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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Perdemos um dos grandes, Mario Monicelli

Morre Cineasta




O diretor Mario Monicelli 
Dentre as grandes figuras do cinema italiano, é sempre comum se colocar Vittorio DeSica, Luchino Visconti e Federico Fellini como os três maiores nomes do neo-realismo e depois da comédia a La italiana.  Eu acrescentaria um quarto nome Mario Monicelli, especialmente popular no Brasil onde seus filmes fizeram muito sucesso (como Parente é Serpente, Quinteto Irreverente).


Agora chega a notícia da morte trágica dele, que aos 95 anos e até pouco tempo ainda fazendo filmes, suicidou-se pulando da janela de seu hospital em Roma, San Giovanni, onde se tratava de câncer na próstata terminal, abreviou seu sofrimento.

Monicelli era um senhor ranzinza, que não demonstrava na vida o humor de seus filmes (ele apareceu como ator simbolizando o cinema italiano como o velho que aparece ao final em Sob o Sol da Toscana, com Diane Lane, que finalmente a cumprimenta ao final do filme). Era um realizador brilhante de longuíssima carreira e mais uma enorme perda para o cinema.
Monicelli, Mario
(1915-2010). Os italianos (e Monicelli) foram um dos poucos povos a saberem rir de si próprios, de suas mazelas, suas vergonhas. Mas sempre de forma muito humana, muito sensível. Foi também dos poucos a saber como fazer a passagem do Neo Realismo para a Comédia à La Italiana.
Nascido em Viareggio, em 16 de maio, filho de um crítico teatral e jornalista Tommaso. Foi crítico de cinema desde 1932 e teve sua primeira experiência prática dois anos depois dirigindo com o amigo Alberto Mondadori, o curta Cuore Rivelatore. Estudava literatura e filosofia na Universidade de Roma quando se interessou por cinema, ganhando em 1935 um prêmio em Veneza por I Ragazzi della Via Paal, rodado em 16mm.
Poucos sabem que em 1937 dirigiu um primeiro longa metragem, Pioggia D’estate, usando o pseudônimo de Michele Badiek. Foi assistente de Gustav McCathy e a partir de 1949 formou com Steno uma dupla de roteiristas (e depois diretores) especializados em comédias.
Fez mais de 50 filmes como roteirista de Pietro Germi, Mario Soldati, Mario Camerini e outros. Quando se separou de Steno, em pouco tempo revelou seu talento com a sátira clássica Os Eternos Desconhecidos. Mas seus melhores filmes continuam a ser O Incrível Exército de Brancaleone,A Grande Guerra (Grande Prêmio em Veneza) e principalmente Os Companheiros, obra prima do cinema político, construído em cima de uma greve de operários. Concluiu Amici Miei depois da morte de Pietro Germi (1974).
Dentro da decadência do cinema italiano, foi um dos poucos cineastas a continuar a trabalhar, sempre com projetos ambiciosos. Ganhou o Leão de Ouro em Veneza pela carreira em 1991 e pelo filme A Grande Guerra. Também foi Melhor Diretor em Berlim, três vezes, por Pais e Filhos (1956),Carol Michele (1976) e Il Marchise del Grillo (1982). Foram indicados ao Oscar de filme estrangeiro, A Grande GuerraOs CompanheirosA Garota com a Pistola.
Também dirigiu para o teatro (Rosa, 1981; Gianni Schicchi, 1983), escreveu comédias (La Piccola Satzione di Campagna, 1950), realizou filmes para a TV e foi, ocasionalmente, ator (Sono Fotogênico, 1980.L’Allegro Marciapiedi dei Delitti, 1979). No Brasil, houve o inesperado sucesso de crítica e público da comédia de humor negro, Parente é Serpente (onde os filhos tentam se livrar dos velhos pais incômodos que insistem em não morrerem) o que possibilitou a estreia de seus dois filmes seguintes e demonstrou que ele não tinha perdido nada de seu talento.  Voltou a filmar com mais de 90 anos, com  Le Rose del Deserto. Planejava refilmagem de Brancaleone como curta –metragem (aparentemente concluído).
*tudoemcima

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