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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 11, 2011

Como diz o "Nosso Guia": 'Eles ditavam regras com arrogância para nós brasileiros , mas descobriram que não sabiam nada e agora estão atolados e sem saída '

Nem Nobel enxerga saída para a crise
Os sérios problemas da economia mundial estão além da capacidade até dos laureados com o prêmio, anunciado ontem

Thomas Sargent passa por trás do colega, Christopher Sims, em entrevista: protestos revelam descontentamento  (Tim Shaffer/Reuters)
Thomas Sargent passa por trás do colega, Christopher Sims, em entrevista: protestos revelam descontentamento

A complexidade da crise mundial desafia até mesmo os vencedores do Prêmio Nobel de Economia, anunciados ontem. Para os norte-americanos Christopher Sims, da Universidade de Princeton, e Thomas Sargent, da Universidade de Nova York, a situação atual é tão grave que é impossível dar uma resposta sobre como sair do atoleiro. Os pesquisadores, que desenvolveram um modelo para análise da relação entre a política econômica e os seus efeitos práticos, admitiram ontem que seus estudos são insuficientes para solucionar os problemas que se arrastam desde 2008.

Sims foi categórico em afirmar que a situação requer estudos mais aprofundados e contribuições adicionais de outros economistas. “Se eu tivesse uma solução simples, estaria espalhando para todo mundo”, disse. Para ele, protestos como os que cercam Wall Street, a rua que concentra o mercado financeiro em Nova York, revelaram o crescente descontentamento com erros recentes da política econômica, que levaram à alta do desemprego nos Estados Unidos.

Para Sargent, que dedicou décadas à avaliação conjunta de diferentes variáveis, como Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas num ano), inflação, empregos e investimentos, os dados de hoje não permitem previsões seguras. “Somos apenas tipos formais que olham para os números e tentam entender o que está ocorrendo”, acrescentou. Seu foco de pesquisa está nas reações de pessoas e governos diante das oscilações da economia. “O pânico que está tomando a Europa em torno do euro, por exemplo, tem tudo a ver com as expectativas sobre o que outras pessoas vão fazer.”

No caso europeu, Sims ressaltou que o maior obstáculo está na falta de uma verdadeira autoridade monetária para o euro, moeda comum de 17 países. Para ele, o Banco Central Europeu (BCE) não consegue desempenhar plenamente esse papel, explicitando a fragilidade na tomada de decisões no bloco. Sargent comparou o momento na Zona do Euro ao dos Estados Unidos nos anos 1780. Naquela época, os 30 estados do país tinham larga autonomia em questões como impostos, juros, comércio e regras de endividamento. O impasse só foi superado na Constituição, fortalecendo o governo central. “Os EUA nasceram com o mesmo problema da Europa hoje”, resumiu.

Na avaliação dos vencedores do Nobel, a crise que ameaça levar o bloco europeu ao colapso sinaliza o esgotamento do modelo de Estado de bem-estar social. Prova disso seria que, diante da estagnação e da falta de recursos para pagar suas enormes dívidas, as primeiras medidas de austeridade adotadas por países como Grécia, Portugal e Espanha envolvem o enxugamento do setor público. Nesse ajuste doloroso, demissões de servidores, redução de salários e aposentadorias e até restrições na educação e na saúde foram anunciadas, com aumento de taxas e impostos.

Em entrevista na Universidade de Princeton, transmitida pelo site da instituição, Sargent destacou as recentes conquistas econômicas da América Latina. “Na década de 1980, predominava na região o problema do descontrole fiscal e da hiperinflação, que corroíam a renda da população, sobretudo as camadas mais pobres. O Brasil, em particular, foi muito afetado por esse quadro”, disse o economista, questionado pelo Correio.

Christopher Sims lembrou que a América Latina experimentou artifícios, como a dolarização da economia, que se sustentaram pela popularidade de uma moeda supervalorizada. A medida, que alcançou o auge na Argentina do presidente Carlos Menem, agravou outros problemas, como dívidas públicas e privadas, e afetou a competitividade da indústria. (Colaborou Sílvio Ribas)

» GUSTAVO HENRIQUE BRAGA

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