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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 17, 2011

EUA preparam terreno no Irã

 

Será que chegou a vez do Irã ser palco de uma nova operação militar do gênero realizada mais recentemente na Líbia? A Arábia Saudita e Israel, dois países fundamentalistas a sua maneira, um muçulmano sunita e outro judaico, há tempos pressionam os Estados Unidos no sentido de iniciar uma ação militar contra o regime dos aiatolás. Documentos do site Wikileaks revelam esse interesse. E então surge mais uma história estapafúrdia envolvendo a CIA, narcotraficantes mexicanos e dois agentes do regime iraniano que preparavam um suposto atentado contra a vida do embaixador saudita nos Estados Unidos.

 

O que se pergunta é qual exatamente seria o interesse do regime iraniano em assassinar um representante saudita exatamente nos Estados Unidos e ainda por cima em um restaurante, o que provocaria vítimas civis? Mas antes mesmo de esclarecer o fato, que não se sustenta, diga-se de passagem, a Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton sai em campo para convencer os mesmos governos de sempre a adotarem mais represálias contra o Irã.

 

O Pentágono não fez por menos. Segundo declarou um dos porta-vozes, George Little, “o objetivo por enquanto é seguir impondo uma pressão financeira e diplomática sobre os iranianos". Ressalta-se o “por enquanto”, pois o resto vai depender de como as autoridades estadunidenses conseguirem convencer os demais governos no episódio.

 

A União Europeia segue o mesmo diapasão dos EUA e a mídia de mercado de todos os quadrantes do mundo dá o maior destaque ao suposto preparativo do atentado. A notícia é espalhada pelo mundo como se fosse uma verdade absoluta, praticamente sem contestação, apesar do desmentido veemente do governo de Mohamed Ahmadinejad. O dirigente iraniano não só negou como ainda assinalou que “assassinato é coisa de vocês"(estadunidenses).


Cria-se o clima propício para o Ocidente, com o apoio de monarquias do Golfo que abrigam bases militares dos EUA, como Bahrein e a própria Arábia Saudita, a aumentar a demonização do regime iraniano.

 

Não é de hoje que os serviços secretos dos EUA, de Israel e da Arábia Saudita estão mobilizados na cruzada para preparar o terreno no sentido de ampliar as represálias contra o Irã e até mesmo em determinado momento iniciar uma ação militar com a colaboração inestimável da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

 

Para que isso aconteça é necessário criar fatos. Todas as recentes ações militares dos EUA foram precedidas de denúncias que geralmente depois não se comprovaram, como no caso do Iraque e mais recentemente da própria Líbia.

 

A propósito deste país do Norte da África, as batalhas continuam em Sirte e Bani Walid, que o Conselho Nacional de Transição (CNT) havia anunciado que estavam praticamente controladas por suas forças. Os fatos demonstraram que as informações não passavam de uma estratégia de manipulação midiática.

 

Neste mesmo contexto insere-se o fato mais recente da prisão de um dos filhos de Muammar Kadhafi. Os opositores de Kadhafi em um primeiro momento anunciaram com toda a pompa a prisão em Sirte de Muatassim Kadhafi e complementaram informando que ele estava sendo conduzido para Benghazi. Nenhuma foto foi apresentada e horas depois a notícia foi desmentida. Repetiu-se a história de outro filho, Seif al-Islan Kadhafi, que tinha sido anunciado como preso e posteriormente apareceu conversando tranquilamente com jornalistas que se encontravam em Trípoli.

 

A Anistia Internacional acusou o CNT de desrespeitar os direitos humanos com a prisão indiscriminada de 2.500 homens das forças de Kadhafi. Mas isso pouco importa à OTAN, que com o tempo vai criar o seu primeiro protetorado na África. É tudo uma questão de tempo.

 

Em relação ao ex-presidente George W. Bush, os seus crimes cometidos durante dois mandatos presidenciais não foram esquecidos. Tanto assim que a Anistia Internacional (AI) pediu às autoridades canadenses para prendê-lo e processá-lo judicialmente por crimes cometidos contra o direito internacional. A Anistia entende que isso poderá ser feito quando o ex-presidente estadunidense estiver no Canadá na próxima quinta-feira (20).

 

No entender de Susan Lee, diretora da Anistia para a região das Américas, “o Canadá deve cumprir as suas obrigações internacionais e prender e processar judicialmente o ex-presidente Bush, dada a sua responsabilidade em crimes contra o direito internacional, incluindo tortura”.


As acusações estão relacionadas com um programa secreto da CIA, aplicado entre 2002 e 2009, que segundo a AI permitia contra os detidos o uso “de tortura e de outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes”.

 

No mais, na próxima quarta-feira (19), dentro das atividades da Semana de Democratização da Mídia, de 17 a 21 de outubro, entidades dos movimentos sociais estarão promovendo a faxina da calçada de TV Globo, a partir das 14 horas, na rua Von Martius, no Jardim Botânico, em protesto contra a manipulação da informação produzida pela emissora.

Mário Augusto JakobskindÉ correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE Direto da Redação.

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