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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 10, 2011

EUA BOICOTARAM E BOICOTAM O PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO

VLS, feito no CTA (SP), pronto para lançamento em Alcântara (MA)
EUA BOICOTARAM O PROGRAMA ESPACIAL DO BRASIL NOS ANOS 90
Telegramas sigilosos divulgados pela ‘Folha’ revelam pressão americana sobre projeto brasileiro de foguetes. Ações dos EUA, como proibição de venda de tecnologia espacial ao Brasil, atrasaram projetos do país na área.
Por Rubens Valente, João Carlos Magalhães E Fernanda Odilla, da “Folha”
Telegramas confidenciais do Itamaraty revelam que os EUA promoveram embargo e "abortaram" a venda, por outros países, de tecnologia considerada essencial para o programa espacial brasileiro na década de 1990 [não mudaram de atitude até hoje].
Em um dos telegramas, o Itamaraty associou a ação norte-americana a um atraso de quatro anos na produção e lançamento de satélites.
O projeto ‘Folha Transparência’ divulga em seu site, a partir de domingo [9], 101 telegramas confidenciais inéditos da diplomacia brasileira, que tratam dos programas brasileiros espacial e nuclear.
A pressão norte-americana sobre o projeto espacial já foi ressaltada por especialistas brasileiros ao longo dos anos, e um telegrama do ‘Wikileaks’ divulgado em 2010 indica que ela ainda ocorria em 2009. Os documentos agora liberados permitem compreender a origem e o alcance do embargo, assim como a enérgica reação do Brasil.
Em despacho telegráfico de agosto de 1990, o Itamaraty afirmou que a ação norte-americana começara três anos antes, por meio de "embargos de venda de materiais", impostas pelos países signatários do RCTM (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis) -um esforço ‘voluntário’ entre países, de 1987, para coibir o uso de artefatos nucleares em mísseis [pretexto falso e hipócrita, que não vale para as grandes potências e Israel].
O Itamaraty incluiu o bloqueio dos EUA como um dos motivos para o atraso na entrega do VLS (Veículo Lançador de Satélites), que deveria estar pronto em 1989. O primeiro teste de voo foi em 1997.
Além do VLS, o programa espacial previa a construção de quatro satélites, dois para coleta de dados e dois para sensoriamento remoto.
O Brasil só aderiu ao acordo em 1995 [de nada adiantou; os embargos se intensificaram]. Os telegramas revelam que, um ano depois, o diretor do CTA (Centro Técnico Aeroespacial) da Aeronáutica, Reginaldo dos Santos, atual reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), informou ao Itamaraty que os EUA negaram o pedido para importar [simples e comuns] transmissores para uso em foguetes brasileiros.
O Itamaraty orientou seu embaixador em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, a manifestar "estranheza e preocupação" ao governo dos EUA. A medida dos EUA só foi revista meses depois.
José Israel Vargas, ministro da Ciência e Tecnologia entre 1992 e 1998, confirmou à ‘Folha’ as gestões dos EUA para prejudicar o programa espacial brasileiro.
"Houve sim pressão americana contra qualquer desenvolvimento de foguetes, contra nós e todo mundo [que o fizesse; exceto Israel]." Segundo ele, países avançados na área, que ajudavam outros a criar seus programas espaciais, como a França fez com o Brasil, também eram pressionados.
A Embaixada dos EUA em Brasília, quando procurada em agosto pela ‘Folha’, não comentou os telegramas do Itamaraty, mas elogiou a divulgação dos documentos.”
[COMPLEMENTAÇÃO DESTE BLOG ‘democracia&política’:
Pesquisando esse assunto na internet, compilei trechos de vários links e consolidei-os no seguinte texto, que creio complementar a reportagem da ‘Folha’:
A POSIÇÃO NORTE-AMERICANA CONTRA PROJETOS ESPACIAIS BRASILEIROS
“No final dos anos 80 e na década de 90, a crescente e forte pressão do exterior, especialmente dos EUA, contra projetos espaciais do Centro Técnico Aeroespacial (DCTA/FAB] era fato concreto, claro, documentado.
Os Estados Unidos, por diversos meios, já haviam explicitado, escrito, assinado e carimbado que não aprovavam o desenvolvimento espacial brasileiro quanto a foguetes de sondagem científicos e a lançadores de satélites. Documentos formais do Departamento de Estado daquele país isso claramente manifestavam. Até mesmo, aqueles que nos foram enviados justificando como “razões de Segurança Nacional” [sic] deles as suas negações aos pedidos do CTA de importação de rudimentares e inofensivos componentes de uso comum, “de prateleira”, que o CTA pretendia aplicar em produto espacial.
Quando esses itens eram conseguidos pelo CTA, correta e oficialmente, em outros países, alguns políticos brasileiros da base do governo demotucano, bem como a americanófila “grande” imprensa diziam, errada, acusativa e pejorativamente, e em estranha coincidência com a posição norte-americana, que a Aeronáutica estava “comprando no mercado negro”.
Pelo menos, os EUA não colocavam semelhantes obstáculos para o desenvolvimento brasileiro de satélites pelo INPE. Quiçá, porque já soubessem que ganhariam muito dinheiro com a colocação em órbita daqueles pequenos, simples e inofensivos satélites destinados à coleta de dados ambientais (SCD), cujos lançamentos certamente seriam comprados pelo Brasil (AEB) no exterior, na ausência do embargado VLS. Realmente, os EUA vieram a ganhar, e muito, no lançamento deles.
A suspeita de haver ações dos EUA, lícitas e ilícitas, contrárias aos nossos projetos de veículos espaciais fora reforçada, nos anos 80, por outro fato. Fora contratada pelo CTA uma empresa norte-americana para efetuar tratamento térmico em tubos-envelopes dos motores do primeiro estágio do foguete de sondagem científico suborbital Sonda IV. Aqueles tubos tinham sete metros de comprimento por um metro de diâmetro (idênticos aos dos seis motores, de três dos quatro estágios do VLS).
Motor do Sonda IV e do VLS (que utiliza 6 deles)
Eram feitos com inovador aço especial de ultra-alta-resistência desenvolvido pelo CTA/FAB com apoio de indústria nacional. Aço que veio a ser comercializado pela empresa brasileira que participara do desenvolvimento. Foi exportado até para os EUA fazerem trens de pouso dos aviões Boeing.
Após árduas gestões, que consumiram muitos meses, o governo dos EUA finalmente autorizou o embarque dos tubos do Sonda IV para aquele país. O tratamento térmico foi realizado e pago, mas o governo norte-americano não permitiu a restituição ao Brasil. Novamente, difíceis negociações, inclusive diplomáticas. Outros longos meses foram consumidos até a devolução.
Recebidos e testados em laboratório pelo CTA, foram descobertos defeitos primários, nos serviços feitos nos EUA no metal de relativamente muito fina espessura, que causariam explosão quando se lançasse os foguetes. Então, com o intelecto e os recursos do CTA/FAB, foi capacitada tecnológica e industrialmente uma empresa nacional para não mais dependermos dos EUA naqueles serviços. Foi projetado e construído o maior e mais moderno forno vertical do hemisfério sul para tratamento térmico em metais em atmosfera controlada.
Aquele imprevisto e outros injustificáveis embargos dos EUA retardaram o programa espacial brasileiro completo (satélite-lançador-centro) em muitos anos. Infelizmente, por culpa nossa, ocorreu posteriormente outra oportunidade perdida pelo Brasil: por falta de demanda (por restrição quase total de recursos para a área espacial nos dois governos FHC/PSDB/DEM, o estratégico e avançado forno teve que ser desativado)].
FONTE: reportagem de Rubens Valente, João Carlos Magalhães e Fernanda Odilla da Folha de São Paulo  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0910201114.htm) [imagens obtidas no Google e complentação final, entre colchetes, acrescentadas por este blog ‘democracia&política].

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