestar contra a proibição, segundo a agência de notícias AFP. A ONG Anistia Internacional está fazendo uma campanha para pedir que as autoridades israelenses “retirem as restrições impostas a Vanunu”.

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