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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 18, 2011

43 milhões de europeus sem dinheiro para comer.

De acordo com números hoje divulgados pelo Programa Europeu Alimentar, 43 milhões de europeus encontram-se numa situação de risco alimentar e sem dinheiro para pagar uma refeição. 79 milhões vivem abaixo do limiar de pobreza
43 milhões de europeus sem dinheiro para comer
Foto de Paulete Matos
A degradação da situação económica internacional, bem como a política de austeridade que tem sido seguida um pouco por toda a Europa, está a atirar cada vez mais europeus para situações extremas de pobreza.
Segundo o Eurostat, 79 milhões de pessoas vivem na Europa abaixo do limiar de pobreza e 30 milhões sofrem de subnutrição. Os programas comunitários de apoio alimentar aos mais carenciados, e que permitem fornecer alimentos que sobram dos excedentes agrícolas, têm vindo a ver o seu alcance diminuído com as sucessivas reformas da Política Agrícola Comum e o aumento do preço dos produtos agrícolas. Só este ano, 18 milhões de cidadãos de 20 países europeus beneficiaram destes programas.
Em declarações à rádio TSF, a presidente da Federação Portuguesa dos Bancos contra a Fome alertou para as consequências sociais da redução abrupta, de cerca de 20%, nas verbas do Programa Europeu de Apoio Alimentar a Carenciados.
“Se este programa desaparecer ou tiver uma redução drástica estes produtos deixam de existir e estas pessoas deixam de ser ajudadas de um ponto de vista alimentar”. “Há um conjunto de pessoas que têm graves necessidades e este programa é essencial na sua manutenção. Estamos a falar de produtos que são transformados através de matéria-prima: arroz, massa, esparguete, manteiga, leite, bolachas, cereais”, concluiu Isabel Jonet.
Recorde-se que, de acordo com os últimos números do Instituto Nacional de Estatística, sem as transferências sociais do Estado, e considerando apenas os rendimentos de trabalho e capital de cada um dos cidadãos, a taxa de portugueses em risco de pobreza nunca estaria nos 17,9 por cento registados, mas nos 41,5%.

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