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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, agosto 07, 2011

”Se não quiser ganhar, Lula vai com Haddad”

Ex-prefeita põe em dúvida análise de que nome novo, como o do ministro da Educação, seria o mais forte para vencer em SP

07 de agosto de 2011

Roldão Arruda – O Estado de S.Paulo

ENTREVISTA – Marta Suplicy, senadora (PT-SP)
Preterida pela principal estrela do seu partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas articulações para a eleição municipal de 2012 em São Paulo, a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy decidiu partir para a ofensiva. Em entrevista ao Estado, ela põe em dúvida as análises políticas de Lula e questiona as possibilidades eleitorais de seu protegido, o ministro da Educação, Fernando Haddad. Além de insistir que é a candidata natural de seu partido, com melhores possibilidades de derrotar o ex-governador José Serra numa eventual repetição do confronto PT e PSDB, Marta ataca a administração do prefeito Gilberto Kassab e começa a discutir políticas para a cidade.
Tudo indica que a eleição de 2012 será menos polarizada, com mais candidatos de peso. Mesmo assim a sra. se considera a candidata natural do PT?
A cidade de São Paulo tem sempre grandes quadros na disputa. Já tivemos Fernando Henrique, Mario Covas, Eduardo Suplicy, Geraldo Alckmin, José Serra… Não é uma cidade fácil. Quanto à nova conjuntura, com a presença de mais partidos, eu diria que é exatamente isso que me torna a candidata natural. Por dois motivos. Em primeiro lugar, pela minha experiência, pelo que eu já fiz pela cidade, a avaliação positiva que tivemos no governo e a aprendizagem acumulada entre acertos e erros. As pessoas perceberam a capacidade que nossa gestão teve de rearrumar a cidade. Fizemos um plano diretor que não existia há 25 anos.
E o segundo motivo?
É preciso considerar que teremos um tempo curto, de 30 dias (no segundo turno). Eu tenho um nome que 100% da cidade deve conhecer, com uma avaliação de governo que é boa e que tende a melhorar com a comparação que tem sido feita no período pós-governo. Trabalhei com uma cidade dilapidada por Maluf e Pitta e mudei a cidade. Comecei a resgatar o respeito ao cidadão que paga imposto. Trabalhei com R$ 15 bilhões. O Kassab trabalha com R$ 35 bilhões e eu pergunto: que marca esse prefeito deixa? Eu deixei 350 quilômetros de corredores de ônibus planejados e ele não executou nenhum.
Ao apoiar Haddad, Lula leva em conta a sua rejeição na classe média. A sra. deixou o governo com o apelido de Martaxa.
Você está falando de um teto que não avançaria na classe média. Quando a pesquisa mostra que eu tenho 18% de rejeição e o Serra 16%, ela confirma que quem exerce um cargo público sempre tem alguma rejeição. O problema seria o Netinho, com rejeição de 11%, sem nunca ter exercido nenhum cargo. Quem não tem importância não tem rejeição. Meu índice hoje é menor do que o do passado. A cidade está cansada de pessoas que prometem e não executam. São Paulo pode dar um voto de confiança, talvez desgostando de algumas características minhas, a uma pessoa que sabe que pode fazer a cidade funcionar.
O empenho de Lula por uma cara nova para 2012 incomoda?
O Lula tem toda razão nessa ideia da cara nova, porque São Paulo teve suas grandes lideranças ceifadas. Poderia citar o Dirceu e o Palocci. E você não cria liderança desse porte em pouco tempo. Entendo e respeito a ideia de uma pessoa nova, mas acredito que o mais importante é termos uma pessoa com condição de ganhar e fazer bem para São Paulo. Uma pessoa que agregue forças. Vou entrar nessa campanha não só para o PT: quero agregar as forças pensantes da cidade, pare recuperá-la do abandono de planejamento em que vive. No boom econômico dos últimos oito anos todos os Estados e cidades importantes deram saltos gigantescos, enquanto São Paulo cresceu pela inércia, de tão forte que é.
Lula não estaria avaliando as eleições de uma forma mais global e a longo prazo?
Se ele estiver pensando em não ganhar a eleição, mas apenas em criar um nome novo, pode caminhar nessa direção. Eu penso em alguém capaz de ganhar e resgatar minha cidade. Tenho condições de ganhar, principalmente se o Lula me der o braço e me ajudar também. Voltando ao cenário do qual você falou no início, essa vai ser uma eleição de muitos candidatos no primeiro turno. Se tem uma candidatura que já sai com 30% dos votos, que tem 18% de rejeição, o que não é alto no contexto, e que tem uma obra para mostrar, você não põe essa candidatura fora e tenta criar um nome que está lá (no Ministério da Educação) há 7 anos e tem 3% na pesquisa. Na política funciona bastante o que é natural.
Lula definiu o nome de Dilma Rousseff. Não acha pode definir o nome em São Paulo?
O Lula tem um peso fenomenal, assim como tem mais experiência e mais tirocínio que nós todos juntos. Mas quando ele elegeu a Dilma do nada era um momento diferente. O PT não tinha candidatos. O partido estranhou no início, mas imediatamente se entusiasmou, porque a Dilma era protagonista dos programas mais importantes do Lula. Além disso, teve dois anos de mídia diária com ela debaixo do braço. Ele tinha o que falar e ela, o que mostrar. Agora, o Haddad é diferente. O Lula pode ter um peso partidário e fazê-lo candidato, mas não tem essa condição de ter a mesma repercussão midiática hoje.
Como essa questão tende a ser resolvida no PT?
O processo vai decantar as candidaturas, polarizar e, no final, a conjuntura vai determinar.
E se a conjuntura não a favorecer? Aceitaria um ministério?
Não tenho o menor interesse. Estou muito bem no Senado. A única coisa que me faz pensar em sair de lá é a possibilidade de recuperar a funcionalidade, os projetos que minha cidade está desperdiçando. Isso eu falo de coração.
Como vê a ideia de superar o impasse por meio de prévias?
Eu não tenho essa preocupação, porque, pela bagagem acumulada, eu me sinto como candidata natural. Não compete a mim falar sobre isso. Estou tranquila. Acredito no processo e na conjuntura.
Se houver prévias e o Haddad ganhar, a sra. o apoiará?
O bom senso vai prevalecer e a conjuntura vai determinar a candidatura.
Na sua avaliação, o ex-governador José Serra vai concorrer? Acredita que pode vencê-lo?
Posso confrontar qualquer candidatura com a experiência que tenho. Quanto ao Serra, é o candidato de peso e será alçado nessa disputa. Ele está muito solitário em seu partido, com dificuldades em relação a 2014. Acredito que, apesar de não ter gostado de ser prefeito, não lhe sobram alternativas. Mas ele não tem por que se apresentar agora. Pode esperar até junho.
Em sete meses o governo Dilma perdeu três ministros. Não é muita crise em pouco tempo?
Seria melhor se tivesse menos crise, mas a vida é assim mesmo. Ela está se deparando com situações e enfrentando de forma adequada. A única ponderação que faço sobre a questão é que vários programas que vem fazendo, num excelente início de governo, ficam apagados, porque coincidem com essas situações. Todo o programa que fez para a saúde da mulher, um programa que o Brasil nunca teve, só ganhou uma certa repercussão em março. Depois veio o Brasil Sem Miséria, que pode ter um impacto gigantesco, mas que também não recebeu a devida atenção. Uma das coisas que mais gosto neste programa é a busca ativa dos miseráveis, porque as pessoas muito pobres precisam mesmo ser buscadas. Isso precisa ser feito em São Paulo, mas você acha que vai acontecer? O prefeito não sai dos Jardins. E isso não quer dizer que eu tenha qualquer coisa contra o Jardins, porque moro lá.
Se a sra. se candidatar, sua vaga no senado será assumida pelo suplente, do PR.
O PR é governo. Ele saiu do bloco no Congresso, mas é governo. Ponderei essa questão. Comparei o que posso fazer no Senado com o que posso fazer na Prefeitura e concluí que vale a pena abrir mão do mandato.
*Luis Favre

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