Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 08, 2011

 

Músicas de Chico Buarque ajudam a estudar período da ditadura

Neste ano, faz quatro décadas do lançamento do disco Construção, de Chico Buarque. Em meio a um dos períodos mais duros do regime militar, o álbum ficou famoso por consolidar a posição crítica do compositor, seja com músicas claramente referentes à repressão daqueles anos, como Cordão, ou outras com associações mais implícitas, como Cotidiano.
Segundo o professor de Literatura da unidade Tamandaré do Anglo, Fernando Marcílio, antes deste quinto disco, o autor já vinha manifestando suas preferências políticas e incomodando a censura. "O mais importante é destacar que as canções de Chico vão além da questão da ditadura. Mesmo aquelas letras que se referem explicitamente ao regime militar", diz o mestre em teoria literária, cuja dissertação analisou a obra do artista.
Nessa linha, as letras daquela época podem ser facilmente transpostas para a atualidade. "Elas captam o essencial da ditadura, a repressão, e devem ser usadas para compreender não só aquele episódio, mas as relações humanas. Eu posso ser opressor com minha esposa, seu chefe pode ser com você, assim como muitas pessoas o são com os homossexuais", cita. Para o professor, Chico Buarque não deve ser reduzido à imagem de "cantor da ditadura". "Já ouvi dizerem que, se não fosse a ditadura, Chico não teria inspiração, que teria sido bom para ele. Longe disso, a censura o impediu de trabalhar muitas vezes", comenta.
Mesmo ainda atuais, as músicas e peças de teatro do autor carioca podem ajudar estudantes a entender melhor o que significou o período que sucedeu o Golpe de 64. A seguir, conheça mais sobre o contexto de 10 obras de Chico Buarque.
Apesar de Você
Para o professor, a mais evidentemente canção de Chico Buarque referente à ditadura é Apesar de Você. Lançada inicialmente em 1970, em um compacto, foi censurada logo depois. Entendida inicialmente como uma canção de amor, como se um dos amantes tivesse abandonado o outro ("Apesar de você / Amanhã a de ser outro dia"), na realidade, a letra falava da ideia de um novo amanhã, que superasse os dias escuros da ditadura ("A minha gente hoje anda / Falando de lado / E olhando pro chão, viu / Você que inventou esse estado / E inventou de inventar / Toda a escuridão").
A música marca o momento em que a censura começa a ficar mais atenta à obra de Chico. "Esta letra tem uma dimensão utópica, sentimento que aparece em outras canções do autor", explica o professor. Em 1978, no álbum Chico Buarque, a música, já liberada, foi lançada outra vez. "Chico a relançou meio a contragosto. Estava preocupado que fosse passada a imagem de que estava tudo bem, o que não era verdade. Além de não fazer mais sentido lançar uma música fora do contexto em que foi escrita", observa.
Cálice
Mais uma música censurada. Mas, diferentemente de Apesar de Você, Cálice foi proibida antes de ser lançada. Composta em 1973, ao ser submetida à censura federal, pela qual deviam passar todas as letras, livros e textos e montagens de teatro, foi barrada e só pode ser divulgada em 1978, também no álbum Chico Buarque. "Gilberto Gil teve a ideia de usar a passagem bíblica, mas foi Chico quem percebeu que a sonoridade que se igualava à expressão 'cale-se', uma referência clara à censura da época", conta Marcílio.
O fato de submeter toda produção artística à censura representava, no caso das obras barradas, um investimento jogado fora, especialmente para peças de teatro, que tinham que apresentar suas montagens completas a um homem do governo.
Construção e Cotidiano
Essas duas canções fazem parte do álbum Construção, de 1971, e suas letras tem referências menos diretas à ditadura militar. A primeira conta a história de um trabalhador da construção civil que morre no local onde trabalhava. "A situação desse trabalhador é de angústia, ele é oprimido pela ditadura econômica, que também assolava o país na época", explica o professor.
Na segunda, diz Marcílio, "a letra descreve o dia a dia de um casal, em uma referência implícita à repressão do governo, na medida em que mostra um cotidiano opressivo".
Cordão e Quando o Carnaval Chegar
Cordão é uma canção do disco Construção com referência clara à ditadura, especialmente em versos como "Ninguém vai me segurar / Ninguém há de me fechar". Assim como Apesar de Você, tem o caráter otimista de um futuro melhor. "Nesta música, Chico prega a resistência, através da união, do 'imenso cordão' que ele cita na letra", observa o professor. O mesmo anseio por dias melhores aparece em Quando o Carnaval Chegar, música trilha do filme homônimo em que Chico atua. "Aqui também há referência a esse dia de amanhã, um dia em que a liberdade seria restaurada e triunfaria", diz o professor.
Deus lhe Pague
Em Deus lhe Pague, também do álbum Construção, Chico se vale da ironia para criticar a situação repressiva em que os brasileiros viviam durante o regime militar. É como se ele agradecesse ao governo por permitir ao cidadão realizar atos básicos, como respirar. "Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir / A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir / Por me deixar respirar, por me deixar existir / Deus lhe pague" são alguns dos versos. Confira as músicas do álbum no Sonora.
O heteronômio Julinho de Adelaide
Já conhecido da censura, Chico Buarque tinha suas músicas proibidas só por levarem sua assinatura. Para driblar isso, ele criou um personagem, Julinho Adelaide, que assinou três músicas suas. Em Acorda Amor, um sujeito acorda no meio da noite e pede para sua mulher chamar o ladrão porque a polícia tinha chegado. "Ele inverte a situação, porque o perigo naquela época era a polícia entrar na sua casa e lhe prender", explica o professor de Literatura, também historiador. Trata-se de mais uma manifestação da ditadura, a perseguição policial.
Em Jorge Maravilha, há referência a situações que, segundo o professor, não se sabe se são verdadeiras ou não. Os versos "você não gosta de mim, mas sua filha gosta" teriam origem em uma das vezes em que Chico foi preso e o policial teria pedido autógrafo, dizendo que era para a sua filha. "Tem também a história de que a filha do então presidente Ernesto Geisel teria declarado ser apreciadora de Chico. Não sei dizer se é verdade, acho que a questão é mais simbólica, como quem diz 'você, governo, não gosta de mim, mas o povo gosta'", opina. Confira as músicas do álbum no Sonora.
Calabar - O Elogio da Traição
Esta peça de teatro de autoria de Chico e Ruy Guerra foi proibida pela censura. O título cita um personagem histórico que existiu durante o Brasil imperial e que ficou tachado como traidor por ter se oposto à coroa portuguesa. "O personagem nem aparece na peça, que acaba girando em torno de opções ideológicas e discutindo o que é ser patriota através do questionamento desta traição. Calabar só poderia ser considerado traidor sob o ponto de vista de Portugal, que era, por sua vez, um invasor. Ou seja, trair um invasor não seria um problema, assim como trair um governo que é opressor", compara o professor.
Na época, os jornais não podiam nem noticiar a censura da peça. As músicas da trilha liberadas foram lançadas em um álbum chamado Chico Canta. Era pra ser Chico Canta Calabar, mas o nome do personagem histórico também havia sido proibido.
Por: Terra

 

Dilma diz que paz mundial depende de mudanças na ONU

 

A presidente Dilma Rousseff defendeu, nesta sexta (7), na Turquia, que brasileiros e turcos se unam em favor de reformas de instituições financeiras e econômicas internacionais. Segundo ela, a consolidação da democracia e da paz depende de mudanças no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Dilma criticou ainda "políticas monetárias excessivamente expansionistas" adotadas por alguns países, diante da crise.

"O Brasil e a Turquia podem contribuir no G20, por exemplo, para o prosseguimento das reformas nas instituições econômicas e financeiras internacionais, aumentando a participação de nossos países nas decisões que afetam diretamente nossos povos", disse a presidente, no Fórum Empresarial Brasil-Turquia.
De acordo com a presidente, os dois países devem pressionar "por resultados concretos que superem a imobilidade política das lideranças". Segundo Dilma, Brasil e Turquia sofrem com as políticas monetárias do mundo desenvolvido.
"Como países emergentes, somos afetados pelas políticas de reação dos países desenvolvidos à crise, notadamente à expansão monetária, praticada por alguns bancos centrais, que levam a uma espécie de guerra cambial. Isso compromete os valores das nossas mercadorias", afirmou.
Em seguida, a presidente acrescentou que essas “políticas monetárias excessivamente expansionistas têm sido remédio privilegiado que as economias mais desenvolvidas têm buscado nos últimos tempos e têm como efeito secundário a valorização artificial” de moedas.
Manifestando preocupação com o momento pelo qual passa a União Europeia, Dilma defendeu uma “saída rápida da crise” por meio da busca de maior estabilidade econômica.
Depois de se reunir com o presidente turco, Abdullah Gul, e o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, ela defendeu mais uma vez a criação de um Estado da Palestina, como direito de convivência pacífica com os israelenses. Dilma disse ainda que o fim dos conflitos nos países muçulmanos depende da atuação da comunidade internacional.
“Defendemos o aprofundamento da democracia, a defesa da democracia e dos direitos humanos”, afirmou. “Possuímos uma visão própria sobre a tensão (em países muçulmanos)”, alertou ela. “Há uma nova geopolítica no mundo.”Para a presidente, é fundamental ampliar a atual estrutura do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que é formado por 15 membros – cinco fixos e dez provisórios. O governo brasileiro negocia para que uma futura reforma amplie os assentos atuais garantindo um posto fixo ao Brasil, que é membro rotativo até dezembro.
Como fez no mês passado, na 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, Dilma declarou que o Brasil apoia os esforços dos palestinos na criação de um Estado da Palestina.
Segundo ela, apenas dessa forma será possível conquistar a paz entre palestinos e israelenses. “Sem uma solução para o povo da Palestina também não haverá solução para o povo de Israel”, disse.
No discurso, a presidente destacou também as semelhanças entre os povos brasileiro e turco, formados por diversas etnias. Ela lembrou que há muitos brasileiros de descendência turca. Segundo Dilma, os laços sanguíneos contribuirão para incrementar as relações entre Turquia e Brasil.
A presidente ressaltou que sua expectativa é que Brasil e Turquia atinjam US$ 2 bilhões em 2011 nas relações comerciais. Os governos dos dois países firmaram acordos de parcerias para a transferência de presos e auxilio jurídico.
Ancara anunciou a visita de uma missão de empresários da construção civil ao Brasil para o próximo mês. A presidenta convidou os empresários turcos do setor a participarem das obras de infraestrutura da Copa do Mundo de 2014.
Por: Vermelho
*Carcará

Nenhum comentário:

Postar um comentário