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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 01, 2012

Greve das universidades federais é o momento para cobrar transformação da universidade

Greve das universidades federais é o momento para cobrar do governo transformação da universidadeO Brasil vive um momento de rediscussão da sua política educacional. Enquanto o governo tenta aprovar no Congresso Nacional, um Plano Nacional de Educação (PNE) que vai de encontro as reivindicações de estudantes, trabalhadores e docentes brasileiros, para além de não tocar absolutamente nos pontos fundamentalmente críticos da nossa educação (investimento, aumento das vagas gradativos até o livre acesso, aumento no número de bolsas). Enquanto isso, nas universidades, os estudantes tem protagonizado lutas importantes na busca por seus direitos fundamentais. E não foram pequenas as manifestações, ocupações de reitoria, de bandejões, passeatas e greves que se desenrolaram nos últimos anos entre os estudantes brasileiros.
As universidades brasileiras estão numa encruzilhada quanto ao seu papel na sociedade. Hoje, apenas 15% dos jovens em idade universitária estão nas universidades, destes, 85% estão matriculados em instituições privadas, que extorquem todos os meses os estudantes para que tenham acesso a um direito garantido pelo artigo 205 da constitução brasileira que diz que a educação é direito de todos e dever do Estado. Mas que direito é esse que se tem que pagar por ele?
Além disso, faltam bolsas de permanência nas universidades federais, onde existem residências universitárias, estas tem poucas vagas e condições estruturais precárias, os bandejões ou são caros, ou são insalubres, ou são os dois, não existe uma política clara para a questão das matrizes curriculares, sendo as mesmas aprovadas sem nenhuma participação estudantil e ainda por cima, a remuneração dos trabalhadores e docentes, pelo importante papel que cumprem na sociedade é baixa e defasada.
Neste sentido, as ADs (Associação dos Docentes) de dezenas de universidades federais (eram 43 até o lançamento desta nota) decretaram greve por tempo indeterminado por que os canais de negociação com o governo estão fechados. Em nota oficial o ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes) afirma que “O quadro é muito diferente do que o governo noticia. Existem instituições sem professores, sem laboratórios, sem salas de aula, sem refeitórios ou restaurantes universitários, até sem bebedouros e papel higiênico, afetando diretamente a qualidade de ensino”.
Sem dúvida, também é de importância fundamental na reivindicação dos docentes, as melhorias nas condições de trabalho nas universidades. A exigência cada vez maior pela publicação de artigos e a falta de laboratórios, condições adequadas e remuneração insuficiente, faz com que o índice de depressão e estresse entre os docentes creça assustadoramente.
Entendemos que uma educação de qualidade e socialmente referenciada passa necessariamente por valorização do docente, enquanto facilitador da construção de um conhecimento libertador, uma ciência & tecnologia independente e uma universidade democrática e popular. Não é possível que o mesmo governo que destina todos os anos quase R$ 700 bilhões para o refinanciamento da dívida pública, diga não ter recursos para melhorar a situação das universidades e atualizar a remuneração dos professores.
Por isso, os estudantes precisam integrar essa greve dos docentes, na sua agenda de lutas que já vem sendo desenvolvida há tempos nas universidades. Onde houver conjuntura e mobilização suficiente, é preciso organizar greves estudantis com a pauta que já vem sendo desenvolvida em cada universidade. É urgente organizar jornais, blogs, panfletos, vídeos que dialoguem com o conjunto dos estudantes, no intuito de aumentar a mobilização e também para não deixar que a imprensa conservadora e o governo coloquem a culpa da falta de aulas e do trancamento das universidades nos docentes, pois se existem todos esses problemas nas universidades, com certeza não é culpa nem dos estudantes, nem dos trabalhadores, nem dos docentes.
Yuri Pires, 1º vice-presidente da UNE
*Averdade

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